Capítulo 22

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Depois de nos deliciarmos com o bacalhau, o Lourenço quis ser querido e deixou-me deitar no seu colo. No entanto, eu estou um pouco desconfortável, por isso não paro de me mexer.

-Ouve. E se eu for para o outro sofá e tu ficas neste? - ele sugere.

-Não. - choramingo - Tu estás aqui bem.

-Eu estou. Mas tu não. Pensas que eu não sei. Eu reparei quando dormimos na mesma cama. Tu adoras ficar toda esparramada.

-Peço desculpa por não estar acostumada a dormir com alguém.

-Já sei. Levanta-te! - ponho-me de pé e vejo a deitar-se. Ele abre as pernas e diz-me para deitar lá no meio. Deito-me de barriga para cima e com a cabeça numa almofada que ele pôs na sua barriga. Estico a perna e ponho-a em cima do sofá deixando-a pendurada. Agora sim estou confortável!!!

(...)

Lentamente abro os olhos. Mexo a cabeça e percebo que já não tenho a almofada de baixo dela. Sinto o cheiro a lavanda na camisola do Lourenço. Rodo o corpo virando-me para baixo e observo o anjinho que lá está a dormir.

O Lourenço franze o sobrolho abrindo os olhos de seguida. Ele faz sempre isso quando está a acordar.

-Porque é que estás a olhar assim para mim? - a sério? É a primeira coisa que ele diz logo de manhã?

-Bom dia pra ti também. - resmungo.

-Bom dia. Porque é que estás a olhar assim para mim?

-Assim como?

-Intensamente.

-Nem eu sei o porquê.

-Que horas são? - pego no telemóvel que estava no chão e vejo as horas.

-11h57

-E se fossemos sair? - afirmo com a cabeça. Vai ser bom sair e conhecer a cidade onde vou viver. Tenho ficado muito tempo em casa.

Ouve-se um roncar enorme vindo do meu estômago e o Lourenço ri. Levanto-me e vou até a cozinha fazer torradas. Levanto-me e vou até a cozinha fazer torradas.

Enquanto eu como, o Lourenço toma banho. Assim que acabo de comer, dirijo-me para a casa de banho para tomar um duche.

Visto umas calças pretas e uma camisola branca de lã. Calço as botas que tinha comprado em Portugal. Gosto delas. São confortáveis e práticas. Cano baixo, uns atacadores e duas fivelas douradas a enfeitar. Pego no meu estojo de maquilhagem e volto para a casa de banho. Faço uma coisa básica que uma vez vi num blogue de moda. Base, pó, rímel e lápis. Já chega, não é? Não vamos inventar! Até saio bem!!

Abro a porta e vejo o rapaz num sobretudo cinzento muito concentrado nas luvas que está a calçar.

-Podemos ir? - ele pergunta.

-Sim, podemos. - ele para o seu trabalho e olha para mim.

-Como assim "podemos"? Nem um casaco tens vestido. - reviro os olhos com a sua reclamação e entro no quarto.

Até parece que não conhece as miúdas. Quando elas respondem "sim, podemos" significa "sim, podemos daqui a 10 min" . Entro no quarto, visto o meu sobretudo preto e volto a sair. O Lourenço já está à minha espera. Pego no telemóvel e vou até ele.

-Vamos. - digo. Trancamos a porta assim que saímos.

-Gostei da maquilhagem. - elogia-me ele. Sorrio e agradeço-lhe. Saímos quando as portas se abrem.

-Boa tarde. - cumprimenta o senhor Arthur, o porteiro.

-Boa tarde. - eu e o Lourenço falamos ao mesmo tempo.

Sinto o vento na minha cara quando saímos do prédio. Um gorro é enfiado na minha cabeça impedindo que o meu cabelo congele. Olho para o Lourenço enquanto ele põe outro gorro na sua cabeça. Caminhamos pelo passeio coberto de neve e este silêncio está a matar-me.

-Onde é que vamos? - pergunto ao Lourenço.

-Podíamos ir ao Central Park e depois ao shopping.

-Por mim tudo bem. - continuamos a caminhar até chegarmos ao Central Park.

Só se vêm pessoas agasalhadas a brincar na neve com crianças. As crianças riem ao tentar levar a cabeça do boneco de neve ao cimo. Um menino cai e quando penso que ele vai chorar ele começa a rir. Fazem-me lembrar a infância feliz que eu nunca tive. Fico parada a ver as duas meninas a atirar bolas de neve uma à outra é então que o meu gorro voa e o Lourenço vai atrás dele.

Uma bola de neve acerta-me no braço e eu olho para o lado. Vejo uma menina com os seus seis anos, dentro de um casaco cor de rosa a combinar com o seu gorro, a olhar para mim com uma ar muito envergonhado. Ela aproxima-se devagar e diz:

-Desculpa, não foi de propósito. - ela baixa a cabeça e eu agacho-me à sua frente levantando a sua cabeça pelo queixo.

-Não faz mal. - sorrio para ela - Como é que te chamas? - ela sorri.

-Emma. E tu?

-Podes chamar-me Ju. - ela ri.

-Que nome engraçado.

-É diminutivo de Juliana. - ela assente - És muito bonita. Sabias?

-Obrigada. Tu também. Gosto do teu cabelo. É muito escuro. - diz ela enquanto mexe no meu cabelo - E os teus olhos também. E a tua roupa. - riu-me porque é verdade. Sempre vesti cores neutras e adoro preto.

-Emma! - uma mulher zangada aparece e puxa a menina para si. - Peço desculpa se ela fez alguma coisa.

-Não, não fez nada. Está tudo bem.

-Mamã, esta é a Ju. Uma nova amiga. - sorrio quando ela me chama de amiga.

-Está tudo bem? - oiço a voz do Lourenço atrás de mim. A Emma olha para ele e depois para mim perguntando depois se ele é meu namorado eu e o Lourenço rimos os dois e respondemos que não.

-Somos amigos. Ele é o Lourenço. - ela cumprimenta o Lourenço com um aceno de mão ao qual ele corresponde.

-Nós não vamos mais tomar o vosso tempo. - a mãe dela sorri nervosamente - Vamos Emma.

-Mas eu queria ficar. - a menina choraminga.

-Vamos Emma! - ela repete mais duramente. O seu tom de voz corta-me o coração.

-Está bem. Adeus Ju. Adeus Loureço.

-Adeus... - eu e o Lourenço falamos novamente ao mesmo tempo.

As duas afastam-se apressadamente. Agarro no gorro que estava na mão do Lourenço e ponho-o na cabeça. Quando volto a olhar na direção das duas, vejo a mãe a ralhar com a Emma. A menina está triste, como se tivesse feito alguma coisa. Sinto necessidade de ir lá. Dou um passo á frente e o Lourenço puxa-me pelo braço.

-Onde é que vais? - ele pergunta.

-Ela está a ralhar com ela. Eu não posso deixar.

-É a mãe! - olho para ele.

-Nem sempre as mães fazem o melhor para os filhos.

-Como é que tens tanta certeza?





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