Capítulo 12

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Adam

Londres, 17 de agosto

Dona Raposa,

Mais de dois meses sem falar com você a não ser por aquelas malditas mensagens de celular. Estamos sem tempo, não? Ossos desse ofício que é a terceira pessoa nesse relacionamento, pessoa essa que nos separa mais do que qualquer outra coisa nesse mundo. Não parece trama de filme? Estou divagando, me perdoe, minha querida.

Soube que você está gripada. Tem se cuidado? Amélia, você precisa se alimentar e parar de trabalhar até tarde. Lembre-se: delegar para sobreviver. Sobreviva para mim, sobreviva para que fiquemos juntos daqui alguns anos. Minha real vontade, para além de resolver os problemas mundiais, é estar no Brasil para cuidar de você e te mandar para a cama quando teimar em atender um de seus ministros.

Como não posso fazer isso pessoalmente, me contento em vigiá-la por olhos amigos que podem cuidar de você quando não posso. Obviamente que não contarei quem são os anjos que velam você para mim. Mas saiba que são boas pessoas.

Bem, enrolei ainda mais para dizer que descobri uma palavra em português que define exatamente o que sinto neste momento em relação a você: saudade. Sinto saudade das pequenas simplicidades que para nós são tão especiais como acordar e dormir com você ou voltar para você no fim do dia. São nessas pequenezas que sinto mais sua ausência e que sinto mais distantes os dias em Crawford Hall onde éramos apenas homem e mulher sem as complicações do cargo ou protocolos.

Devo dizer, portanto, minha adorável mulher, que te amo assim sem protocolos, acordos comerciais ou decretos. Te amo quando ninguém vê e quando todos nos veem. Sinto sua falta de uma maneira bem insuportável e dolorosa, principalmente agora que adoraria mimá-la um pouco por estar gripada.

Do morto dessa coisa chamada saudades,

A.C



Amélia

Porto Alegre, 15 de agosto

O email de Adam foi lido dias depois de sua chegada. Justamente depois que a maldita gripe me largou. Duas coisas a dizer sobre ele: o homem estava me espionando e era o ser mais adorável do mundo, um verdadeiro poeta na arte de escrever emails e um especialista em me fazer derreter inteira como ninguém mais conseguia.

Li e reli aquele email tanto que já o tinha de cor principalmente aquela declaração tão simples, mas tão significativa para este algo chamado nós. Confesso que uma lágrima me desceu como se fosse um choro incontido quando li sobre nossa boa e velha saudade em português.

Querido,

Esta coisa de espionagem já azedou as coisas com os americanos e agora você, justo você, me vem com essa, meu amor. Teremos que discutir isso com a seriedade que o assunto merece. Quanto a gripe, graças a Deus, ela me deixou depois de quase uma semana onde toda minha equipe mais próxima pareceu insistir em me deixar na cama. Tenho a sensação de que você e mamãe estão mancomunados nisso, pois ela ficou comigo durante todo o período. Contadas as coisas banais, vamos a nós.

Você poderia parar de ser tão adorável e de fazer com que me derreta quase que por completo como fez no último email? Ah, Adam, que situação dramática esta que nos encontramos! Queria sair mostrando o quão lindo é o homem que eu amo para todos e não posso. Meu orgulho de mulher está bem ferido por não poder mostrar sua declaração de saudade e de amor. Tenho que fazer piadinhas e ser irônica para não romper de chorar a falta que me fazer descansar minha cabeça no seu peito e ouvir você falando que tudo está bem. É algo infantil, mas é disso que eu preciso.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora