Capítulo I - Piloto

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              Beatrice

Este ano vai ser diferente. Corre uma gargalhada no fundo da minha mente, esta podia tornar-se a minha frase lendária para o início de cada ano escolar. Mas a verdade é que este será o último na Misteroud Fells High School e sinto que sempre que me lembrar disso durante estes próximos tempos, a espécie de nostalgia que parece já crescer dentro de mim vai aumentar cada vez mais. Quer dizer, a Kira já tem um longo plano elaborado para o próximo ano onde todos nós estaremos na Washington Bothell a viver os belos próximos anos das nossas vidas, mas é triste pensar como, em meses, estaremos a deixar Misteroud Fells. A deixar a origem de tantas memórias...: as festas do final de verão com luzes agradáveis por uma determinada extensão da praia; quando todos nós – eu, Kira, Catherine, Thomas, Steve, e mais uma dúzia e meia de alunos com quem falamos de vez em quando (e alguns aos quais provavelmente só tínhamos dito um "Olá" cordial ou um "Desculpa" ou "Com licença") – nos juntávamos e criávamos uma mini-festa no lago à entrada da floresta, sem a confusão de toda a escola e a presença dos Gabarolas do Canto; as tentativas falhadas de uma pequena fogueira ao fim do dia, enquanto comíamos nachos trazidos do Grill; escapadelas da escola quando a última aula eram aborrecidas revisões a espanhol ou apresentações de socorrismo pelo milésima vez desde a nossa vida escolar.

Empurro a gaveta da cômoda branca, fechando-a. O meu nível sentimental está demasiado elevado hoje – ironizo para mim mesma. Salto pelas escadas até ao piso inferior e encontro Mary a surgir atrás do balcão da cozinha.

-Tice! – Ela é a única que me chama assim, e acho que tanto embirrou que consegui habituar-me.

-Pareces surpreendida por me ver. – Deixo a mochila no sofá e fico no corredor do hall, que separa a sala de estar da cozinha.

-Estou atrasada, o meu despertador não tocou. – Abre um saco de pão à pressa e no segundo a seguir está a surgir uma caixa de ovos em cima da mesa.

-Não te preocupes, eu como qualquer coisa na escola. – Vou até ela.

-Até lá não podes ir sem o pequeno-almoço. Anda, cinco minutos e estás a comer.

-Não se eu sair antes disso. – Beijo a sua bochecha, com força que a faz apertar os olhos enquanto sorri.

-Se o teu pai descobrir...

-Ele não descobrirá se não lhe contares. - Viro-me para trás, enquanto levo a alça da mochila até às minhas costas, sorrindo-lhe divertidamente. Mary sempre foi a minha mãe. A única que eu pude conhecer. Ela é parte da família há quase 19 anos, os meus pais contrataram-na para que pudesse ajudar a minha mãe durante a gravidez e para cuidar da casa, e depois de eu nascer e da minha mãe morrer, ela ficou connosco até aos dias de hoje.

-Boa sorte. – É o que posso ouvir no instante antes de fechar a porta.


                                                                              ❊


-Trice. – Chama do meu lado esquerdo e quando vejo, Thomas coloca-se a meu lado, acompanhando-me.

-Hey Thomas. – Sorrio.

-Tão cedo... isso é entusiasmo?

-Eu chamar-lhe-ia de fome e querer chegar ao bar antes de toda a escola cair lá.

-Então acho que teremos de nos apressar. – Dá-me um toque nas costas e meio que ri.

Há apenas uma jovem ruiva a deixar o bar. Falamos sobre como as nossas férias correram. Além disso, estive na capital na última semana – parti depois da festa de final de verão -, ao que ele me pergunta sobre tal. Mas há uma carga energética que me faz abrandar, Thomas não parece sequer dar por isso. Parece distante, mas sinto-a no meu peito, proveniente das minhas entranhas e a difamar por todo o meu corpo. Kira é quem vem do corredor dos cacifos, que dá até a algumas salas do bloco. Apenas Kira. Os seus braços abrem e em dois segundos abraçamo-nos. Suspiro contra o seu aperto.

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