- Você tem certeza que não lembra de nada?
Logo depois que Fred acordou, ele foi interrogado por polícias. Isso era de praxe. Essa era a terceira visita deles, e Fred já estava irritado. É claro que ele lembrava do lobo enorme, e é claro que ele não iria contar para os policias.
Tudo que eles sabiam é que Fred tinha sido atropelado, Jorge e Lucio estavam perdido. E tanto Pedro quanto Igor estavam mortos. E sua versão não tinha mudado.
- Um dia antes do Lucio e Pedro chegarem. Igor foi mordido por uma cobra. Mas não podíamos abandonar os outros e procurar ajuda. Então esperamos eles no ponto de encontro. Era tarde e voltamos para o acampamento. No dia seguinte eu e Jorge fomos buscar óleo, encontramos Pedro morto e os outros sumiram. - Já era difícil explicar a morte de um amigo. Como explicar que ele viu Igor morto antes de sair.
- E este... Garoto. Jorge não é? Porquê ele não foi encontrado com você? - O policial estava sentado perto do leito de Fred, tomando nota de tudo que ele falava.
- Por favor. Eu já expliquei. Eu não sei, na verdade, vocês que deveriam me dizer. Jorge me ajudou com o corpo do Pedro, ele estava bem atrás de mim. Como não o encontraram?
- Sinto muito garoto. Mas são procedimentos padrão, é necessário saber se você vai acabar lembrando de algum detalhe. - Fred lembrava de tudo. Mas quem acreditaria? - Encontramos sangue no início da trilha e é de seu amigo. Mas ele ainda esta desaparecido.
- Então vão atrás dele! - Fred não entendia essa situação. Por que perder tempo com ele? Por que Jorge sumiu? Será que outro amigo dele tinha morrido? Já era difícil demais ter que lidar com sua nova situação.
- Estamos fazendo o possível.
O investigador se levantou e saiu do quarto. Logo depois entrou Caroline. Caroline caminhava depressa até o leito de Fred. Ela era muito branca, magra de olhos negros, sua estatura pequena fazia lembrar uma linda boneca de porcelana.
- Eles queriam saber de novo do acampamento? - Ela era a única a saber a verdade. Mas até mesmo ela achava que ele tinha batido a cabeça forte demais.
- Sim. - Fred fez uma cara de cansado e logo ficou sem graça. - Pode pedir ajuda a alguém? Preciso ir ao banheiro. - Desde que ele acordou, descobriu que não podia andar. O acidente provocou um trauma na medula espinhal. Isso fazia com que ele não conseguisse andar sozinho. Por mais que os médicos dissessem que ele voltaria a andar e que tudo isso tinha cura, ele não queria saber. Ainda assim precisava de uma enfermeira para ajudar a fazer xixi sozinho.
- Claro amor. Vou chamar.
A enfermeira chegou tarde demais. Ele tinha se urinado. A vergonha e a dor fizeram ele chorar muito e por fim, mandar Caroline para casa. Não aguentava mais aquela situação ridícula. Ele não tinha controle de seu corpo, do que queria fazer e quando queria, sentia muitas dores, e pior. Os amigos dele estavam por ai e ele jogado em uma cama. "Inútil" pensou
Passado os dias ele começou a fazer fisioterapia. Ajudou no começo a melhorar sua auto estima. Mas não adiantava. As dores aumentavam e ele não conseguia se manter em pé sozinho. Ele estava muito ferido, em um lugar, onde ninguém e nenhum remédio ajudaria.
O médico no primeiro dia já disse que ele voltaria a andar, mas seus hábitos mudariam e ele teria que se submeter a fisioterapia todos os dias de sua vida. E não era assim que ele se via fazendo em sua vida uma semana atrás.
Já era a terceira noite desde que ele acordara. E tinha proibido praticamente a visita de todos. Apenas sua mãe podia ir visita-lo. Já era difícil demais todos aqueles olhares de pena quando sabiam da morte de seu pai. Não queria sentir aquela sensação novamente. Não mesmo.
- Filho, Caroline sente sua falta. Ela quer vim te visitar. Por que esta sendo tão rude?
- Eu não posso mãe. E se ela deixar de me amar? Quem ia amar uma pessoa que mal sabe limpar a própria bunda?
- Filho, isso é passageiro. Você vai melhorar
- Então ela pode me esperar sair dessa cama
Naquela noite ele chorou muito. E ele sabia. Tudo que ele mais queria, era os abraços de sua amada. Mas tinha que ser forte.
No quinto dia ele estava na fisioterapia, tentando se adaptar. Ele sempre estava junto de uma médica para auxiliá-lo.
- Desculpa Roberta, mas preciso muito ir ao banheiro. Pode chamar uma enfermeira?
- Com certeza. - ela tirou seu braço de cima dos dela, deixando ele segurando sozinho as barras.
Assim que ela saiu ele resolveu ser teimoso. Resolveu que queria andar sozinho. E deu um passo. Uma dor lacinante percorreu seu corpo. Outro passo. Outro, outro, tremeu, as pernas falharam. E ele caiu de peito no chão. Quando a enfeira chegou, correu de volta pegando todos equipamentos de primeiros socorros.
Correram para a UTI e o médico o mandou para cirurgia. A queda sobre o tórax podia ter feito algum osso apertar a ferida em sua medula. Fred podia nunca mais voltar a andar.
E foi essa a notícia que entregaram aquela mãe desesperada na sala de espera, antes de abrirem seu filho.
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Uma, Duas, Três, Chama A Próxima
FantasyTrês amigos, Três laços, Três motivos para viver, apenas um para matar e morrer