Capítulo 13

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-Quem és tu? - ele pergunta enquanto agarra o meu pulso. - Quem é que te recrutou? Responde! - deslizo a mão para dentro do sobretudo, que felizmente está aberto, e agarro na minha arma.

-Larga-me! - encosto a arma à sua barriga na esperança de que ele se afaste, mas ele continua a segurar no meu pulso e tenta desviar a arma com a outra mão.
A arma está no meio de nós enquanto ele tenta tirar-ma. A minha respiração e o meu coração estão ambos acelerados. Admito que estou com medo...

Um tiro sai disparado e a nossa pequena luta termina. Lágrimas começam a formar-se nos meus olhos. Ele começa a libertar-me do seu aperto e de seguida o seu corpo cai no chão. Tenho sangue na minha mão e na minha camisola. Atiro o revólver para dentro do saco e fecho o casaco para tapar a mancha. As lágrimas que antes estavam presas, caiem como cascata. Saio dali a correr e dou de cara com o Ricardo.

-Estás bem? O que aconteceu? Ouvi um ti... - antes que ele possa acabar eu abraço-o com força.

-Ricardo, tira-me daqui. Tira-me daqui.

-O que aconteceu?

-Eu ma... Matei-o. - sinto-o a engulir em seco. Ele leva-me até o carro e diz para eu esperar. Depois pega no seu telemóvel e vai para trás do shopping.

Estou no banco de trás, abraçada às minhas pernas e a chorar a potes. A imagem daquele homem no chão não me sai da cabeça. Eu matei uma pessoa depois de dizer que nunca o faria. Eu sou uma assassina. É isso que eu sou!
Depois de algum tempo o Ricardo entra no carro.

-Onde é que...foste? - a minha voz sai um pouco rouca.

-Tratar do corpo - as suas palavras só servem para me lembrar do que fiz.

(...)

O Ricardo abre a porta do carro para eu sair, mas eu permaneço quieta abraçada às minhas pernas. Ele agarra no meu saco e espera uns segundos.

-Anda! - ele estica a sua mão e ajuda-me a sair. As lágrimas já pararam, mas a imagem daquele homem não me sai da cabeça.

O som do tiro vem-me à memória e eu abraço o Ricardo pela cintura. Ele parece surpreso, mas corresponde ao abraço.

-Vamos entrar. - ele sussurra enquanto me puxa para a porta e toca à campainha. A Jorgina abre a porta e nós entramos.

Ela olha em volta como que á procura de alguma coisa.

-O que é que aconteceu? - ela sussurra preocupada. E aí, percebo que não consigo falar. A minha garganta está apertada e parece que vou chorar outra vez.
-Aconteceu uma coisa com... Sobre... Onde está o Renaldo? - o Ricardo pergunta quando não consegue explicar o que aconteceu.

-Vou chamar. - a Jorgina vai até ao escritório e minutos depois, o Renaldo aparece.

-Que aconteceu? - a sua voz é grave com uma pontinha de preocupação. O Ricardo olha para mim depois para o Renaldo.
-O Sergio está morto. - um pequeno suspiro sai dos lábios do Renaldo.

-Mas isso é uma ótima notícia.

-Foi ela que o matou. - o Renaldo olha para mim surpreendido, mas depoimentos recupera.

-Trataste do corpo?

-Sim.

-Falaste com o Bruno?

-Ainda não.

-Onde é que aconteceu?

-No shopping. - o Renaldo pega no seu telemóvel e marca um número. Ele leva o telemóvel ao ouvido e espera até que a outra pessoa atenda.

-Estou?... Ouve, o Sérgio está morto e... Sim. Quero que entres mas câmaras de segurança do shopping e que apagues qualquer filmagem suspeita... Faz isso agora. - ele desliga a chamada e volta a olhar para mim. - Estás bem?

Não respondo.

-Tira o casaco. - faço o que o Ricardo pede. - Isso é sangue? Estás ferida? - nego com a cabeça.

-Jorgina! - o Renaldo chama e ela aparece vinda da cozinha. - Vai com ela lá para cima.

A Jorgina agarra-me pelos ombros e leva-me para cima. Ela fecha a porta do quarto e revela a sua cara preocupada.

-Como é que aconteceu? Sentes-te bem? - eu simplesmente abaixo a cabeça e tento não chorar outra vez. - É melhor ires tomar um banho.

Mesmo depois do banho, depois da água limpa, eu sinto-me suja e com a consciência pesada. Saio da casa de banho e a Jorgina diz-me para eu descansar. Deito-me na cama e fecho os olhos na esperança de que quando os abrir isto tudo não tenha passado de um pesadelo. Que acorde e que tenha uma família que goste de mim. Mas sei que não vai acontecer.

Estou a andar apressada. Posso sentir o Sérgio atrás de mim. Ele agarra-me pelo pulso. Temos uma arma entre nós e eu estou assustada. Uma bala sai e fui eu quem a disparou. Ele está morto no chão. Tenho sangue na mão e lágrimas nos olhos. Largo a arma e saio a correr pelo escuro.

Paro de correr e olho em volta. Não vejo nada nem ninguém. Apenas oiço o som do tiro a repetir-se e a repetir-se, tal como alguns sussurros de pessoas que não consigo ver.

-Assassina...

-Foi ela...

-Criminosa...

Uma luz acende-se por cima de mim e vejo as minhas mãos ensanguentadas. Tento limpa-las à camisola, mas é escusado. O sangue parece nascer do nada. Uma segunda luz acede-se e eu assusto-me com o corpo sem vida do Sérgio. Um grito sai dos meu lábios.

-Éh! Acorda, estás a sonhar! - abro os olhos repentinamente e vejo a cara assustada do Ricardo.
A minha respiração ofegante a denunciar que tive um pesadelo. Abraço-o com força e a minha respiração desacelera.

-Foi só um sonho. - ele sussurra e separa-nos. Sento-me e olho para ele.

-Não foi só um sonho. Foi real. Eu matei-o.

-Shhh. Como é que aconteceu?

-A arma estava entre nós. Ele estava a agarrar-me. E eu disparei. Mas foi sem querer. Eu juro.

-Vês? Não foi de propósito. - ele tenta confortar-me.

-Ainda assim eu matei-o. - baixo a cabeça e ele levanta-a pelo queixo.

-Foi só para te defenderes. Não fiques assim. - o seu olhar intenso no meu - Menina dos olhos negros. - sorrio com a alcunha. - Tenho de ir. Está tarde. Só vim ver se estavas bem. - ele levanta-se vai até à porta.

-Adeus.

-Adeus. - ele sorri e depois sai.

Amor E PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora