Capítulo 3

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Adam

2 de janeiro, Palácio do Planalto, Brasília

Enquanto em Londres estávamos morrendo de frio com temperaturas abaixo de zero, no Brasil, fazia um tempo abafado, seco. Tanto que mal conseguia ficar com o terno e ainda era de manhã. Naquele primeira vez que via Brasília a encontrei jovem. Entenda que, para mim, morador de uma cidade milenar como Londres, qualquer lugar com menos de cem anos é, no minimo, jovem. Uma jovem moderna, cheia de curvas e traços rápidos. Mesmo a noite, horário no qual desembarquei na capital, era possível ver que tudo parecia ter saltado da prancheta de um arquiteto. Bonito, mas um tanto antinatural, pensei novamente na manhã da posse quando o carro ia deslizando pelas ruas da ensolarada cidade.

Durante o trajeto, vi milhares e milhares de pessoas nas ruas com bandeiras do país, dançando e celebrando como se aquela fosse uma data festiva e não uma cerimônia política. Talvez fosse uma idiossincrasia local, muito diferente do que estava acostumado.

Do que parece ser o hall principal de um Palácio chamado Planalto, acompanhei por um telão o cortejo de Amélia. Um carro antigo a aguardava diante de uma catedral moderna. Era a primeira vez que a via desde que cheguei ao Brasil. Ah, que visão! Vestia branco, algo parecido com que usou ao me visitar. O vestido realçava as curvas generosas de seu corpo feminino. Para minha infelicidade, os cabelos, tão bonitos quando soltos, foram domados num penteado elegante, permitindo que seu rosto de traços nobres e os olhos verdes estivessem em destaque. Conforme o carro avançava, as pessoas gritavam, acenavam, agitavam bandeiras e chamavam por ela, que lhes respondia com acenos, sorria sem nenhuma discrição e até lhes atiravam beijos. Vi ali uma troca, quase uma sintonia entre povo e político.

Após o juramento no parlamento e um rápido discurso, Amélia seguiu para o Palácio. O barulho da multidão aumentava conforme o veículo se aproximava. Logo, um rugido se fez ouvir e pude ver de longe a figura sorridente de Amélia desembarcando em frente à rampa do Palácio. No topo da rampa, ela encontrou a presidente de saída, que a aguardava com uma faixa com as cores do país, verde e amarelo. As duas mulheres se abraçaram cordialmente e logo, como num ritual de passagem, a que saía passou a faixa para Amélia. Houve mais uma explosão de gritos e aplausos que deixou metade de nós, lideres estrangeiros, atônitos com toda aquela comoção.

Demorei para encontrar-me com ela. Depois de um discurso para o povo e da posse dos ministros, formou-se a fila de estrangeiros para cumprimentá-la. Fui posto logo no começo da fila atrás apenas de alguns presidentes latinos e um ou dois colegas europeus. Devo confessar, sob pena de ser indiscreto, que nunca uma faixa oficial ficou tão sensual no corpo de um chefe de Estado. Descia-lhe pelo ombro, passando a frente dos seios, correndo serenamente pelo abdômen e chegando com graça a cintura dela. Outra confissão meio vergonhosa é que a imaginei nua apenas com a faixa cobrindo parte do corpo. A visão me agradou muito.

- Senhor primeiro-ministro, que surpresa! - ouvi uma voz se dirigir a mim, devolvendo-me ao mundo real. Estava perto o suficiente de Amélia para reparar a transformação pela qual havia passado. A mulher que esteve comigo em audiência em Londres passava a encarnar uma autoridade no auge de seu poder e o fazia muito bem isso com um ar altivo e um aperto de mãos firme, mas discreto no canto dos lábios, vi a lembrança do sorriso da mulher que almoçou bolo de carne na minha cozinha. - Obrigada por vir... - deixou escapar baixo, quase sem mover os lábios.

- Senhorita presidente - respondi ao cumprimento encarando-a nos olhos verdes por um momento fugaz, pois logo flashs pipocaram e registraram para a história aquela saudação. Cumprido o protocolo, deixei-a com os demais líderes e pude desfrutar do coquetel servido. De meu lugar discreto, cercado por alguns membros da comitiva que me acompanhava, aproveitava para observa a presidente empossada em seu habitat natural. Como supunha, atuava como senhora de si envolta num grupo predominantemente masculino. Sorria, ria e conversava, mas era a presidente, a grande figura política do país, e tal qual o sol, atraia outros astros maiores e menores para sua órbita.

A diplomacia do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora