Edwin
-Não cheguei a falar contigo ontem à tarde. – Sinto a sua presença atrás de mim. Posso já imaginá-lo encostado à porta, observando cada passo meu e gozando a possibilidade de eu não saber que está aqui.
-Agenda cheia. Desculpa se não me despedi. – Pelo canto do olho, consigo decifrar o vulto agora junto à bancada do móvel da cozinha, no meu lado direito. Não o olho, porém.
-O que é que ela queria?
-Pensei que soubesses. Quer dizer, parece que falam muito de mim. – E depois ele tem finalmente a oportunidade de pregar os seus olhos escuros e zangados nos meus, quando me digno a olhá-lo. – Porque é que andas a falar com ela sobre mim?
-Não achas que ela tem o mínimo direito de saber o que quer sobre ti? Afinal de contas, – Levanto-me, rodeio a mesa baixa de madeira para colocar o meu prato no lava-loiça. – foste tu quem a procurou para nos trazer de volta. - Cruzo os braços contra o peito.
-Se ela quer saber alguma coisa de mim, então prefiro que me pergunte a mim. Dispenso a gentileza de pombos correio. – Sorri sinicamente.
-Ela não confia em ti. Tu intriga-la, eu posso senti-lo a léguas. - Espero a sua resposta.
Ambos sabemos que ela é especial. Ela não é como os outros Visionários. Possui um escudo, que lhe permite ver apenas algumas pessoas. Quando Celina, a bruxa que me tirou do meu inferno, tentou contactá-la através dos seus poderes psíquicos, ela não conseguiu, foi travada por algo superior. Aí, percebeu que existia um escudo protetor em Beatrice.
-Enerva-te, não é? Saber que não era suposto ela conseguir ver-me, mas consegue. – Aproxima-se. – Enerva-te que eu e ela tenhamos uma ligação que ninguém consegue explicar. – E não entendo a sua posição e aquilo que diz. Como se aproxima mostrando-se convicto e crente no que diz, como as suas palavras são sentidas e há uma imagem de brilho nos seus olhos, na minha mente.
-Vocês não têm ligação nenhuma. – Rio-me secamente na sua cara. Quebro todo o fascínio que parece existir em si. - Ela nem sequer te conhece.
Há uma luta de olhares, onde cada um está a ferver com tudo o que lhe corre nos pensamentos. Sai da minha frente.
Enerva-me que ela o consiga ver, sim. Celina não conseguiu explicar-me qual a razão para ela ter um escudo, e quem são as pessoas que ela consegue ver. Apenas sei, então, que Clayton é alguém que está imune a esse escudo. E isso intriga-a. E eu não sei a razão. Mas também me intriga a mim, porque há uma ligação entre eles. Uma ligação inexplicável, sim.
O frio permanece.
-Ela também não te conhece.
Era o que precisava de dizer antes de ir e deixar a sua palavra como a última entre nós, por agora.
Beatrice
-Algum de vocês viu o Edwin? – Pergunto entre o grupo.
-Não, ainda não o vi hoje. – Catherine responde-me.
-Ele faltou à primeira aula. – Steve tinha aula com ele.
-Obrigada.
Suspiro e afasto-me, indo pelo corredor. Estou preocupada.
-Trice! – Ouço Kira atrás de mim.
-Ahm, sim, diz.
-Onde é que vais?
-Não sei - Ia ligar a Edwin. Mas sei que isso pode parecer estranho. Talvez pareça demasiado obsessivo para quem não o viu ontem curvado num banco de jardim a temer o fim da sua existência temporária neste lado. Existência essa, cuja permanência depende apenas de uma pessoa...
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the Contact
FantasyBeatrice Walker, uma estudante bem-sucedida e popular no seu grupo de amigos, prepara-se para o seu último ano na secundária de Misteroud Fells. Mas dentro da facilidade do dia-a-dia, ela tem de controlar o dom que nasceu no fruto da sua adolescênci...