Capítulo 16

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Passaram-se duas semanas. Sempre que falo com o Ricardo, ele parece falar em código porque não percebo nada. E quando pergunto, ele diz que não é o momento certo para contar. Odeio mistério. Pra quê tudo isto? Bom... E o Lourenço... O Lourenço só pensa em organização, organização...

Neste momento, estou no pavilhão a esmurrar o meu saco de boxe. Porque sim. Eu sou a única que mantém compromisso com ele, por isso ele é meu. Oiço o som de um carro, por isso vou até o armário e pego numa faca. O Ricardo entra no pavilhão e sorri quando me vê. Quando ele está suficientemente próximo, agarro-o pela camisola e empurro-o contra a parede encostando a faca no seu pescoço.

-Se não me contas o que se passa, não sei o que te faço... - ameaço. Ele olha para mim tão surpreso que acho que perdeu a fala. - Vais falar ou não?

-Só falo se me largares. - largo a sua camisola - E a faca? - estico o braço para o lado e deixo a faca cair no chão.

-Podes começar. - ele pega na minha mão e leva-me para o sofá.

-Lembraste de quando falamos em sair da organização? - esta conversa não me cheira bem!

-Sim...

-Bem... Há uma maneira!

-Qual? - o meu coração enche-se de esperança. Será que o Renaldo nos vai deixar sair?

-Se denunciarmos a máfia podemos... - não deixo que ele acabe a frase .

-Denunciar a máfia? - falo baixo por medo que alguém nos oiça. - Estás maluco? Isso é pedir para morrer!

-Ouve! Eu já reuni provas suficientes para manter vários membros da máfia  presos durante anos. 

-VÁRIOS. Não são todos. - relembro - E os outros ficam soltos para nos matar?

-Pedimos proteção á policia.

-É perigoso. - tenho medo do que poça acontecer.

 E se não resultar? E se ele morrer? Ele não pode morrer. Para além disso, eu também matei alguém. Não quero pensar nisso agora. Tenho de tirar esta ideia da cabeça do Ricardo.

-Ricardo, eu não acho que seja boa ideia. 

-Eu ainda preciso de mais uma coisa, por isso pensa no assunto. Tens até amanhã á tarde para me dizer alguma coisa. 

-Até amanhã? - ele assente e prepara-se para se levantar, mas eu agarro no seu braço - Porque é que não esqueces isso? - pergunto esperançosa. 

-Eu já decidi. Até amanhã. Não te esqueças. - dito isto ele levanta-se e vai até a porta.

-É pouco tempo. - pouco tempo para te convencer do contrário - Não estás a ser justo comigo.

-Talvez assim faças a escolha certa. 

(...)

Enquanto a água quente toca a minha pele, eu lembro-me do que o Lourenço me disse quando lhe falei em sair da organização. Pelo que ele me disse, eu seria morta. Não quero isso para o Ricardo. Só de imaginar sinto-me péssima.

Saio do banho e enrolo-me na toalha. Olho para o espelho e fico a admirar a imagem. Eu já não reconheço a pessoa do reflexo. Aquela miúda que sofria maus tratos da própria mãe já não existe. Ela transformou-se numa mafiosa. Numa assassina.

Ai... A minha cabeça dói. Preciso de dormir. São 20h. Não quero comer. Vou simplesmente dormir. Deito-me na cama e deixo-me ir pelo sono.

(...)

Abro os olhos incomodada com a luz que entra pele janela. Saio da cama e vou até á casa de banho. Troco de roupa para umas leggingns cinzentas e uma blusa preta. Calço os chinelos e desço para o pequeno almoço.

Amor E PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora