Capítulo 28

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Depois de ver-mos um filme de natal que estava a dar na televisão, o Lourenço baixa o volume da tv e vira-se para mim.

-Vamos falar. - diz ele. Viro-me para ele e ponho as pernas no seu colo.

-Sobre?

-Fala-me sobre ti.

-O que é que queres saber?

-Como é que vieste parar à máfia? - a minha expressão muda para mais séria.

Eu sei que aquela pergunta estava presa e que em algum momento ia sair, mas não pensei que fosse agora. Ele merece uma resposta, mas eu não a quero dar. Não gosto e nem quero lembrar do meu passado.

-O Renaldo encontrou-me.

-É só isso que me vais dizer??

-O que é que queres que eu diga?

-O que é que fazias antes de ele te encontrar? Como é que ele te encontrou? Como é que era o teu passado?

-Lourenço, eu não te pergunto sobre o meu passado por isso espero que não perguntes sobre o meu. - dito isto levanto-me e vou apressada até o armário da cozinha tirando de lá um pacote de bolachas de chocolate.

-Hey... Não fiques zangada. Só fiz umas perguntas.

-Tudo bem. Desculpa.

-Tudo bem. Sabes que se perguntasses sobre o meu passado eu respondia. - olho para ele - Também não há nada de especial. Fui criado num orfanato e quando tive idade saí de lá e aceitei um emprego que o Renaldo me ofereceu para pagar a faculdade. Quando descobri que era numa máfia, só tinha duas hipóteses. Continuar ou morrer. - ele fala naturalmente deixando-me sem fala.

-Foste criado num orfanato?

-Sim. Os meus pais morreram quando eu tinha 4 anos num acidente de carro. Por isso tive de ir para esse orfanato.

-Quem me dera a mim. - digo mais para mim do que para ele.

-O quê? - ele pergunta incrédulo.

-Eu não sei o que é amor de mãe. Eu nunca tive isso na vida. Não conheci o meu pai. Acho que nem a minha mãe sabe quem é o meu pai.

-Ela era... Prostituta?

-Sim. Ela era drogada, doente mental... - não consigo olhar nos seus olhos enquanto falo, limito-me a olhar para o chão. - Eu sofri maus tratos com ela. Ela chegava a casa bêbada e transformava-se num monstro violento. - uma lágrima liberta-se e eu não consigo evitar as outras. - Eu cheguei a pensar que a culpa era minha, que eu era uma filha defeituosa. Até que percebi que era ela não eu. Um dia ela arranjou um namorado e ele também não gostava de mim. Qualquer discussão, qualquer uma, ela descontava tudo em mim. Certo dia ele ameaçou não voltar para ela e obviamente ela pensou que a culpa era minha, por isso expulsou-me de casa. Foi então que o Renaldo me encontrou. Ele me amparou, eu acreditei, eu confiei e descobri que ele era chefe de uma máfia.

Ele limpa as minhas lágrimas e depois abraça-me.

-Eu não fazia ideia. Obrigado por confiares em mim. - ele fala. Sinto um puxão vindo do nosso meio e percebo que os colares têm íman. Ele afasta-se o suficiente só para encostar a ponta do nariz no meu.

-Já não precisas de chorar. - ele beija delicadamente os meus lábios.

Sentamo-nos no sofá ambos já muito aborrecidos de ver tv. O Lourenço pega no comando e começa a mudar de canais. Os seus olhos focados no ecrã e os meus focados no seu perfil. Ele é tão giro. Os seus olhos azuis, o seu cabelo castanho despenteado de uma maneira sexy. Ele tem um pequeno sinal na maçã esquerda do rosto, e quando sorri o sinal sobe de uma maneira fofa e extremamente linda.

-Para de olhar assim para mim. - o seu pedido desperta-me.

-Assim como?

-Parece que me queres comer. - ele responde sem tirar os olhos da tv. Eu sorrio porque eu já lhe disse isso.

-Se calhar quero. - ele sorri e lá está aquele sinal a subir. Ele cala-se por isso eu empurro o seu braço com o pé, pois estamos numa distância muito longa. - Lourenço?

-O quê? - ainda assim ele não olha para mim.

-Larga o comando. Eu preciso de atenção, estou muito carente - falo com voz de criança. Ele larga o comando e gatinha para cima de mim.

-Precisas de atenção é? - ele beija-me lentamente e depois beija o meu pescoço.

O seu telemóvel toca interrompendo o nosso momento. Ele para o beijo e pega no iphone que estava no bolso das calças.

-Se tu me trocares pelo telemóvel... - eu aviso. Os seus olhos passam pela tela e ele parece ficar mais irritado. - Quem é?

-É a Maia.

-Não vais atender. Pois não?

-Tenho de atender pode ser da máfia. - ele atende a chamada e mesmo não estando em alta voz, eu consigo ouvir o seu "Feliz natal" na sua irritante voz de princesa de desenho animado.

-Sim, sim. Feliz natal. O que é que tu queres Maia?... Não obrigado... Tenho mais que fazer... Não!! - ele desliga sem "adeus" ou "até logo" - Onde é que íamos? - ele murmura ao tentar beijar-me outra vez, mas eu desvio-me.

-Não Lourenço. Para.

-Porquê?

-Acabou o clima. - empurro-o e levanto-me indo em direção à cozinha. Agarro no pacote de bolachas e volto para o sofá.

Se a Maia não tivesse ligado...

Amor E PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora