Capítulo 1

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POV NATHAN

Eu estava exausto depois de mais um show cansativo. Além dos acessores habituais que insistem em me perturbar, havia uma nova estagiária. Ela era o tipo de fã louca, apaixonada, irritante e cansativa. Ela chorou quando me viu e só tinha olhos para mim, completamente indiferente aos meus amigos, Paulo e Caíque. Ela me abraçou tão forte que me derrubou no chão, deixando marcas de batom por todo o meu corpo e um olho quase roxo. Não foi legal.


Eram sete da manhã e estávamos presos no trânsito de São Paulo, em uma área quase deserta. Estávamos nos mudando para um prédio naquela região e eu já tinha um motivo concreto para não estar feliz com isso. Paulo estava debruçado sobre o volante, impaciente e cansado. Eu deveria acordá-lo se o trânsito fluísse, mas eu também estava quase dormindo. Caíque dormia no banco de trás, roncando alto o suficiente para me impedir de dormir.


Finalmente, depois de alguns minutos, o carro se moveu uns seis metros e começamos a ouvir gritos formando uma só voz. Era uma manifestação e o trânsito estava completamente parado. Eu não conseguia entender o que eles estavam dizendo, mas dava para sentir a determinação deles.


- O que é esse barulho? - perguntou Caíque, despertando no banco de trás.- Parece ser uma manifestação - respondi, olhando para os cartazes sendo erguidos.- Isso explica o trânsito - comentou Paulo.- Já estamos chegando? - perguntou Caíque.- Faltam alguns quilômetros, mas parece que vamos demorar horas para chegar - respondi, olhando para o GPS no meu celular.


Não havia nada que pudéssemos fazer além de esperar no trânsito infernal e com o barulho chato dos manifestantes.


POV BEATRIZ

"Não acredito no que estou fazendo por uma amiga! Consegui um emprego de babá e agora estou levando o John para uma manifestação. Tudo bem, é como a Lari disse: é bom que ele aprenda a lutar por seus direitos, mas ele deveria estar aprendendo isso com a mãe dele, não comigo. Eu corri o risco de perder meu emprego por causa disso, mas também corri o risco de perder minha melhor amiga. Entre perder o emprego e a amizade, prefiro não perder nenhum, mas se for EXTREMAMENTE necessário, prefiro perder meu emprego.


Minhas mãos estão grudadas nas de John. No meio da multidão, ele poderia se perder facilmente e eu não posso permitir isso. O trânsito está horrível e estou imaginando a dificuldade que seria sair daqui. Os manifestantes ocuparam uma faixa inteira de uma das partes mais tranquilas de São Paulo.


- Bea - o pequeno cutuca minha perna com seu dedo pontudo - , eu preciso fazer xixi.


O que eu vou fazer com essa criança? John tem uma bexiga altamente sensível. Se alguém passar bebendo algo, se ele ver uma poça d'água ou algo do tipo, ele vai querer fazer xixi imediatamente.


- Não dá para ir agora, John. - olho para seus olhos verdes claros. - Você consegue esperar um pouco mais? Voltaremos para casa em breve.- Não, Bea, não dá! - ele força a voz, tentando engrossá-la, mas sua voz acaba ficando rouca.


Olho para os lados procurando um lugar onde ele possa se aliviar. Puxo-o pela mão e atravessamos rapidamente a pista. Encontramos um terreno baldio e é ali mesmo que ele se alivia.


Decido não voltar para a multidão e ligo para Lari, avisando que vou levar John para casa. Ela fica chateada, mas concorda que é a melhor opção. Entramos em uma rua que está vazia em relação à pista e outras ruas.


- Quando chegarmos em casa, posso jogar bola? - John pergunta com os olhos brilhando.


A mãe dele o obriga a fazer vários cursos e esportes, achando que isso é melhor para que ele tenha uma boa profissão como seus pais. Eu acho que só deixa o menino cansado e paranoico, mas quem sou eu para dizer algo? De todos os esportes e cursos que ele faz, o que ele mais gosta é futebol. Mesmo sendo baixo, tendo pernas curtas e sendo muito jovem, ele joga bem demais. Ele diz que um dia será o rei do futebol, assim como Pelé.


- Em casa não, mas na quadra pode. Na última vez, você quebrou o vaso de cinzas da sua avó! - John balança a cabeça e rimos. - Me dá a mão, vamos atravessar.


O menino agarrou minha mão e fixou os olhos em um cachorrinho do outro lado da rua. Era um chow-chow lindo, enorme, cuja altura sentado era exatamente a mesma das pernas de seu dono loiro que usava óculos escuros espelhados. Sua língua roxa para fora da boca me causava arrepios - uma mordida dele e eu estaria em apuros.


- Olha, Bea! - ele soltou minha mão e correu na frente de um carro preto.- John! - gritei correndo para atravessar a rua atrás do menino.


POV NATHAN

Enquanto Paulo dirigia finalmente em uma rua sem trânsito, Caíque limpava o nariz com o dedo indicador.


- Nossa, Caíque, isso é nojento!. - antes que ele pudesse responder, o carro freou bruscamente, me fazendo segurar no painel, Paulo bateu com a cabeça no volante e Caíque caiu do banco.

 Olhei para Paulo, seus olhos azuis pareciam prestes a saltar do rosto. Pensei: "Será que acabamos de atropelar alguém?"

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