Cap 14 Igor

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Minha mente não tinha controle das ações. Ela simplesmente estava agitada. Eu não conseguia discernir quaisquer pensamento. Tudo girava. O mundo girava.
Eu não entendia. E forçava. "Para. Para" não adiantava de nada. Ate que enfim... Tudo foi calma. Eu me vi num redemoinho de fumaça. Parado em um cinza, em meio aquela espessa neblina. Um palmo á frente de meu rosto era invisível, mas eu conseguia sentir a fumaça. Em meu olhos, em meu nariz, minha boca, descendo a garganta. Minha garganta estava seca e meu estômago doía. Até que eu não aguentei.
Deitei no chão duro e frio me contorcendo de dor. Sentia cada fibra do meu corpo se contorcer, cada músculo. Então gritei, tolo e inútil, ninguém podia me ouvir, ninguém iria me ouvir. As palavras ecoaram e pareciam aliviar a dor, então gritei e gritei. Sabia que tudo isso foi questão de segundos, mas pareciam horas. Até que eu perdi total controle da minha consciência.
Quando eu acordei novamente estava no acampamento, sai da barraca e gritei por meus amigos. Mas acho que saíram para caminhar, ninguém respondeu. Dei uma volta pelo lugar ainda nauseado e com dores em meu interior. Sentado na areia com os tornozelos na água fria, tentava massagear algumas partes do corpo procurando relaxar.
- Aproveite. Essa dor? Não vai se esvair, mas será tão passageira quanto. Torça para nunca mais precisar sentir. Mesmo que seja a única coisa que queira sentir. - Eu me assustei, levantei e tomei distância. Era o cara do meu pesadelo, era a pessoa que me mordeu.
- Estou sonhando? Quem é você? Se afaste de mim!
- Calma. Você não quer se machucar, mesmo que não conseguisse. É hora de te contar umas coisas.
Não sabia se podia confiar nele e minha experiência passada com certeza prova que é burrice me aproximar dele. "Vai a merda" disse e corri para o acampamento. Entrei na barraca e fechei os zipers.
- Por favor garoto. Vai ser mais fácil se você se acalmar. - Entrei em pânico. Ele estava deitado ao meu lado. Não conseguia me mover.
- O que é você?
- Eu sou o que você sempre quis. A imortalidade. Não foi esse o desejo que você almejou a vida inteira? Eu lhe dei. Mas logo você vai notar que isso é mais uma maldição do que um dom. Mas acabou nosso tempo. Você precisa me encontrar eu posso te ajudar com sua fome. Não se esqueça, sou Bruno. Lembre de meu cheiro.
Quando ele parou de falar tudo girou, eu o universo vibrou como um terremoto e o desespero me voltou a garganta, meu ar ia sumindo, eu não conseguia respirar até que...
Tudo era escuridão. Eu arfava e sentia mãos que me seguravam me deixar cair com um som oco de minha cabeça batendo forte na terra batida.
- Que merda é essa?! Você estava morto. - Gritou Lucio
- Morto? Eu? Não é possível. - Levantei e me ajeitei. Eu não estava entendendo. O mundo era diferenre. Eu sabia que era noite, mas estava tudo tão claro. Tão nítido. Minha visão nunca foi tão perfeita.
Eu sentia o cheiro de tudo. Da grama, molhada ou não, das plantas secas e das que tinham orvalho. Sentia o cheiro da vida e notei que meu cheiro era diferente. Senti meu irmão e só notei pedro depois. Então um cheiro diferente me tomou atenção. Pedro tinha um corte na mão. Era o cheiro do sangue. Tão doce, tão atraente. Minha boca salivou em desespero. Minhas pupilas dilataram e senti algo em minha boca forçar a gengiva, rasgando a pele e meus dentes se tocaram.
Automaticamente meu corpo respondeu aquele odor. Eu não fiz nada. Sei que Pedro e Lucio falavam. Mas eu não escutava, eu só sentia uma vontade imensa me enchendo. E meu corpo pedendo o controle e se tombando ao instinto. Meus olhos fecharam e meu pescoço tombou, então contra minha vontade eu estava sibilando e mostrando os dentes. O cheiro me enchia. Até que foi mais forte que eu.
Eu senti meu corpo se deslocar em uma velocidade absurda e incontrolável. Minha palma se fechou na garganta de Pedro e quando vi, só parei meu corpo em quando o dele bateu em uma árvore. Sem entender a grandiosa força que eu estava fazendo o vi arfar, pedindo por socorro. Mas eu não conseguia. Não conseguia. Estava faminto eu precisava comer. Lucio me socava e tentava me tirar meu braço de Pedro. Minha mão fazia marcas profundas em seu pescoço.
Eu ouvia seu coração bater suas veias explodirem em bombardeio de sangue e eu não me impedi. Não conseguia. Cravei meus dentes em sua pele macia e foi tão excitante. O sangue jorrava de seu pescoço. Quente e espesso. Com um sabor único, saciando meus desejos. Era tão saboroso tão delicado eu não conseguia parar. Até que o sangue parou por mim. Eu joguei o corpo de Pedro para perto das barracas novamente e senti meus dentes se retrair. Vi meu irmão sentado no chão me olhando assustado e senti minhas roupas molhadas em sangue.
Eu estava me sentindo culpado e com remorso sentia até mesmo medo de mim mesmo. Então algo chamou minha atenção. O cheiro de Fred e Jorge. Eu precisava sair dali. Peguei Lucio, meu irmão. Que estava chorando e não conseguia gritar com minha mão em sua boca. Então fui mata adentro. Me lançando no mundo sem olhar para trás.

Uma, Duas, Três, Chama A Próxima Onde histórias criam vida. Descubra agora