Capítulo VIII - Perto das respostas

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Beatrice

Estou agradecida por estarmos já no último dia desta primeira e bastante preenchida semana. Enquanto que ela passou num instante, esta manhã parece ter sido mais demorosa que estes cinco dias. Preciso apenas de aguentar noventa minutos de espanhol antes de o relógio marcar as três e meia e o toque da escola gritar aos nossos ouvidos. Mas pergunto-me se conseguirei ficar aqui, porque na verdade, estar ou não estar dentro daquela sala será igual para o meu aproveitamento escolar com o qual não estou minimamente preocupada neste momento.

-Oh!, eu soube que já estão a pedir candidatas para o vólei feminino. – Kira soa mais entusiasmada do que eu.

-Acho que este ano não vou entrar. – Arregala os olhos.

-Futebol? – Nego. – Basketball? – Volto a negar. – A claque? – Aí, faço certamente a minha melhor cara de incompreensão e completo desinteresse. – Por momentos preocupei-me - Fecha o seu cacifo. Faço o mesmo, mas com todos os livros dentro da mochila. – Tu um dia tinhas falado no teatro à frente da escola. – Sugere.

-Não me parece. Acho que mereço um descanso este ano. – Encolho os ombros. Perco-me depois quando vejo Edwin a metros de distância, parando junto à sala de espanhol. É impossível não ter diversas visões da tarde de ontem e sinto todo o meu ser zonzo com o peso que ando a carregar desde aí. – Tu não andas bem. – Kira desperta-me. – O que é que aconteceu com ele?

-Ele?

-O Edwin. – Aponta o seu polegar para atrás do seu ombro. - Andas estranha. E agora não estás interessada nas equipas de desporto da escola!

-Não me apetece, é só isso. – Lança-me um olhar desconfiado e nada convencido. – Eu não vou a espanhol. – Faz uma cara de exclamação, esticando os braços e encolhendo os ombros, como se estivesse pronta a dizer "Vês?! É isto!" ou "Eu tenho razão!". – Eu estou demasiado cansada. – Desculpo-me rapidamente.

-É por causa do que aconteceu?

Demoro a entender o seu ponto.

-Oh, não... quer dizer, talvez. Ainda ando confusa com isso.

-Não te disse, mas depois preciso de falar contigo. Que tal se passasses lá em casa amanhã?

-Eu vou tentar aparecer.

-Tu vais aparecer. – Corrige. Tento sorrir da melhor forma.

Beijo-lhe a bochecha.

-Vê se trazes a minha Trice de volta! – Ouço-a atrás de mim, ainda não muito longe.

Quando saio da escola, o meu primeiro instinto é ir para casa, mas ficar fechada dentro de quatro paredes é tudo o que menos preciso. Sinto-me presa dentro da minha cabeça, dentro do meu peito, dentro de mim. Sinto uma espécie de sufocamento a começar a consumir-me.

Vou vagueando pelas ruas, e dou conta que inconscientemente estou a seguir a direção que me lembro de ontem Edwin ter tomado. Então, paro. E entro num dilema entre seguir a rua que sei que irá chegar à pequena urbanização onde vivo ou cortar para a estrada secundária e meio escondida entre duas árvores, à esquerda. Respiro fundo, e estou a dar um sermão a mim mesma quando não contínuo em frente. Procuro uma razão para estar a ir até lá, mas a única que me ocorre é a minha pura e habitual curiosidade. Magico por segundos um plano onde conseguirei entrar dentro da pequena casa de madeira e procurar alguma coisa sobre Edwin. O quê, eu não sei. Mas desde que me contou que já esteve morto, isso tem vindo a repetir-se e a repetir-se na minha cabeça. Quão macabro é um espírito estar vivo novamente? Talvez ele tenha algo escondido sobre a tal mulher que me disse ser minha antepassada. Alina, é um nome estranho.

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