Capítulo 7

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Amélia

Londres, segunda quinzena de dezembro

O mundo estava de pernas para o ar e ninguém se dignava a saber onde ele estava! Nenhuma aparição na televisão, nenhuma nota do governo, nenhuma fofoca em algum bendito tabloide, nada. O mais frustrante era que eu não poderia me dar o luxo do desespero.

Para entender o que havia acontecido, é preciso voltar no tempo. Mais exatamente no ponto onde precisaria confessar que assim que o helicóptero levou Adam embora, me esgueirei até seu quarto e deitei na sua cama ainda com lençóis revoltos, quase mornos da presença do homem que passara a noite ali. Em mim, tudo era caos, confusão e saudades. Saudade esta que, se antes era refogada em fogo brando, naquele momento, ardia alimentada pela lenha de uma separação mal resolvida. Afundei-me no travesseiro e absorvi cheiro que ainda estava impregnado ali de uma forma tão indelével que tive a certeza que nem a mais poderosa lavagem poderia apagar aquele aroma.

Eu era caos. Era raiva e frustração que se somavam a uma miríade de sentimentos e se transformavam, por fim, em lágrimas silenciosas, calmamente absorvidas pelos lençóis e fronhas. Eu o queria, isto era inegável. Desejava Adam de todas as formas que uma mulher saudável poderia desejar. Ainda assim, não nego que gostava de ser presidente. Ambas as coisas não poderiam coexistir por muito tempo sem causar danos irreparáveis. Todos esses silenciosos pensamentos escorriam salgados pelo meu rosto, agitados, famintos.

O cansaço deve ter me envolvido, pois, em dado momento, adormeci com os olhos pesados de choro, pateticamente agarrada a um travesseiro como uma adolescente de quinze anos. Parecia - e era - uma dramática cena de comédia romântica faltando apenas uma balada triste como trilha sonora e uma chuva fina caindo lá fora.

Meu despertar contou com a participação ativa do homem mais silencioso da terra: papai. Senti seu toque paternal e desajeitado em minhas costas. Sua voz suave e pacífica me chamou até que fosse restituída ao mundo dos despertos. Seus olhos escuros me sorriram com a serenidade de quem sabia que havia algo errado.

- Ah, papai - suspirei com o tom "garotinha do papai" de minha voz. Na hora, não me importei muito com isso. Acho que isto pode se chamar de prerrogativa de filha.

- Memélia, Memélia - seu Roberto soltou o ar lentamente enquanto acariciava meus cabelos como fazia quando era pequena e o mundo me frustrava porque me parecia errado. - Me parece que, novamente, você optou pelo caminho mais complicado.

A placidez dos olhos de meu pai indicavam que desconfiava de algo. Algo me dizia que Roberto Carvalho desconfiava que a filha estava se metendo numa encrenca de olhos azuis e sotaque britânico.

- E, nessa vida, há um caminho mais fácil, seu Roberto? - resmunguei enfiando o rosto de forma pouco adulta e presidencial no travesseiro.

- Se houvesse, seria muito aborrecido. - disse meu pai e supos que tivesse com aquele quase sorriso misterioso nos lábios tão característico dele. - Devo lembrar que você, minha filha, tem uma atração profunda pelo complicado? Escolheu a faculdade mais desafiadora, depois os empregos mais complicados e, a menos que eu perdi a capacidade de ler o que se passa com você, escolheu o homem mais complicado. - papai fez uma pausa como se ruminasse um pensamento - Ainda assim, você foi a melhor da turma, é uma profissional realizada e, agora, talvez tenha alguma chance real no amor.

- O senhor acha? - perguntei incerta, voltando a encarar aquela figura tão segura.

- Acho - assentiu seu Roberto passando os dedos pelo meu rosto como se decorasse seus traços. - Mas é você quem tem que descobrir isso sozinha, Memélia. Descobrir o que quer consigo e com o senhor Crawford. - Acho que você tem algumas semanas para pensar a respeito antes do recital da sua sobrinha em Londres.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora