Beatrice
As minhas pernas parecem enferrujadas quando se deslocam até à casa de madeira que se tem tornado o lugar que mais frequento no meu dia-a-dia. Levo a mão pela cabeça, suspirando profundamente. Edwin não demora a abrir a porta pouco depois de eu bater com os nós dos dedos na mesma.
-Olá.
-Bom dia. – Os seus lábios parecem vir de encontro aos meus, ao que gentilmente e da forma mais discreta que encontro desvio ligeiramente o rosto para receber o beijo na bochecha. Contraio os lábios, esperando que ele não se tenha apercebido do meu movimento intencional.
Vou apenas um pouco à sua frente, sentindo-o logo atrás de mim, e surpreendo-me quando encontro Celina e Kira na sala. Procuro explicações ao olhar para Edwin, mas ele apenas afunda as mãos nos bolsos e baixa a cabeça, não parecendo ter nada a dizer-me. É caso para me preocupar de imediato, quando tudo o que pedia para mim mesma no caminho de casa até aqui era que, se houvesse algo para acontecer, que fosse bom. Mais propriamente: que se não fosse mais um dia em que venho até aqui, vejo Clayton, bebo chá e fico sentada no sofá perdida nos meus pensamentos, volto a ver Clayton e acabo por ir cansada sem razão até casa, então que o motivo de deixar de ser um dia tal como estes últimos seja o despertar do rapaz que anseio por voltar a ver consciente.
-O que se passa? – Hoje acordei num estado de desgaste emocional terrível. Ter o coração ansioso neste momento não está a ajudar nem um pouco.
Não obtenho respostas.
-Por favor, alguém me pode dizer o que se passa? – Insisto, pressionando o meu olhar em cada uma das pessoas presentes.
-É melhor eu deixar-vos a sós. – Não entendo o que Celina quer dizer com isso. Abranda à minha frente, dando-me um olhar triste que não posso interpretar. Em seguida, vai embora. Quando ouvimos a porta bater silenciosamente, Edwin levanta apenas um pouco a cabeça e Kira troca um olhar com ele.
-Tem a ver com a Alina? – Suponho que tem sempre tudo a ver com ela. É uma causadora de desgraças ambulante.
-Em parte sim. – Edwin finalmente tem a delicadeza de me responder.
-O que é que aconteceu desta vez? – Questiono quase por cima do final das suas palavras.
Os seus olhos esverdeados conectam-se com os meus, dando-me a entender que irei obter a minha resposta.
-O Clayton acordou.
Resposta essa que me tira o chão, me deixa sem qualquer meio de aguentar a surpresa. Deixa-me numa confusão por achar que não é suposto sentir a felicidade a emergir assim por mim.
-Qual é o problema então? Jesus, eu preciso de ir vê-lo...! – Já impulsionava o meu corpo entusiasmado para sair da divisão, quando Edwin me trava ao agarrar no meu braço e me faz olhá-lo espantada.
-Ele não está lá em cima.
-Como assim não está lá em cima?! – Dou um passo fraco atrás, soltando-me do seu toque e começando a ligar a Alina ao que quer que se tenha sucedido. Edwin mantém-se a olhar-me profundamente com dois pesos nos cantos dos lábios, como se tivesse pena de mim, e isso faz-me sentir terrível e a necessitar que me responda.
-Ele foi com a Alina. – Murmura quando baixa a cabeça.
Os meus ouvidos ainda não sabem se escutaram corretamente.
"Ele foi com a Alina."
Eu sabia que ela não ia conseguir ficar quieta depois de o Clayton acordar.
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the Contact
FantasyBeatrice Walker, uma estudante bem-sucedida e popular no seu grupo de amigos, prepara-se para o seu último ano na secundária de Misteroud Fells. Mas dentro da facilidade do dia-a-dia, ela tem de controlar o dom que nasceu no fruto da sua adolescênci...