Amélia
São Paulo, 27 de maio
Quatro meses se passaram até que eu pudesse estar novamente nos braços de Adam. Nesse tempo, ia trabalhando com uma serenidade como nunca tive antes. Já não tinha o peso de ser um modelo de perfeição com o objetivo de ser eleita. Me conduzia, portanto, mais livremente, quebrando este ou aquele protocolo enquanto meu inglês não voltava para terras tupiniquins. A cada uma desse romper protocolar, recebia uma ligação de um Adam quase apopléxico, afinal é preciso lembrar que o homem nasceu sob os signos das tradições aristocráticas - fato que sempre negou.
Era a noite de uma sexta-feira longa e cansativa quando consegui por os olhos nele. Estava em São Paulo para participar de uma conferência internacional sobre educação. Passara o dia com um bom humor discreto e casual, mas lá no fundo, estava inquieta. Quando enfim cheguei ao apartamento, minha residência antes de me tornar uma política, encontrei uma cena fofa: Scott e Theo, nossos mascotes, estavam com pequenas gravatas borboleta diante da porta, resfolegantes e feliz por algo que me escapou.
- Meninos, que coisa mais fofa! - disse claramente derretida afagando os pêlos macios de ambos os cães com a ponta dos dedos. - O papai colocou essa gravata em vocês, hm?
- É para uma ocasião especial....- ouviu-se então a voz de Adam irrompendo de não muito longe. Percebi que ele estava o tempo todo na sala, mas o que mais chamou a atenção é que o homem estava vestido para uma ocasião de gala.
- Vamos sair? - perguntei curiosa aproximando-me lentamente de sua figura alta e elegante cujo os olhos azuis causavam reações indizíveis em mim.
- Não... - negou com um tom baixo depois de roubar-me um beijo fugaz. - Dê uma olhada melhor no Scott, Amélia.
Estranhando aquilo, peguei o agitado Scott no colo e vi que nele havia uma mochilinha preta presa ao seu dorso. Lembro-me bem que olhei do cão para Adam e, neste, vi surgir um sorriso de quem estava cometendo alguma travessura. Abri o seu conteúdo e encontrei uma caixinha de veludo preto.
- Jesus... - murmurei olhando o objeto enquanto me esforçava para manter Scott parado.
- Vem cá, garoto - vendo a minha dificuldade em manter o pobre cão parado, Adam tomou a criatura do meu colo e o deixou livre no chão. Depois disso, ele voltou ao silêncio contemplativo enquanto eu, perdida entre mil pensamentos e paralisada pela concretude daquela simples caixinha, tentava atinar as coisas e deixá-las fluir. - Não sou o homem mais criativo do mundo, mas eu tentei. - disse baixinho logo atrás de mim. - Por Deus, abra a caixinha, mulher...
- Ah sim, sim... - balbuciei baixo enquanto abria a tal caixa. Ali dentro, estava o anel. Um belo anel de diamante verde rodeado por pequenos brilhantes, delicado, simples e tão significativo me devolveu um brilho elegante e sóbrio. - Adam....é...
- É seu... - disse-me apoiando as mãos sobre meus ombros, sustentando-me com sua presença sólida. - Amélia, o mundo já sabe que é você que eu quero. E, tenho a impressão, que até você saiba disso. - não olhava em seu rosto mas tinha a clara certeza de que ele sorria. Sua voz mudava de tonalidade quando isso acontecia. Ficava aberta e quente como um abraço acolhedor. - Eu não preciso de um papel dizendo que você é minha mulher, pois você já o é. Todavia, você merece ser empossada a altura como minha esposa, por isso começo do básico, entregando esse anel que está na minha família há gerações. - antes que pudesse falar qualquer coisa, ele ficou diante de mim e retirou a delicada peça de dentro da caixa segurando minha mão esquerda - Talvez seja petulância da minha parte, mas não preciso pedir aquilo que já é meu, mas se você tiver algo contra ser a senhora Crawford, o momento de dizer é agora, querida.
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A diplomacia do amor
RomanceEsta poderia ser aquelas histórias onde dois estranhos se encontram numa ocasião qualquer, jantam, se conquistam e se apaixonam loucamente, mas não é. Algumas dessas coisas, talvez, aconteçam com Adam e Amélia, mas vocês vão entender que nada é tão...