Capítulo 13

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Amélia

19 de março

Nunca vou me esquecer daquele dia. O pior da minha vida, tenho certeza. Uma manhã cinzenta abafada e sem chuva enquanto o carro seguia o comboio até o cemitério. Adam estava logo ao meu lado, segurando minha mão, como havia feito naquelas últimas 48 horas. Eu havia cedido a insistência dele em permanecer comigo durante todo do enterro. Quase havíamos discutido sobre isso, mas ele me venceu pelo cansaço e lá estávamos nos assumindo diante do mundo, por assim dizer. Logo ao sair do carro, nos deparamos como os malditos jornalistas que, ao tentar avançarem sobre nós, tiveram um encontro com os agentes que faziam a minha segurança. Ali foi a primeira oportunidade de fotos e questionamentos.

- Abutres - resmungou Adam baixinho e quase sem mover os olhos guiando-me para dentro do cemitério, que fora fechado para pessoas de fora da família.

Foi um enterro simples com um sermão sobre amor feito por um reverendo amigo da família e com a presença de mamãe, que estava desolada, de meus irmãos, cunhadas, sobrinhos, tias, tios e primos, além de Adam, que permaneceu atento a mim e a mamãe. Enquanto o reverendo falava sobre o papai, a imagem dele me vinha a mente com sua calma, seu silêncio, seu mimo, enfim, seu jeito pai de ser. Um homem que criou cinco filhos com o esforço de seu trabalho e o de mamãe. Apesar de seu eterno silêncio, meu pai sempre fará falta e isso me doeu porque ele seria o outro homem que me deixaria na saudade além de Adam. Não sei se de tristeza ou cansaço, mas chorei e não foi pouco. Recebi conforto nos braços de Adam. Ali desabafei a dor da perda, de todas as perdas que sofria, afinal papai havia partido e Adam partiria.

- Quando estiver pronta me avise... - sussurrou apertando o abraço e beijou meus cabelos.

- Melhor que a gente vá... - respirei fundo secando as lágrimas enquanto reunia um pouco de coragem que me restava. - Ainda temos que encarar o resto do mundo...

- Que venha o resto do mundo, querida - sorriu e segurando meu rosto, beijou-me a testa. Ele tomou minha mão de forma natural como namorados normais faziam e assim fomos para o carro e, consequentemente, para a multidão de jornalistas que nos aguardavam.

- Presidente...presidente...você e o primeiro-ministro estão juntos?

- Presidente, não é desrespeitoso trazer seu namorado para o enterro do seu pai?

- A senhora não acha que as suas ações vão ser questionadas a partir desse relacionamento?

- Agora que está namorando a presidente, o que acha da mulher brasileira?

- Vocês pretendem se casar?

- Por que esse segredo todo?

Foram algumas das perguntas ouvidas por ambos antes que pudêssemos entrar no carro.

- Você está bem? - ele segurou minha mão e a beijou.

- Eu ficarei... - suspirei sem cabeça para pensar na tempestade que se aproximava.



Granja do Torto, 20 de junho

A tempestade se instalou no dia seguinte ao enterro de papai. Primeiro, as capas de revistas e de jornais recheadas de especulações e fontes off falando muita besteira sobre o meu relacionamento com Adam. Depois, os imbecis da oposição, se apoiando nessas informações que envolviam cenas tórridas de amor no escritório da presidência, entraram em ação falando na minha falta de ética e moral e pregando minha saída do poder.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora