Capítulo XXXI - Preciso que voltes

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     Beatrice

-Toma, bebe. Vai fazer-te bem. – Celina, a mulher de cabelos claros, entrega a chávena branca e decorada a azul-escuro com um estilo antigo e esbelto, a Edwin.

Ele corresponde ao que lhe pedem e não me parece que seja algo muito agradável porque torce o nariz e franze as sobrancelhas, com um ar um tanto horrorizando mas curioso, inspeccionando o líquido que acabara de ingerir.

-O que é isto?

-Uma receita secreta. Bebe, acredita em mim. Vais ficar bem com isso.

-Mas eu estou bem. – Insiste.

-Edwin, é melhor ficares na cama por hoje. – Tiro a minha mão que se mantinha moldada ao seu joelho, sendo o contacto separado pelos cobertores, e dou a volta à cama, deixando-me na esquina desta, pronta para sair em breve.

-Acreditem, eu sinto-me normal. Estou bem.

Tanto eu como Celina não dizemos nada em contrapartida, o nosso olhar basta para ele aceitar a nossa teimosia.

-Só hoje. – Aponta o dedo, ao que sorrio e dou-lhe consentimento para tal com um abanar de cabeça.

Sinto Celina afastar-se, ao que fico apenas mais um segundo íntimo na presença de Edwin.

-Descansa, está bem? – O seu olhar é doce em mim.

-Está bem. – Responde e correspondo ao seu sorriso. Deixo-o então, apagando a luz que iluminava todo o quarto, ficando apenas a do candeeiro acesa, e fechando a porta.

Por muito que, inconscientemente, force o meu corpo a chegar ao fim do curto corredor e me mentalize para resistir, tomo então noção dos meus movimentos quando – também sem me dar conta – travo-me depois de apenas dois passos dados e dou de caras com a porta da divisão contrária à que Edwin está.

Memórias da madrugada, gelada e dura, são relembradas. Quando fiz a cama com Kira para, em seguida, ver o corpo imóvel ser deitado na mesma. O corpo que não aguento não espreitar.

Desencosto a porta e encontro Kira sentada num banco a lado do colchão, apoiada com os dois cotovelos no mesmo, séria e pensativa, talvez até esperançosa, observando Clayton.

-Trice. – Dá pela minha presença.

-Devias ir descansar. – Os sacos cheios debaixo dos seus olhos são observáveis a milhas.

-Não me peças para ir dormir quando há tanta coisa a acontecer... – Endireita-se, fechando os olhos e respirando fundo, deixando as mãos arrastarem-se desde os joelhos.

-Acho que não te posso censurar. - E atrevo-me a, pela primeira vez desde que aqui entrei, ver Clayton. O meu coração para por longos segundos, fazendo-me arrepender por não me ter conseguido conter-me e não ter descido as escadas pela alfombra até ao piso inferior.

-Ele é bonito. – Não tenho reação possível perante tal observação. - Como é que tu estás com tudo isto? – A sua mão agarra a minha, trazendo-me de volta à realidade. A realidade que eu queria que deixasse de ser a minha.

Encolho os ombros. – A tentar lidar um bocadinho melhor a cada dia que passa. – Tento esquivar-me ao assunto da melhor forma.

-Refiro-me a ele. – Ligo então o meu olhar ao da mulata, não sabendo o que é suposto responder à pergunta inesperada.

-Tal com tu. – Tento parecer menos aterrorizada do que estou com a falta do rapaz deitado a meu lado. – Acho que é difícil para todos...

-Beatrice, não me tentes enganar. – Aí, é-me difícil engolir ou proferir qualquer coisa. Não sei exatamente onde é que ela quer chegar, ao que me deixo silenciosa na defensiva. – Eu vi os vossos olhares de ontem. E de outras vezes... o que se passa entre vocês?

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