Capítulo XVII - Para seres finalmente meu

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     Beatrice

Por muito que eu e Kira tentássemos, era impossível ignorar o nervosismo que, a cada momento que passava, consumia cada vez mais cada parte de nós. As minhas pernas pareciam bambas quando revia tudo na minha cabeça, o receio de que corresse mal colocava-me mal disposta. Sentia as minhas mãos tão gélidas que custava.

Edwin é a nossa razão para pararmos de dançar em movimentos como que já comandados, entre tanta gente animada. Fico até agradecida pelos momentos infinitos como marionetas finalmente acabarem.

Demora antes de dizer: -Está na hora.

Trocamos um olhar e acho que há um suspiro de ambas a cruzar-se, seguido de engolirmos todo o nervosismo e enchermos o nosso peito de ar e falsa coragem.

-Então vamos. – Talvez estaríamos prontos para fugir de imediato à festa, mas sou mais rápida que isso, quase interrompendo-me a mim própria. - O Clayton?

-Ele já foi. Não te preocupes.

É rápido até chegarmos ao departamento da polícia.

Encontramos, como combinado, Anna nas traseiras do edifício. As nossas respirações estão apressadas à medida que nos aproximamos.

-Trouxeram o que pedi? – Dispensamos quaisquer saudações, acho que todos queremos acima de tudo acabar isto o mais rápido possível.

Kira tira da pequena mochila preta três velas, um isqueiro e ainda um pequeno saquinho branco fechado com algo lá dentro.

-Velas, isqueiro, e aquelas ervas queimadas. – Entrega à mãe de John. Eu e Edwin viemos ter com ela pedir-lhe a sua ajuda-Edwin pareceu-me bastante surpreso ao saber que Anna é uma bruxa, quando, se formos a ver, ele é um morto retornado-, ao que ela aceitou e pediu que entregássemos um papel a Kira com o que precisava, atendendo a que com todo o frenesim do que tem acontecido, só conseguiria chegar a casa mais ou menos a esta hora da noite.

-Agora vamos até lá, rápido.

-Certificou-se de que não haveriam polícias por perto? – Edwin confere.

-Só há alguns nas buscas a estas horas, mas estão nos arredores da cidade. Não arriscaria em perder o meu emprego, por isso não se preocupem. – Andamos em passos largos e enquanto isso penso em como Anna está a ajudar-nos e, mesmo assim, a meter em risco o seu trabalho aqui. Porém, no fim de tudo, ela só está a ajudar a cidade.

Aproximamo-nos do espaço ainda semidestruído. Já não há postes de eletricidade no meio da estrada, mas caídos na calçada do largo em frente à igreja, perto da berma da estrada. A iluminação é fraca, em comparação com o que havia antes. A única luz vem do café e do bar no fundo da rua, atrás da igreja, e de alguns postes de eletricidade para lá da estrada que separa o largo do pequeno jardim.

As cabeças olham em volta imensas vezes, sinto a minha pulsação na ponta dos dedos das mãos. Ficamos entre árvores e caminhos do pequeno jardim e Anna está ajoelhada na relva a acender as velas e a espalhar as ervas queimadas enquanto Kira lhe dá luz com a lanterna do telemóvel. Certificava-me de que ninguém aparecia enquanto a polícia preparava aquilo de que precisava, quando vejo Clayton a aproximar-se na nossa direção. Interrogava-me sobre ele, sobre onde estaria afinal se não era aqui, como Edwin me dissera.

-Fui revistar a área e enquanto que as pessoas mais perto de nós são as daquele bar ali, – Olha para o tal no fim da rua, ainda a alguns metros de nós – mas estão numa saudável competição de quem bebe mais ou canta pior num karaoke horrível, de resto só temos os cafés e restaurantes a dois quarteirões daqui e a não ser que a polícia cause um terramoto, parece-me pouco provável que alguém lá saiba de alguma coisa nas próximas horas. – Esclarece e sinto-me de imediato mais descansada, juro até sentir os músculos das minhas costas relaxarem relativamente. Edwin, a meu lado mas dois passos atrás, parece anotar o que diz e depois afasta-se.

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