Toco à campainha e entro quando a Jorgina abre a porta. Ela está séria. Mas o Renaldo não está em casa. Ou está? Olho para o sofá e lá está ele a ler um monte de papéis. A Jorgina vai para a cozinha e eu sento-me no sofá.
-Não foste trabalhar? - pergunto. Ele larga os papéis e olha para mim.
-Estava com um pouco de dor de cabeça, por isso vim pra casa.
-E esses papéis?
-São só umas coisas da reunião de ontem. - ele encolhe os ombros.
-A reunião era sobre a empresa ou sobre a máfia? - não era suposto a pergunta ter saído.
-Sobre a empresa. - o seu tom de voz é mais grave.
-Já almoçaste?
-Já. O que aconteceu à tua mão? - oh ele finalmente percebeu.
-Cortei-me no treino. Vou tomar um banho. - subo para o quarto e dispo-me para o meu banho.
Depois de almoçar, ajudo a Jorgina com a louça enquanto explico como me cortei. Quando acabamos, ela vai para o seu quarto e o Renaldo vai para o escritório. Não tenho nda para fazer, por isso vou para o jardim. Está a chover, mas é apenas um chuvisco que malha a minha cara e deixa pequenas gotas no meu cabelo. O vento frio arrepia-me de tal forma que sei que muita coisa vai acontecer na minha vida.
Fico algum tempo na rua e a seguir entro. Pego no meu telemóvel e viajo nas várias aplicações. Verifico os contactos e vejo que tem o número do Renaldo, o da Jorgina e o do Lourenço. Ligo a tv e nas notícias estão a falar de assaltos, mortes, etc. Mudo de canal para um filme, mas acabo por adormecer no meio.
-Ju? Vamos jantar? - a voz grave do Renaldo chama por mim. Parece que dormir uns cinco minutos, porque estou muito cansada. Levanto-me e caminho até a mesa com o Renaldo.
-Conheceste o Ricardo? - ele pergunta-me.
-Sim. É verdade. Amanhã vou jantar com o Lourenço e o Ricardo. - ele fica calado por segundos como que a conformar-se com a ideia.
-Claro. Precisas de dinheiro? - não me lembrei dessa parte.
-Bom... Sim. - ele tira a carteira de bolso e dá-me 70 euros. - É muito. Não preciso de tudo.
-Precisas sim. És uma miúda. Aliás voi começar a dar-te uma mesada. - ele fala de uma maneira decidida.
-Obrigada. - é tudo o que consigo dizer.
Depois do jantar vou diretamente para a cama e não demoro muito a adormecer.
-Acorda dorminhoca. Vais ficar na cama o dia todo? - oiço os risinhos da Jorgina.
-Hum. - resmungo.
-Vou buscar um balde de água fria.
-Nem te atrevas. - abro os olhos e sento-me a espreguiçar-me.
-Boa tarde. - ela sorri.
-Boa tarde? Que horas são? - franzo o sobrolho.
-15h13. - ela diz a olhar para o relógio de pulso.
-Porque é que não me acordaste mais cedo?
-Já vim aqui umas três vezes. E a resposta foi sempre a mesma. "Só mais cinco minutos. Rrrrr"
Riu-me com a sua imitação da minha voz ensonada e do meu ressonar.
-Espero aí... - paro o riso quando me lembro... - Eu ronco? - pergunto com os olhos muito abertos.
-Não. Era só para te provocar. - um suspiro de alívio sai dos meus lábios. - Vamos descer!
Almoçei, porque sim eu não tive direito a pequeno almoço, e comi a salada de frutas preparada pela Jorgina. Algum tempo depois, ela dicide ensinar-me a fazer bolo de cenoura com cobertura de chocolate.
O bolo já está no forno e estou a preparar a cobertura com as instruções da Jorgina. Até está a correr bem.
(...)
São umas 17h e finalmente estamos a comer o bolo. Depois de um longo tempo a preparar e a esperar que ele arrefeça, estamos a deliciarnos com ele. E está uma maravilha.
A Jorgina recebe uma chamada importante e vai atender.Saio para fora só para sentir o vento. É tão estranho acordar e não ir para o pavilhão. Habituei-me muito depressa a treinar. Começo a dar murros e pontapés no ar e assim fico até me cansar. Volto a entrar tranquilamente dentro da cozinha e quase tenho um ataque quando oiço o telemóvel apitar. Pego nele e vejo que é uma mensagem do Lourenço.
"Passo por aí às 19h40"
"Ok"
Respondo. Espera... Ele tem o meu número?
Faltam duas horas para o Lourenço me vir buscar, por isso faço o que costumo fazer. Ver tv.
Não estou a dar muita atenção à televisão. Na verdade, nem sequer sei o que está a dar na televisão. Estou mais entretida no piano tiles do meu telemóvel.Depois de muito perder, olho para as horas e... WTF? Como é que já são 19h menos dez? Levanto-me do sofá num salto e subo as escadas. Entro na casa de banho e ligo a água quente. Tiro a roupa e o meu corpo entra rm contacto com a cascata. Por momentos apetece-me relaxar, mas não posso, tenho de me despachar. Ainda não sei como fiquei uma hora a jogare não me apercebi do tempo a passar. Lavo o cabelo e o corpo, depois saio e enrolo-me na toalha.
Saio da casa de banho e direciono-me para o roupeiro. Visto umas calças de ganga preta e uma camisola branca simples. Calço umas meias e umas vans pretas. Volto para a casa de banho para secar o cabelo com o secador. Ele fica liso e negro brilhante em contraste com a minha pele. Na verdade eu não sou nem muito clara, nem muito escura. Pode-se dizer que sou café com leite. E gosto assim.
Depois de estar pronta vejo que são 19h47. Visto o meu sobretudo preto e desço. Sim o preto deve ser o meu melhor amigo. Foi por isso que nasci com ele no cabelo e nos olhos.
O Renaldo já chegou. Oiço a sua voz vinda do escritório. Espreito pela janela e não vejo nenhum carro a minha espera. Ele não disse 19h40? O Renaldo sai do escritório e vai para o sofá a olhar para mim.
-Fica-te bem o preto. - ele elogia.
-Obrigada.
-Levas a arma?
-Não, mas não acho que seja necessário. - a minha voz é um pouco baixa.
-É melhor. Nunca se sabe, vai lá buscar. - decido não contrariar.
Afinal ele está a pedi-lo para o meu bem, embora saiba que mesmo se for preciso eu não vou matar ninguém que mesmo se for preciso eu não vou matar ninguém. Tipo um pai que diz à filha para levar gás pimenta num encontro e utilizar na hora do beijo, mesmo sabendo que ela não vai utilizar. É só para se sentir mais seguro. Também não me posso esquecer de que ele é chefe de uma organização mafiosae que deve estar sempre com uma arma atrás, por "segurança". Vou até ao quarto, pego na arma e no telemóvel do qual eu me tinha esquecido...
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Amor E Pesadelo
ChickLitJuliana é uma adolescente que aos 16 anos é expulsa de casa pela própria mãe. Depois de uma noite na rua Juliana acaba por aceitar a ajuda de um desconhecido. Mais tarde ela descobre que esse homem é mafioso e que não tem outra opção a não ser torn...