Quando ele sai da casa de banho, está com a cintura enrolada numa toalha e tem gotas de água a escorregar pelos seus lindos abdominais. Não me tinha apercebido de que ele tem um corpo tão perfeito... Concentra-te! Ele olha para mim e sorri enquanto se dirige para a cozinha para beber água.
-Tens razão, está calor hoje. - uma provocadora conhece sempre uma provocação.
E é isso que ele quer. Usar a minha arma contra mim. Mas se é luta que queres, é luta que vais ter.
-Tem cuidado com a toalha. Ela pode cair. - digo com os olhos na TV.
-Isso era o que tu querias. Mas eu tenho cuidado, não te preocupes. - viro-me para ele e inclino a cabeça para o lado.
-Tens a certeza? É que está a escorregar. - ele olha para baixo e depois para mim semicerrando os olhos.
Levanto-me e vou até ele. Vejo quando os nós dos seus dedos ficam brancos devido à força com que está a agarrar a toalha. O rapaz está com medo de que eu lhe puxe o único pano que lhe tapa as partes íntimas. Encho um copo com água e bebo devagar. Ele está a tentar provocar-me mas eu sou boa naquilo que faço. Os rapazes são fracos! Basta uma pequena ação das raparigas para eles ficarem... Enfim. Mas se ele quer jogar comigo então eu vou jogar pesado!
Mexo-me desconfortavelmente e faço uma careta.
-Sabes? Ás vezes este soutien consegue ser mesmo desconfortável, Só me apetece tira-lo. - levo a mão à parte de trás do soutien e o Lourenço arregala os olhos, olhando de relance para as minhas mamas.
-Já volto. - ele direciona-se para o seu quarto e não consigo evitar rir baixinho. Não disse? Fraco.
Depois do almoço, ficamos no sofá. Para variar. A ver um filme romântico em que a maior parte das falas são "I love you" ou "I love you too". E há qualquer coisa naquelas palavras que deixa o Lourenço um pouco triste. Ele vai até o seu quarto e volta com uma t-shirt vestida, então acabo por fazer o mesmo. Vejo o Lourenço á frente da parede de vidro muito concentrado nas pessoas encasacadas a andar lá em baixo no meio da neve. Começo a sentir-me mal. Não gosto de o ver assim. Será que fui eu? Caminho devagar e para ao seu lado.
-O que é que se passa? - pergunto depois de algum tempo.
-Nada. - ele é curto e seco.
-Nota-se!
-Lembrei-me de uma miúda. - ele está mesmo a falar comigo? Sobre uma miúda?
-Quem? - tento esconder o meu entusiasmo.
-Alguém que conheci antes de sairmos de Portugal.
-Estás assim por causa dela? - ele encolhe os ombros e não diz mais nada.
Limito-me a pôr-me à frente dele e a abraça-lo pelo pescoço. Um abraço carinhoso ao qual ele corresponde. Olho-o nos olhos e em pouco tempo os nossos lábios estão selados num beijo tão carinhoso quanto o abraço. Quando nos separamos ficamos ambos muito surpreendidos.
-O que é que aconteceu? - ele pergunta.
-Como é que aconteceu? -corrijo.
-Não importa. O que importa é que não vai voltar a acontecer. - dito isto ele vai para o quarto. Ok. Isso foi um pouco ofensivo. Mas eu compreendo. Nem eu sei como é que aconteceu. Só espero que as coisas que não fiquem estranhas entre nós.
Vou até a cozinha e pego num pacote com bolachas de chocolate. Sou viciada em chocolate. Nada melhor para esquecer uma coisa que não devia ter acontecido. Ás vezes pareço uma criança a comer. Em tão pouco tempo sujo-me toda. Volto a guardar o pacote que antes estava cheio e agora vai a menos de metade. Limpo a boca e lavo as mãos. Quando as seco apercebo-me da minha cicatriz na mão esquerda. Serro o punho com a lembrança do Ricardo.
Deito-me no sofá a ver televisão e acabo por adormecer.
Estávamos no meio de um tiroteio e agora estamos no pavilhão. Eu, o Ricardo, o Loureço e uma rapariga morena. Estamos escondidos atrás de um dos sofás com armas nas mãos. Alguém invade o pavilhão e nós ficamos mais quietos que nunca. A rapariga desconhecida por mim levanta-se ficando de joelhos e começa a disparar para a pessoa.
O Ricardo pede-lhe para se baixar mas ela não liga e continua a disparar. Por isso ele levanta-se e puxa-a, mas acaba por levar um tiro por ela. Eu quero fazer alguma coisa. Eu quero dizer alguma coisa, mas não consigo. É como se fosse figurante no meu próprio sonho.
Abro os olhos de repente e sento-me no sofá. Tenho a visão da noite em Nova York. A televisão ainda está ligada e apenas a luz da cozinha se encontra ligada deixando a sala não muito escura. Tenho um cobertor nas pernas e novamente está a dar uma publicidade de natal. Como é que já é de noite? Parece que passaram dois minutos. O sonho foi curto mas com grande significado. O Lourenço está na cozinha de costas para mim a preparar o jantar.
Por favor que ele não fique estranho comigo. Era só o que faltava. Levanto-me e vou até ele.
-O que é o jantar? - ele sobressalta ao ouvir a minha voz.
-Que susto!
-Desculpa.
-Finalmente acordaste. Pensei que tinha de buscar um balde com água fria. - pelo seu humor, já percebi que está tudo normal. Deixo escapar um sorriso.
-Sabes que ias levar se fizesses isso? - ele põe alguma coisa no forno e vira-se para mim a sorrir.
-Tu ias tentar mas não ias conseguir.
-Estás a desafiar-me?
-Eu não! Deus me livre! Quando te sentes desafiada és mais bruta que sei lá o quê.
-Boa escolha. O que é o jantar?
-Bacalhau com natas. - típico português.
A lembrança do meu sonho vem-me á cabeça e o meu sorriso desaparece.
-O que é que foi? - ele pergunta. Eu tenho de desabafar.
-Tive um sonho. Tipo um pesadelo. - ele olha-me com mais atenção - Sonhei com o Ricardo. Com a morte dele. Sabes? Ainda tinha esperança de ele estar vivo. Mas agora...
-Como é que podes ter tanta certeza com base num sonho? - sinto vontade de chorar.
-Os meus pesadelos são tipo recordações de coisas más que aconteceram. - ele vem até mim e puxa-me para um abraço.
-Não penses mais nisso. Ok?
-Isto podia não ter acontecido se ele me tivesse ouvido..
-Espera aí... - ele afasta-se e olha para mim com o sobrolho franzido - Tu sabias? - porra Juliana. Olha a merda que fizeste! Tu e a tua boca grande.
-O quê? Não, não sabia. - tento disfarçar, mas sem êxito. Ele cruza os braços e olha para mim sério.
-Não me mintas. - há alguma coisa no seu olhar que me faz sentir mal ao mentir-lhe.
-Sim, eu sabia. Mas eu avisei-o.
-Era suposto teres ido com ele? Foi por isso que tentaste fugir?
-Não,claro que não. Eu não queria ir com ele, só queria impedir que ele morresse. - ele abraça-me novamente.
-Ainda bem que não o fizeste. Podias estar morta. Pelo menos agora estás bem.
-Na medida do possível. - sinto um beijo na bochecha.
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Amor E Pesadelo
ChickLitJuliana é uma adolescente que aos 16 anos é expulsa de casa pela própria mãe. Depois de uma noite na rua Juliana acaba por aceitar a ajuda de um desconhecido. Mais tarde ela descobre que esse homem é mafioso e que não tem outra opção a não ser torn...