Capítulo bônus: Um dia com a Presidente

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Por Fabiana Pina para Revista Brasileiros*

Era uma quarta-feira qualquer na capital do país. Uma manhã quente de uma quarta-feira de abril com um sol abrasador iluminando a sala de espera do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. Depois de um trabalho enorme de convencimento, havia conseguido, enfim, o direito de acompanhar de perto um dia na agenda presidencial e fora aquela quarta-feira quente a escolhida para isso.

O som de vozes e passos no corredor anunciam para mim e o fotógrafo Guido Albani, que nossa anfitriã está se aproximando e a primeira imagem que tenho da presidente da República seria espantosa para os mais conservadores. Longe das elegantes peças que costuma usar em eventos oficiais, a presidente Amélia Carvalho (39) surge usando calças jeans, uma camiseta básica e um blazer, indumentária muito pouco usual para uma chefe de Estado, mas este é o que se conhece nos bastidores de Brasília como o "estilo Amélia". A alcunha não se limita apenas a maneira ligeiramente informal como a chefe do Executivo se veste quando não tem compromissos oficiais, mas se aplica também ao tratamento com os funcionários, ministros e, quando está a vontade, chefes de Estado e de governo.

"Não é uma forma nova de gerir as coisas", explica a presidente enquanto caminhamos para o café da manhã. "Mas é uma forma mais natural, vamos colocar assim. O protocolo existe e é respeitado, todavia eu e minha equipe temos o direito de nos sentirmos confortáveis para trabalhar".

Segundo funcionários do gabinete presidencial, o método surtiu efeitos. "Há mais diálogo, menos burocracia e menos papel em cima da mesa dela", confessou um animado servidor. "De início foi estranho, mas agora é possível enxergar fluidez do processo de trabalho dela a partir dessa mudança de estilo", aponta outra servidora.

Quem pensar que informalidade significa rédea solta estará enganado, a presidente é uma política conhecida por ser enérgica, observadora e muito atenta a detalhes. "Para o pânico do meu staff e dos ministros, sou workholic", brinca Amélia sem tirar os olhos do smartphone, companheiro inseparável de Amélia. "Gosto de manter as coisas em dia, mas sem descuidar dos detalhes como erros de grafia ou mesmo trechos duvidosos", indica entre um gole de café e uma espiada nos jornais do dia.

Depois do café, um breve tour pelo Alvorada. "Temos um pouquinho de tempo", anuncia a presidente bem humorada ante a pressa de uma de suas assessoras. Passamos pelas salas de Estado e pela suntuosa parte residencial do palácio, e vem a pergunta: a presidente mora sozinha?

"Moro. Não sei qual é o pânico das pessoas em ver uma mulher morar num lugar tão grande sem companhia, mas para mim é algo natural", responde. "Mas se serve de consolo, tem o Scott", aponta para o pequeno terrier branco, presente do primeiro-ministro britânico, Adam Crawford, que se aproxima correndo e latindo para sua dona.


Planalto

Saindo do clima um pouco mais acolhedor e familiar do Palácio do Alvorada, o carro presidencial segue o curto trajeto até o local de trabalho como Amélia chama o Palácio do Planalto. "O trabalho como presidente é como o de um gerente ou diretor executivo de uma empresa enorme", filosofa já dentro do gabinete. "Você precisa ter uma boa equipe perto de você, pessoas capacitadas de técnica e traquejo político, além de manter a inspiração e a motivação de que nosso trabalho pode melhorar a vida de milhões de pessoas".

O critério técnica mais traquejo político formou um time de 29 ministros responsáveis por atender as demandas do país e da chefe exigente. "Ela funciona, muitas vezes, como a advogada do diabo", afirma o ministro do Planejamento, o servidor de carreira Celso Monteiro. "Quando um projeto nosso chega para ela dar o aval, ela faz as perguntas mais capciosas do mundo e assim expõe as possíveis falhas do projeto. Isso criou uma cultura de preparação muito grande entre os ministros". "A presidente é uma mulher sensível às limitações que o governo pode ter, mas é enérgica, gosta de ver as coisas acontecendo, funcionando. Motiva, mas quer resultados", diz a ministra da Fazenda, Isabel Albuquerque, responsável pela estabilidade econômica do último ano.

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