Capítulo 17

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Acordo um pouco tonta e tento levar as mãos aos olhos, mas elas estão presas atrás da cadeira na qual eu estou sentada. Tal como os meus tornozelos que estão amarrados ás pernas da cadeira. Mas que raio??? Ah... Já me lembro. Quando ouvi "matem-no já", pensei logo no Ricardo. Por isso tentei fugir para ir ter com ele. Mas á porta do aeroporto estava o Fernando, então voltei a entrar para tentar sair pelo outro lado. Erro meu, porque encontrei-me com um Sr. Músculos qualquer que me deu um 'Boa noite Cinderela' ou algo do género.

E agora acordo aqui nesta sala minúscula, amarrada a uma cadeira, com apenas uma pequena janela a dar luz e a dizer-me que já está de noite. Ai que raiva! Juro que quando descobrir quem me deu aquele 'Boa noite Cinderela' eu torço-lhe o nariz.

O Renaldo entra pela porta que está á frente da cadeira. Aleluia! Alguém para me tirar daqui. Ele anda calmamente e para mesmo á minha frente. WTF? Alguém que não consigo ver acende uma luz fraca que ilumina a sala cúbica.

-Juliana... Porque é que fizeste isso? Tentar fugir? Não é boa ideia! - ele está a ser cínico. - Eu queria mesmo tirar-te daí, mas não posso. - TU ÉS O CHEFE DESTA PORRA TODA. COMO ASSIM NÃO PODES??? - Tens de ser castigada!!! - ele diz como se lhe fosse indiferente e sai porta fora.

Seu cabrão de merda. Afeiçoaste-te a mim uma ova. Só querias mais um estúpido membro, para a tua estúpida máfia, estupidamente criminosa, e... Sabe-se lá. Se calhar és um extraterrestre invasor que como castigo vai usar-me como cobaia para as suas experiências...e...e... Eu já não digo coisa com coisa! Devo estar doida!

Só de pensar que estou aqui porque tentei fugir para ajudar o idiota do Ricardo, já me dá cabo dos nervos. Se o idiota me tivesse ouvido nada disto tinha acontecido. Burra fui eu, que tentei ir atrás dele. Pior é pensar que neste momento ele pode estar morto. Quero lá saber! Bem feito para ele. Tivesse ouvido os meus avisos.

Ai meu Deus, e o Lourenço? Por favor, que ele esteja bem!

Já deve ter passado uma hora desde que o Renaldo cá veio. Estou tão frustrada que tenho vontade de gritar. Tento novamente soltar, mas é escusado. A porta abre-se e a ultima pessoa que eu pensei que pude-se entrar, entrou. Lá está ela com o seu vestido branco justo e a sua fita cor de rosa, no seu cabelo loiro, a combinar com o seu blazer também cor de rosa.

O que é que aquela Barbie quer?

-Olá Juliana. Está tudo bem? - óbvio que ela sabe o meu nome. A sua voz é tão irritante como eu pensei que era.

-O que é que tu queres Maia? - a minha voz sai finalmente.

-Ai! Que má onda! - ela finge-se de magoada - Só queria saber como é que te sentes amarrada nessa cadeira.

-O que é que achas?

-Deve ser estranho.

-O que é estranho, é o facto de eu ter sido sequestrada pela máfia da qual pertenço. Não achas? - fingi um sorriso. Ela ri cinicamente enquanto caminha na minha direção.

-Que engraçada, que tu és. - sinto um murro incrivelmente duro - Não gosto disso. - a sua voz irritante de princesa de desenho animado desaparece e uma voz normal, e um pouco ameaçadora, soa. Levanto a cabeça e olho para ela.

-Não tenho medo de ti. - a sua cara zangada e os seus olhos irritados em cima de mim.

Sinto outro murro. Mas que raio? Os teus ossos foram substituídos por pedras ou quê? Quando olho para a sua mão vejo um revolver. E como ela não é burra, está a utilizar a arma para me bater.

-Mas devias. Eu posso fazer-te muito mal. - ela olha-me com cara de psicopata enquanto eu sinto alguma coisa a escorrer pelo meu nariz e pelo canto do meu lábio. - Foste burra ao tentar fugir. - ela ri-se - Pensaste que conseguias? Coitada!!

-Vai-te embora Maia. - peço calmamente.

-Só mais uma coisa. - ela tira um telemóvel de bolso, espera aí... É o meu telemóvel!!! - Tens várias chamadas do Ricardo. Coitado!!! Agora deve estar morto.

-VAI-TE EMBORA!!!! - grito e ela olha-me com raiva. Sinto outro murro que obviamente foi golpeado com o revolver. Ela sai e deixa-me sozinha.

-Sua vaca. Filha da puta!!

(...)

Pela janela dá para ver que já amanheceu. Estou a morrer de fome e de sede. Já é uma sorte a minha bexiga ser do tamanho da de um elefante, porque se não... Bom, é melhor esquecer. O meu estômago doí de tal forma que parece que está a corroer por dentro. Não sei como é que consegui dormir, só sei que ainda estou aqui e com vontade de esmurrar qualquer coisa. Tento desesperadamente soltar-me, mas nada resulta.

Assusto-me quando vejo dois homens perto da porta a olhar para mim. Um deles tem um revólver na mão e o outro tem uma faca. É desta que eu morro. Engulo em seco quando eles começam a aproximar-se. Um deles tira-me o casaco destapando-me os braços e deixando-o pendurado nos pulsos, pois não passa mais devido ás cordas.

-O que é que... O que é que se passa? - pergunto um pouco assustada. Eles olham para mim, mas não respondem.

Do nada começam a esmurrar-me e a bater-me com o revolver.

Quando eles se vão embora, eu estou coberta pelo sangue que devia estar dentro das minhas veias. Tenho alguns cortes nos braços, mas são poucos. Não sei se é porque eles estavam com pena de mim ou se estavam a guardar espaço para a próxima vez que cá vierem. Respiro com dificuldade. Choro e solto gemidos de dor. Não era assim que eu imaginava a minha morte. Talvez seja melhor morrer. Estou sozinha. Se sobreviver vou ter de ir viver com o Renaldo e acho que não ia suportar.

Passo o resto do dia assim à espera de que algo aconteça.

Mais tarde ao anoitecer, os tais homens voltam. Começam a desamarrar as cordas e quando estou solta caio no chão por não me conseguir equilibrar. Eles voltam a bater-me até eu começar a cuspir sangue. Depois deitam-me de barriga para cima e esticam o meu braço direito para o lado. A minha visão está turva, mas mesmo assim consigo ver uma chama a acender. Sinto o calor a aproximar-se do meu braço e tento afastar-me mas eles estão a prender-me fortemente. O fogo queima um pouco a minha pele, mas por sorte alguém grita e a chama se afasta.

-Mas...

-Eu disse parem!! Vão-se embora!! - é o Renaldo. Eles soltam-me e desaparecem.

-Ju... - ele fala já perto de mim - Eu vou dar-te uma oportunidade para veres o quanto gosto de ti. Mas promete-me que não voltas a fugir, por que se não... morres. - fingido. A minha vontade de lhe torcer o nariz está a aumentar.

-Eu... Prometo. - falo com alguma dificuldade. - ele sorri e acaricia-me o cabelo. Ai que raiva.

-Espera um pouco. - ele sai e eu deito a minha cabeça no chão um pouco fraca.

Alguém entra, mas já não me dou ao trabalho de ver quem é. Sinto alguém a pegar-me ao colo rapidamente e os meus olhos ameaçam fechar-se.

-Ju? Ju, por favor não desmaies!! - a voz preocupada do Lourenço faz-se ouvir, mas não consigo combater e então desmaio.

Amor E PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora