Mary (Concreto armado eu te amo!)

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Depois de entrar no avião e me acomodar no assento, meu celular começa a tocar.

Mamãe.

-Olá Senhora Glória. –Digo com tom brincalhão.

-Mary! Retire esse 'senhora' da sua frase. Tu sabes que eu não gosto que me chamem assim, parece que tenho 40 anos! –Diz ela bufando com o seu forte sotaque português. Não consigo esconder o sorriso.

-Mas a senhora não tem essa idade? –Digo já sabendo a resposta. Consigo até imaginar o carão que ela está fazendo agora.

-Mary Gonsalves de Lima Souza! –Odeio quando ela fala meu nome todo. –Eu tenho 39 e meio! É muita diferença!

-Ta bom mãe, relaxe, só estava brincando.

-Você já está no avião, querida? –Pergunta mais calma.

-Sim, devo chegar ai –Olho para o meu relógio que marcava 23:30 –10 da manhã. – Digo e escuto um estrondo.

-EI, TENHA CUIDADO COM ESSA ESCULTURA! FOI CARA! ESTOU A PASSAR-ME COM VOCÊ! –Minha mãe grita do outro lado.

-Está tudo bem por ai?

-Oh sim querida, desculpe-me. Tem alguém que quer falar com você.

-Maryyyy. –Escuto o grito de minha irmã.

-Oi my little princess. Como estás?

-Estou triste, com saudades sua. –Diz Amélia com voz manhosa.

-Eu também estou, mas logo vamos nos ver. E estou levando um presente pra você. –Digo e já vejo o seu enorme sorriso.

-Obaaaaa, presenteee. O que é? O que é? –Pergunta curiosa.

-Eu não posso dizer, é surpresa. –Escuto a voz robótica da aeromoça dizendo para desligarmos o celular. –Amélia, eu vou ter que desligar tá bom? Diz pra mamãe que eu a amo.

-E eu? Você não me ama? –Diz decepcionada.

-Claro que eu amo.

-Que bom, eu também. Tchau Mary, boa viagem.

-Tchau Amélia, obrigada. –Digo e desligo o celular.

Ao meu lado, estava sentada uma jovem muito bonita com cabelos castanhos e pele branca. Ela olhava animada para a janela, parecia uma criancinha andando pela primeira vez de avião. Em cima de sua perna havia um livro que já tinha visto em livrarias.

Puxei assuntos e começamos a conversar. Ela se chama Misaki, é muito divertida e animada, me fez esquecer meus problemas e meu perturbador passado.

Seu sorriso é admirável e fabulosamente sexy.

Seus olhos são incrivelmente castanhos e bonitos, só com o seu olhar ela consegue tirar um sorriso bobo de meu rosto. Eu estava com borboletas no estômago, e não era por conta da decolagem. Jamais havia me sentido assim, desde....Emma.

Contei para Mei um pouco sobre meu passado e de como me sentia em Ribeirão da Ilha, bateu-me uma saudade, e logo as lágrimas surgiram. Ela me acolheu em seus braços, e eu nunca me senti tão protegida com um simples ato.

Seu abraço era acolhedor.

Afável.

Protetor.

Amável.

Lembrei-me dos abraços de meu pai. Eu me sentia exatamente assim, era aconchegante.

Começamos a falar sobre signos. Signos. Ai está um assunto do qual gosto de saber sobre, mas não acredito em nada. Ela começou a me explicar sobre as luas, falava com tanta certeza e convicção que me encantava.

-Então quer dizer que se o meu Mercúrio é em Aquário, eu tenho um jeito diferente de dizer as coisas? – Pergunto arqueando uma sobrancelha. Isso não entra em minha cabeça, estava achando tudo muito engraçado e um absurdo.

Conversamos um pouco mais e noto sua expressão cansada e seus olhos começando a ficar com um tom avermelhado. Eu também estava começando a ficar com sono, mas sabia que não adiantaria de nada dormir, já que fiz a incrível burrada de esquecer meu remédio na bagagem que despachei.

Bocejo.

Resolvemos irmos dormir, no meu caso tentar dormir, lhe dei boa noite. Desligou as luzes e se aconchegou na poltrona.

Encosto minha cabeça na costa da poltrona, fecho os meus olhos, dou um sorriso e suspiro. Irá ser uma longa madrugada. Para tentar me distrair um pouco, pego o meu livro de engenharia civil, "Concreto armado eu te amo", e começo a devorar palavra por palavra.

'O princípio de ação e reação é aplicável a todas as estruturas recebendo cargas e que...'

-Com licença –Paro a minha leitura e olho para o lado. Vejo uma aeromoça com o carrinho de comissária de bordo. –Boa noite senhorita, desejaria algo para comer? –Pergunta.

-Oh Boa noite, sim. Você pode me dar uma xícara de chocolate quente, por favor?

-Claro. –Ela despeja o líquido quente dentro do recipiente –Aqui está. –Me entrega a xícara.

-Obrigada. –Sorrio.

-A sua namorada vai querer alguma coisa? -Aponta para a moça ao meu lado. Fico extremamente vermelha e constrangida. Ela logo percebe. -Oh, desculpe-me, é que o jeito que vocês se olham e a forma como as duas interajam... -Ela tentou se explicar, envergonhada -Não que eu fique prestando atenção na conversa dos passeiros ou algo assim - Faz um gesto com a mão - Mas é que...bom, me desculpe, vocês me chamaram atenção por conta do entretenimento e do amor que pareciam transparecer. 

-N-não se preocupe, está tudo bem. -Falei tentando esconder minha vermelhidão e acalmar, não só a mim, mas também a senhora a minha frente. 

-A senhorita aceita alguns biscoitos para acompanhar? –Pergunta tentando mudar o clima e estende-me um prato com biscoitos recheados.

-Sim, obrigada –Pego o pratinho.

-Deseja algo a mais?

-Não, obrigada.

-Por nada, boa noite e desculpe mais uma vez. 

Ela se retira indo adiante, e eu continuo com minha leitura, tomando o delicioso chocolate quente, mas não consigo me concentrar em mais nada, a não ser no que a senhora acabará de dizer. 

Decido guardar os biscoitos para Misaki quando acordasse.

Passam-se algumas horas e escuto algo caindo.

-Merda! –Murmura Mei procurando algo na bolsa.

O destino ao nosso lado(Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora