Capítulo 8

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Amélia

Fim da primeira quinzena de dezembro

Encurtei minha estada com Adam a fim de que seu plano pudesse ser colocado em prática com brevidade. Assim, dei um até breve a gelada Cúmbria e retornei a Londres dois dias mais tarde. Nem preciso falar que, quando apareci no início da tarde na casa de meu irmão mais velho, recebi uma torrente de perguntas de todos. Usei a solenidade quase sacerdotal do meu cargo para respondê-las com a desculpa de assuntos confidencial, algo que estava quase certa de que teria que me valer novamente. O efeito geral dessa estratégia foi positivo, apesar da desconfiança de Paulo, a curiosidade de Joane e o deslumbramento com os supostos poderes quase paranormais que meus sobrinhos devem atribuir a mim.

Me permiti descansar durante a tarde e deixar o pensamento vagar sem nenhuma timidez até os momentos passados nos braços de Adam. As delícias do calor do corpo dele, a suavidade de seu toque, a masculinidade de seu cheiro, a respiração tranquila de quando ele estava dormindo. Revisitava assim as lembranças dos últimos dias e ansiava pelo futuro, pela promessa de estar novamente afogada na curva do pescoço de Adam.

- Amélia, você ainda não está pronta? - ouvi a voz de Paulo me chamar do mundo dos sonhos. A noite já havia abraçado aquele hemisfério e a escuridão envolvida meu quatro enquanto o sono embotava minha mente.

- Pronta? - questionei ainda perdida, zonza e ainda com imagens de Adam me rondando. - Para o quê?

- O recital da Bia! Você não esqueceu, não é? - a voz dele parecia impaciente como todo irmão mais velho fazia. Sim, havia esquecido completamente, mas, obviamente, não falaria para ele, afinal seria uma arma poderosa para que tripudiasse de mim.

- É claro que não, maninho. - me defendi com um tom ofendido - Estou terminando de me trocar - dizendo isso saí da cama para trancar o quarto e corri para o banheiro. Juro que foi a troca de roupa mais rápida que uma mulher fez na história. Em 15 minutos, estava banhada, trocada, com os cabelos relativamente decentes, maquiada e perfumada para assistir minha sobrinha me encher de orgulho.

A época, Beatrice tinha 17 anos e era um pequeno gênio ao dedilhar um piano. O recital seria no auditório do prédio clássico da Royal Academic of Music, onde ela fazia aulas todos os dias depois do colégio. Passei incógnita pela maioria das pessoas, mas este ou aquele vieram me cumprimentar ou trocar amenidades comigo. Era uma noite fria e iluminada com as luzes de natal por todo lado.

- Senhorita Carvalho? - abordou-me uma voz que reconheci como sendo a de Adam. Havia acabado de terminar uma conversa agradável com um senhor argentino quando a presença do primeiro-ministro pairou atrás de mim.

- Senhor Crawford! - exclamei achando que aquilo poderia ser fruto da minha imaginação. Ao virar, tinha desenhado nos lábios um sorriso inevitável para ele. - Mas que surpresa!

- Recebi um convite de minha prima, que é diretora da Academia. Sabe o quanto aprecio música... - mentiu de forma solene e descarada, indicando isso com o erguer da comissura dos lábios. - Soube que Beatrice vai tocar hoje - disse-me oferecendo o braço galantemente para que entrássemos no auditório, pois o sinal anunciando o início da apresentação começara a tocar.

- Mentiroso - sussurrei antes de responder com um riso nos lábios - Sim, ela vai. Tinha me esquecido disso, mas nem comente isso com meu irmão.

- Mentiroso não, minha querida, político como você - respondeu em meio tom enquanto se adiantava para meu irmão que nos aguardava no final de um corredor. - Professor, que prazer em revê-lo. Senhora Carvalho e jovem Peter, também é um prazer - ele usava aquele tom simpático que tinha e fez todas as perguntas adequadas e polidas que um cavalheiro faria, tirando sorrisos de todos meus parentes e um suspiro divertido de meu irmão. Não demorou muito para ele ouvir o que queria.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora