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Jaebeom começava a achar que a ideia de ter ido fazer uma surpresa para alguém ter que ele ao menos sabia o apartamento tinha sido idiota. Mas de algum modo, a sorte estava do seu lado, pois quando se preparava para bater no apartamento errado, ouviu a voz de Youngjae.

Ele não precisava sair correndo no meio da noite e arriscar seu sossego ao deixar sua mãe sozinha sem aviso nenhum, aquilo não era nem de longe uma emergência real. Ele apenas não conseguiu se conter em casa tendo finalmente algo que o faria ter a agradável companhia do mais novo mesmo que por uns poucos minutos.

Youngjae o deixava tão leve. Aquela pose reclamona e pessimista na qual ele se descrevia não passava de exagero. Ele era alguém bondoso, de sorriso fácil, dono de uma aura inevitavelmente alegre. Ele almejava coisas normais, se encantava com detalhes que passavam despercebidos para a maioria das pessoas, e falava sem pensar nas consequências. Ele era fácil de se decifrar, ele era simples.

E no meio de um mundo cheio de extravagâncias que Jaebeom estava habituado, a simplicidade de Youngjae era cativante.

Trocaram umas palavras e Jaebeom soltou institivamente um elogio, uma mania que lhe tirava dos eixos constantemente. Era tarde demais pra fingir que não havia dito nada, então ele apenas deu um sorriso sem graça, alternando o olhar para o relógio no pulso para disfarçar o silêncio momentâneo.

O mais velho sorria sem ter a mínima ideia de como o ato desestabilizava o outro. E se soubesse, seu sorriso aumentaria mais.

E foi o que fez, após se despedir e ouvir a voz abafada do que ele supôs ser o colega de quarto de Youngjae, o repreender dizendo que ele já estava apaixonado.

Apaixonado.

Ao contrário da maioria, Jaebeom não tinha medo de se apaixonar. Não negava o quanto aquilo lhe causava problemas, mas não desejava mudar. Preferia não guardar as mágoas de seus relacionamentos, vendo-as como experiências malsucedidas, como o garoto do ensino médio que lhe jurou a eternidade numa manhã, e a tarde fez as mesmas juras para uma garota. Ou como sua primeira namorada que lhe dispensou com um simples "enjoei de você". E mais recentemente, Inhyung, que lhe largou no altar. Jaebeom se negava a dar o poder de qualquer um de seu passado de mudar seu jeito de ver o mundo. Ainda doía, mas ia passar.

Era cedo para nomear a afeição que tinha por Youngjae, e para o bem dos dois, ir devagar era a melhor escolha.

Após uma semana e alguns dias da fracassada cerimônia de casamento, o moreno decidiu voltar ao trabalho. Lá teria como ocupar sua mente ociosa que volta e meia lhe pregava peças, como por exemplo, sonhar com sua ex. Ele era publicitário e gostava de sua profissão, almejava-a desde que fora apresentado ao assunto, há exatos 7 anos atrás. Criar era um hobby, e ser pago por fazer algo que lhe relaxava e que realmente gostava de fazer era maravilhoso.

Se olhou no espelho uma última vez, de repente apreensivo com o tratamento que iria receber no local de trabalho. Para sua infelicidade, uma boa parte dos seus colegas de trabalho foram convidados de seu casamento. Ele pensou em desistir de voltar ao trabalho ao ter essa lembrança, mas olhou no relógio que marcava oito da manhã em ponto. Não. Jaebeom não iria se acordar antes das dez da manhã de uma segunda feira pra desistir na porta de casa.

— Coragem, cara. Você é um homem ou o quê? – Questionou seu reflexo.

Suspirou algumas vezes, e seguiu rumo ao trabalho. Mark trabalhava consigo e isso o acalmava um pouco, mesmo que não fosse no mesmo setor, poderia fugir e pedir um ombro amigo. Adentrou o prédio colorido da agencia e seguiu de cabeça baixa até sua mesa, evitando qualquer contato visual com quem quer que fosse.

— Bem-vindo de volta. – Moonbyul o recepcionou colocando uma caneca de café em sua mesa. — Achei que não viria tão cedo.

Moonbyul era uma colega de trabalho que Jaebeom tinha uma certa afinidade, mesmo não mantendo contato fora da agência, era uma amizade a ser prezada. Eles sempre se ajudavam quando o maldito bloqueio criativo resolvia fazer uma aparição.

— Ficar em casa não estava me ajudando em nada – suspirou pesadamente e tomou um gole do café.

— Eu imagino. Se ocupar é melhor mesmo, e olha, trabalho é o que não falta por aqui. – A loira soltou uma breve risada. — Bom, tem uma reunião marcada com o pessoal agora, acho melhor você vir pra ficar a par do que a gente tem que fazer.

— Tudo bem.

Realmente havia muito trabalho acumulado a ser feito, dentre comerciais para restaurante à de lojas de roupas. A mais urgente – e trabalhosa – a ser feita era a campanha de dia dos namorados de uma marca famosa de perfumes. Jaebeom se ofereceu para tomar conta da última recebendo olhares incrédulos dos presentes.

— Você tem certeza que quer essa? – Seu chefe o questionou novamente. — Você podia ajudar na identidade visual para aquele restaurante.

— Tenho. – Respondeu firme. — Os acontecimentos recentes não afetaram minha capacidade profissional.

— Okay então. Encerramos por hoje pessoal. Vão e tragam as melhores ideias. – O chefe finalizou a reunião. — Jaebeom, espera. Já que você resolveu focar no trabalho, vou te passar uma nova tarefa. Nós contratamos uns estagiários pra preencher as cotas e eu quero que você fique responsável pelo do setor criativo. Ele pode te ajudar nessa campanha.

— Eu treinando alguém? Tem certeza que é uma boa ideia? – Jaebeom não era lá uma pessoa paciente.

— Confio em você – o senhor justificou, enquanto dava um leve tapa em suas costas.

Jaebeom se dirigiu de volta ao seu lugar distraído ao ler os papeis com o breefing do cliente. Por instinto, salvou seu café de cair no chão quando alguém esbarrou na mesa a fazendo estremecer.

— Ai meu deus! Mil desculpas! É que eu tô atrasado, peguei o ônibus errado e ainda tropecei nessa caixa ali. Não existe ninguém mais azarado que eu! – a pessoa começou a falar tão rápido que mal tinha espaço pra respirar. Quando finalmente o encarou, se calou, arregalando os olhos. — Jaebeom? Que que cê tá fazendo aqui?

— Eu trabalho aqui, Youngjae. – Respondeu, já dando um daqueles sorrisos que faziam Youngjae ficar sem jeito.

— Sério? Eu também! Quer dizer, hoje é meu primeiro dia e tal... E eu já chego pagando micão. — Passou a mão pelos cabelos, demonstrando nervosismo. — Vou estagiar aqui.

Jaebeom sorriu consigo mesmo, pensando em como o mundo era pequeno. Ou talvez em como sua intuição era correta. — Ah, então nesse caso, acho que vamos ser parceiros. – ofereceu um aperto de mão.

i do ♡ 2jaeOnde histórias criam vida. Descubra agora