Capítulo 5

1.4K 101 72
                                    


Adam

Chequers, residência de campo do Primeiro-Ministro, 15 de abril

Pelos idos de 1939, Winston Churchill disse a seguinte frase: "A Rússia é uma charada, embrulhada em um mistério, dentro de um enigma, mas talvez haja uma solução". Na época dos fatos narrados, essa era a melhor definição para Amélia. Obviamente que achava que se derreteria com o email com minha revelação sobre a atração que sentia. Ao invés disso, recebi uma resposta enigmática, dúbia e fria.

Talvez ela não entendia como era difícil que um homem inglês da minha idade, posição e status se declarasse como um amante latino para mulher que deseja. Ah, essas mulheres! Quando achamos que as entendemos, elas vem, nos surpreendem e ainda evocam os italianos!

Fui ver qual era a relação. Bem, ela estava na Itália, foi o que descobri. Justo para o país como o maior número de abutres masculinos do mundo. Discretamente, acompanhei a cobertura da imprensa sobre sua visita ao país. Amélia pareceu-me cansada nas fotos e no vídeo, mas, por incrível que pareça, estava linda de cabelos soltos com grandes caracóis, infelizmente mais magra, mas elegante como sempre. E ria abertamente, mostrando os traços relaxados de seu rosto dourado, falando um pouco de italiano com algum sotaque.

Se estivéssemos em condições normais, pegaria o primeiro voo para Roma e a tomaria de surpresa no quarto do hotel. E tive vontade de fazer aquilo muitas vezes. Todavia com Amélia e nossa situação, não eram nada normais. Conquiste-me, ela dizia. Como se fosse fácil com um oceano e dois governos nos separando.

Em algum tabloide, que pedi para ser traficado por uma fiel empregada, disseram que havia uma quantidade considerável do "bom homem italiano, disposto a sacrificar sua nacionalidade a fim de esquentar as noites frias da bela senhorita Amélia" reunidos por onde quer que ela fosse. Meu Deus, a mulher era uma chefe de Estado!

O primeiro-ministro italiano ficou todo bobo, literalmente derretido, com aquele sorriso dançante nos lábios dela, que se aproveitou da situação e tirou alguns acordos comerciais e avançaram nas negociações sobre questões com troca de tecnologia em alguns setores e coisas do gênero.



Amélia

Cidade do Cabo, África do Sul, meados de setembro

11h20


Ah, como era bom ir à África! Que gente agradável e festiva! O clima em Cidade do Cabo era uma delícia, afinal, era primavera nos trópicos, assim como no Brasil. Além de ser, minha primeira reunião do G20 num país de clima decente.

Ironia do destino ou péssimo trabalho da organização, Adam estava no mesmo hotel que eu. Estávamos até no mesmo andar. Para mim, alguém andava brincando com a segurança dos líderes de governo e estado. Um atentado e ambos morreríamos. A cena de como descobri isso foi, no mínimo, louca. Daquelas para entrar para os anais da história como "Excentricidades dos poderosos". Estava sozinha na suíte que me fora reservada. Havia mandado todos da minha comitiva descansarem enquanto estudava os tópicos a serem abordados durante a cúpula. Ouvi alguém entrar falando com sotaque não identificado "serviço de quarto" e empurrando um carrinho para dentro do recinto. Estranhando aquilo, afinal não havia pedido nada, me levantei e lá estava Adam Crawford vestido com o uniforme do hotel com um carrinho com comida e algum arranjo floral.

- O que diabos você está fazendo aqui, Adam? - rosnei preocupada depois de segundos em silêncio. E sem uma resposta a não ser a expressão mais travessa do mundo, saí fechando janelas e cortinas. Não podia arriscar nossas carreiras com uma foto de um dos homens mais poderosos do mundo vestido de uniforme de hotel no quarto de uma das mulheres mais vigiadas do mundo. - Você está louco, caramba! - controlava meu tom de voz para não ser muito alto. Não podia chamar a atenção.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora