O clima de tensão estava no olhar de todos eles. Quanto mais pensavam, mais divididos estavam, deveriam ou não ir embora? Dois ônibus já tinham passado e nem Lucio, nem Pedro chegaram. Quanto mais escuro ficava, mais pessoas saiam da trilha para suas casas.
- Eu vou andar. Alguém quer andar? - Ofereceu Igor quebrando o silêncio mórbido.
- Andar? Tipo para o acampamento? Ou por ai?- Perguntou Jorge.
- Por ai. Vamos?- Sem esperar respostas, ele simplesmente levantou e foi.- Estou indo.
- Só não se perde!. - Gritou Fred.- Como se perder também né? É só uma reta
- Relaxa, o Igor gosta de ficar sozinho, se parece que quer ser pai dele. - Fred deixou claro não gostar do comentário, mas opinou pelo silêncio.
Era bizarro, cada vez que Igor se afastava, mais escuro ficava. A noite ia ganhando seu ápice, e Igor virava uma mera sombra na vasta escuridão. Alguns minutos depois e o céu era um pano grosso, de azul marinho, e essa era toda a fina luz que se podia ter. Por alguns momentos carros com seus faróis altos simulavam pequenos Flash de câmera, rasgavam o asfalto. Olhando para o celular, Fred parece preocupado.
- Tem certeza que não é bom irmos atrás do Igor? Olha esses loucos, nunca o veriam. - Jorge parecia concentrado demais em algum lugar, deitado com a cabeça apoiada em um galão de água.- Que droga Jorge, eu vou!.- Nem se levantou, Igor estava se aproximando.
- Onde vamos?
- Que droga cara, não some assim
- Eu disse que ele sabe se virar, agora não me enche. - Jorge levantou e voltou para trilha. - Vou usar o planeta
- O que ficou fazendo? - Perguntou Fred
- Nada. - Sorriu. - Só andei. Ei. Lembra daquele episódio da nossa série favorita que eles lambem aquele sino?- Confirmou com um aceno Fred. - Bora lamber aquela placa?
- Sério? - Fred parecia incerto, mas Igor balançou a cabeça em confirmação. - Por que não né? Vamos
Depois que eles foram, Jorge ficou sozinho com seus pensamentos a beira da estrada. Tranquilo ele observa o horizonte a dentro da trilha. Por um vislumbre ele enxergara olhos rubros, que queimavam vivos dentro das plantas. Implacáveis no horizonte como dois rubis enormes. Abaixo um fino brilho branco se moldava em um sorriso grutal. Ele estava hipnotizado... Começava a se levantar... Ele queria descobrir o que era aquilo. Mas
- Ei vagabundo. O que esta fazendo?
Como quem acorda de um transe, Jorge não estava processando tudo na mente ainda, ele se virou e sentiu uma luz grande e forte em seu rosto era um grande farol. - Que?
- Eu perguntei, o que esta fazendo? Vagabundo. - Um policial alto e forte segurava o farol , enquanto o parceiro que estava dirigindo descia sacando a arma. A viatura estava no meio fio agora de sirenes ligadas. Fred e Igor entraram em pânico. - O gato comeu sua língua? Hippie de merda
- Não senhor.
- Olha Cris, que bonitinho, o vagabundo sabe boas maneiras. - O polícia que segurava o farol caiu na gargalhada. - Como você se chama o moleque? - Apontou a arma para cima em um balanço, Jorge entendeu que deveria ficar com as mãos para cima.
- Me chamo Jorge senhor.
- E o que caralhos faz aqui Jorge? Porque morador de rua você não é. Han? Abre o bico!- O policial identificado como Cris era o mais aterrorizante. Porem isso não calou Fred e Igor
- Com licença oficiais, estamos com ele.
- Meu Deus, olha isso Cris, são os três patetas. - Os polícias cairam na gargalhada. - "Oficiais" - Cuspiu- Apreendeu isso em alguma série de TV moleque? Levanta mão vai porra. Encosta os três na viatura. Agora caralho!
Todos os três tremiam igual uma vara. Eles sabiam que era proibido acampar ali. Eles estavam sem documentação, Jorge era menor de idade e nem uma história combinada eles tinham. De maneira bruta e invasiva eles foram revistados. Quando perguntaram sobre o que estavam fazendo cada um contou algo e todos disseram que iam tentar carona, por não terem um único real.
- Tudo bem garotos, vocês não parecem ser pessoas que fariam algo ruim. Mas não podemos liberar vocês assim. Vão todos para DP.
- Não! Policial, por favor. - Então Fred lembrou de algo. - Eu posso provar. Estamos aqui desde ontem. Dorminos na cidade na casa de um amigo, ele pode provar, e se preferir, entre em contato com a central, estivemos em uma apreensão pela manhã aqui mesmo, nosso grupo foi pego e tomaram todas nossas coisas, não queríamos perder a viagem.
Os policiais se olharam. Talvez não acreditaram ou talvez queriam. "Olho neles". Um entrou na viatura e começou a falar com o rádio. Quando voltou, disse que a história batia. Mas era óbvio que batia, era a história de outras pessoas, do grupo que eles encontraram na estrada. Agora era deles também.
- Dessa vez vou deixar vocês irem, mas vão para casa. - Entraram na viatura e se foram. Alguns minutos depois um ônibus encostou.
Era noite, estavam cansados e assustados. Quando Lucio e Pedro desceram do ônibus, tudo que pensaram foi "Filhos da puta".
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Uma, Duas, Três, Chama A Próxima
FantasyTrês amigos, Três laços, Três motivos para viver, apenas um para matar e morrer