Capítulo 6

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Adam

Salvador, meados de dezembro

Depois de uma visita ao Uruguai, desviei minha rota para o Brasil. Na verdade, não foi um desvio vindo da minha vontade de ver a Amelia, mas nossas equipes haviam agendado uma muito providencial uma audiência informal e privada a fim de demonstrar ao mundo que, além de líderes políticos, nos dávamos muito bem no âmbito pessoal. Eles nem imaginavam o quanto!

Ela estava no nordeste do país, lugar de muito calor naquele dezembro. Estava hospedada em uma base naval na Bahia, em clima de férias. Fora combinado que passaria um dia e meio ali, portanto, cheguei cedo com o helicóptero pousando na base.

- Seja bem-vindo a nossa primeira capital, primeiro-ministro - ela estava bronzeada ao me receber e tinha um sorriso que se abria nos lábios como se pedisse para os meus abraçá-los. Coisa que obviamente, não pude fazer. - Espero que tenha feito uma boa viagem.

- Obrigado, presidente. A viagem foi adequada. Aqui faz um calor, não? - umas gotas de suor escorregavam pela minha testa, brotando Deus sabe de onde. Estávamos caminhando lado a lado na direção de alguns militares que nos aguardavam.

- Ora, senhor Crawford, o tempo hoje está ameno. Faz 28 graus, mas a brisa do nosso Atlântico está refrescando um pouco o calor - ela comentou com um riso querendo lhe escapar no canto dos lábios. - Logo poderá tirar essa roupa quente e vestir algo adequado. - me informou num sussurro antes de chegarmos perto da comitiva que nos aguardava.

- Mas não trouxe roupa de litoral - comentei baixinho seguindo ao lado dela.

- Eu já providenciei isso...- sussurrou de uma piscadela e ali vi a Amélia-mulher dando um pequeno sinal de vida antes de me apresentar para os administradores da base. Depois de uma ou duas amenidades trocadas, ela voltou a se dirigr a mim. - Nosso fotógrafo está bem ali na frente. Fazemos algumas fotos e você vai descansar -. Amélia, como presidente, não era autoritária, mas sabia se impor e, naquele exato momento, fazia isso comigo.

- Sim, senhora - brinquei rindo quando nos aproximamos do fotógrafo. Seguiu-se todo um protocolo que me tirou a atenção dela, que parecia muito a vontade. Acabadas as formalidades, seguimos para a residência onde ficaríamos e ela me apresentou o quarto pessoalmente. Não era luxuoso, mas era adequado e tinha uma boa vista para uma praia de areia clara, abraçada por um mar verde azulado.

- Não é uma beleza arquitetônica de quarto com aquele entulho que o pessoal da limpeza sofre para limpar - ela comentou passando um olhar clínico pelo quarto até pousá-lo em mim. - Mas a vista e a companhia compensam... - pude perceber uma piscadela travessa dela destinada a mim.

- Disso, Amélia, eu não tenho dúvida - respondi andando pelo quarto descrevendo um circulo até chegar perto dela. - Principalmente pela companhia - Estávamos parados um ao lado do outro encarando direções opostas. Eu olhava a janela que me mostrava um horizonte azul esverdeado enquanto Amélia encarava a acomodação que me fora destinada.

Como sempre acontecia quando estávamos a sós e tão perto um do outro, um longo silêncio imperou entre nós. Talvez isso acontecesse pelo simples fato de que queríamos sentir a presença do outro, já que ambos passávamos meses e meses sem nenhum contato físico. Ou ainda, de minha parte, porque gostava de ouví-la dar aqueles pequenos e discretos suspiros que ela achava que ninguém ouvia. Não sei, e talvez nunca saiba o motivo exato disso, apenas deixava acontecer até sentir a falta da voz dela.

- Senti sua falta - parecendo adivinhar meus pensamentos ela falou logo após um daqueles suspiros doces. Não me olhava ainda, mas tocava os dedos da mão nos da minha com delicadeza.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora