Capítulo X - Jogo de Vidas

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Beatrice

-Trice? – Sinto que já me chamaram mais que uma vez, mas o meu eu concentrado apenas no meu interior não me permitiu distinguir o meu nome ser chamado antes. Abro um olho e vejo o meu pai com a cabeça a espreitar para dentro do quarto, através da porta que pouco abriu. – Desculpa. Mas está lá em baixo um rapaz que quer falar contigo. Um tal Edwin. - E toda a paz do meu espírito vai e o escuro adormecido do meu olhar onde meditava sem noção do mundo foge de mim.

-Achas que podes dizer-lhe que não estou? – Tento.

-Tarde de mais. – Lamenta. Suspiro.

-Diz-lhe que já desço.

Fecha novamente a porta. Bocejo, possivelmente pela falta do meu processo final de meditação, onde tomaria lentamente a noção da minha respiração, do meu corpo e, por fim, do mundo a meu redor. Apago as duas velas, uma de cada lado de mim. Levanto-me do chão de madeira do quarto e vou abrir as persianas, revelando a tarde um pouco mais solarenga que a manhã deste dia.

Não tenho a mínima vontade de falar com Edwin. Ainda assim, acabo de descer as escadas e o meu pai aponta pela janela, querendo dizer que o rapaz está lá fora à minha espera. Deixo que a porta se feche atrás de mim e afundo as minhas mãos nos bolsos do casaco de fato de treino azul-escuro. Ele desencosta-se do pilar no topo das escadas, um dos dois. Fito o chão.

-Olá.

-Olá. – A minha voz sai estranha. Meio rouca e quebrada.

Silêncio.

-Soube que estiveste ontem à minha procura. – Surpreendo-me por não dizer algo do género de Soube que ontem estiveste a cuscar o meu quarto e o Clayton te apanhou em flagrante.

-Sim sim, eu fui lá a casa.

-Querias falar comigo?

-Ahm sim. Na verdade, deixa estar. Não era nada de importante. – Apenas peço para entrar em casa e só ter de o voltar a enfrentar amanhã.

-Beatrice, eu peço desculpa pelo que fiz. – Não deixo que a minha cabeça continue ligeiramente baixa e olho-o diretamente. – Eu sei que fui um cobarde. Mas não era a minha verdadeira intenção. Eu compreendo que penses que só me aproximei de ti para conseguir convencer-te a ajudar-me e ao Clayton, mas não é verdade.

-Foi tudo uma coincidência, então?

Suspira.

-Não. Não foi tudo uma coincidência. Eu sabia quem eras, mas apenas quando te apresentaste. E não era minha intenção contar-te isto tão cedo.

-Oh, então esperavas adiar ainda mais e continuar a brincar comigo?

-Não, não é isso que eu estou a querer dizer. – Aproxima-se, faz-me ficar quando o meu corpo ponderava em, em breve, entrar de novo em casa e deixá-lo a falar. Agarra-me a mão. Então consegue fazer-me ficar. – O que eu quero dizer, é que nunca te menti. Principalmente quanto aquilo que acho de ti. Tu sabes que não foi mentira. – Fito o chão e engulo em seco. – Olha para mim e diz-me que estive todo este tempo a brincar contigo. – Faz-me olhá-lo quando toca no meu queixo.

Não sou capaz. Nem de dizer isso, nem de dizer nada. Estou demasiado hipnotizada por como os nossos rostos estão a centímetros e, mesmo sem puder sentir a sua respiração, consigo senti-lo mais perto de mim do que nunca, consigo senti-lo no meu peito.

-Deixa-me falar contigo Beatrice. Responder-te ao que quiseres. E acredita em mim.

Todo o meu interior está a batalhar pelo que devo ou não fazer. Sinto o meu instinto e a minha mente a trabalhar uma contra à outra.

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