Matéria do repórter Henry Pointers publicada no The Guardian
A propriedade número 26 da Berkeley Square se passa por uma casa normal de uma família tradicional e um tanto quanto abastada. Talvez, fosse ainda mais simples do que se espera com sua fachada branca de traçados simples, neoclássicos. Não denuncia em nada quem são os seus habitantes. É uma residência de três andares no coração luxoso de Londres: o bairro de Mayfair.
- Sr. Pointers? Espero não tê-lo feito esperar.
A voz que ouvi era da dona da casa porém, ao contrário do que eu esperava, não veio de dentro da residência, mas detrás de mim. Não poderia estar mais espantado ao me virar e ver a senhora Crawford na companhia de dois terriers que corriam e resfolegavam animadamente em volta de sua dona. Uma cena inusitada dado ao não muito distante passado daquela mulher que me sorria como se fosse um velho amigo.
A vida que ela leva agora é a da senhora Crawford, jornalista, consultora, esposa, mãe e dona de casa e está muito distante dos anos durante os quais fora responsável por um país de proporções continentais. O que é esta nova vida em comparação a antiga? Enquanto caminhamos pela casa, Amélia responde com o ar de quem já havia pensado sobre isso:
- É totalmente diferente, chega ser impossível comparar, afinal estão em dimensões diferentes.
Talvez ela tenha razão e seja, de fato, impossível comparar os desafios de uma ou outra coisa, mas não é possível desassociar a presidência e o casamento com o ex-primeiro-ministro conservador Adam Crawford (50), afinal se Amélia Carvalho Crawford (47) não tivesse sido presidente do Brasil, não teria conhecido o então premier, nem viveria o romance mais comentado dessa década.
Uma outra faceta da ex-presidente, talvez desconhecida do público, que se revela diante de mim é a de mãe. Falávamos sobre uma amenidade qualquer quando um tropéu de pés foi ouvido se aproximar e logo duas crianças surgiram na entrada com sorrisos travessos idênticos. Alice e Robert Crawford (5) causam um sorriso orgulhoso imediato na mãe e, ao se depararem comigo, um estranho, se aproximam e tecem um roteiro bem mais interessante de perguntas do que o que tinha aos seus pais.
- O senhor vai ficar seguindo mamãe e papai o dia todo?
- Vou sim, pequena.
- Por que? O senhor não trabalha?
- Crianças, vamos deixar o Sr. Pointers em paz.
Agora, uma quarta voz se soma a conversa e a figura alta de Adam Crawford surge com o que parecia ser um pequeno riso divertido preso nos lábios. Longe do poder há seis anos, o ex-primeiro-ministro não envelheceu. Possui os mesmos cabelos castanhos escuros, ainda que fios prateados revelem que aquele homem já viu algumas décadas a mais. Não há o ar de enfado ou de lamento que se apossam dos políticos que se retiram de cena. Assim como a esposa, ele parecia feliz ao se reunir a nós, depois de pedir que os filhos fossem ajudar a empregada a fazer alguma guloseima na cozinha.
- Você os mima.
- Não tanto quanto a senhora, dona raposa.
Marido e mulher parecem ser um dos raros exemplares de parceria feliz. Enquanto falávamos sobre política e o evento da tarde, trocavam olhares cúmplices como se mantivessem consigo o segredo de algo.
- O fato é que a maioria se surpreende quando descobrem que se há algo que eu e Amélia somos radicalmente diferentes é o que nos uniu. A política é um ponto de discórdia entre nós.
- Não é bem discórdia, querido. Não ficamos vociferando um com o outros sobre nossas diferenças, mas há essa pendência, dentre outras no nosso casamento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A diplomacia do amor
RomanceEsta poderia ser aquelas histórias onde dois estranhos se encontram numa ocasião qualquer, jantam, se conquistam e se apaixonam loucamente, mas não é. Algumas dessas coisas, talvez, aconteçam com Adam e Amélia, mas vocês vão entender que nada é tão...