Catherine
Às vezes é irónico como as pessoas podem dizer-nos "Essa não és tu", quando estamos em constante mudança. Tenho-o sentido cada vez mais. Não sou a rapariga que acho que até mesmo a Trice e Kira acham que sou. A confiança e capacidade de tentar esquecer os assuntos e assim mostrarmo-nos mais indiferentes a certas coisas não é assim tão verdadeira. É tudo uma camuflagem para aquilo que realmente somos e sentimos, mas que muitas vezes – o meu caso – nem nós mesmos sabemos quem somos. Elas conhecem uma Catherine sensível no seu interior, qualquer pessoa que conviva comigo há uns anos o conhece. E sabem igualmente que posso ser mais extrovertida, com a cor do cabelo em constante mudança e um nível de despreocupação maior perante certas coisas. Mas isso não acontece com tudo. Porque eu preocupo-me com o que afastou a Trice e levou a Kira atrás, preocupo-me com o motivo para o Steve ter ciúmes e preocupo-me até com o seu sofrimento, quando talvez não o deveria fazer. Eu tenho preocupação dentro de mim, tal como toda a gente. E neste momento, a minha maior preocupação e que a minha mente vai automaticamente tentar esconder, porque é assim que sou, é se tiver de enfrentar o Steve antes de entrar na sala e saber que estou em segurança e não haverá tanto constrangimento porque estamos em aula e não é propriamente o local onde possamos ter uma conversa sobre os nossos problemas amorosos. Não paro sequer no cacifo. Vim uns minutos mais tarde para a escola para ser apenas necessário entrar no bloco e ir até à sala onde terei inglês com todos os outros que sei que, daqui a uma hora, quando o toque voltar a fazer-se ouvir, me irão bombardear com perguntas às quais terei de encher-me de coragem para responder um "Está tudo bem. Não se preocupem.".
Vejo que Thomas vem na direção oposta, de encontro a mim. Abrando apenas um segundo para lhe dar um sorriso em forma de olá e entro então na sala, ignorando alguma coisa que acho que iria dizer-me perante o seu ar preocupado e os lábios já entreabertos. Mr.Scott já está a tirar os livros da sua pasta. Sinto uma mão no meu ombro que prime um botão para o meu coração disparar e confesso que, quando vejo Trice, sinto os meus ombros baixarem de alívio.
-Olá.
-Olá. – Respondo apenas.
-Estás melhor? – Aceno um sim e ela abafa-me o ombro, deixando um sorriso que parece transmitir pena, sentando-se em seguida a meu lado. E eu não quero que as pessoas tenham pena de mim, faz-me sentir como uma constante sofredora ou uma incapaz.
-Muito bem, sentem-se todos. – O homem com vestígios de cabelos brancos fala, começando a escrever as lições e a data de hoje no quadro.
Kira passa num raspão por um dos corredores formado pelas singulares mesas em fila, mas não vai tão rápido de maneira a deixar de parar por um pouco para me dar um olhar rápido e sorrir-me. Retribuo. Mas estranho ela estar atrasada. Kira é a rapariga mais certinha desde o primeiro ano que alguma vez conheci. Ela trabalha imenso pelo que quer e chegar atrasada é definitivamente algo que não lhe encaixa. Na verdade, nada destes últimos tempos encaixa em nós. Ou talvez seja tudo como eu dizia há pouco: estamos em constante mudança, tal como o tempo. E temos de ser nós a encaixar-nos nessa mudança, acabando por ser influenciados. Acabando por chegarmos atrasados quando nunca o faríamos, sendo a razão disso milhões de coisas possíveis agora, mas que há meses talvez não seriam assim tão possíveis. Milhões de coisas essas que neste momento não posso saber por algum motivo que afasta as minhas próprias amigas.
Permito-me depois olhar para o lado oposto da sala, na segunda carteira a contar da frente na fila do canto, e sou rapidamente confrontada com o par de olhos castanhos esbeltos a olharem-me profundamente e toda a estrutura reta e bem delineada da sua face a darem-me arrepios. Ignoro. Na realidade, apenas tento ignorar.
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the Contact
FantasyBeatrice Walker, uma estudante bem-sucedida e popular no seu grupo de amigos, prepara-se para o seu último ano na secundária de Misteroud Fells. Mas dentro da facilidade do dia-a-dia, ela tem de controlar o dom que nasceu no fruto da sua adolescênci...