Sônia Carvalho
Hospital de Base do Distrito Federal, 22 de julho
Sei que você vai ficar brava quando perceber que eu escrevi em seu diário, minha filha querida, mas é necessário relatar o que aconteceu nos últimos dias. Você tem passado por provações que eu daria minha vida para que tudo fosse mais fácil para você, mas este é o caminho que você escolheu trilhar. Como seu pai diria, "Amélia sempre escolhe o mais difícil". Os últimos dias provam isso.
Eu disse a você para não sair aquele dia para aquela maldita coletiva de imprensa. Era visível que você estava tão debilitada, cansada e triste, mas se há algo que você herdou de mim foi a teimosia, minha pequena. Você foi corajosa e tão tola. Corajosa por assumir esse quase casamento de almas entre você e o Adam diante do mundo e tola por fazer isso tão doente. Quase morri quando vi seu corpo caindo lentamente e ninguém para ampará-la. E acho que tenho morrido a cada manchete maldosa sobre você na imprensa desde então. Ele a acusaram de estar fingindo, deram a entender que era um teatro, uma farsa! Biltres! Abutres! Corvos! Infelizes! Você quase morrendo com esta febre que não cessa, esses delírios que não a deixam e esse pulmão carregado e eles achando que é faniquito encenado!
Todavia, querida, você nem imagina! Muito se subestima o povo desse país, mas, nessas horas angustiantes, eles têm demonstrado serem muito, muito mais espertos do que se supõe. A Bia, que falou comigo pelo telefone, disse que naquela tal de rede social, os jovens tem pedido para você ficar no governo e fizeram uma...has...hashtag (aquela cerquinha do telefone, sabe?) "ficabemAmelia". Não é bonitinho?
Aqui na frente do Hospital de Base, onde você foi internada imediatamente depois do ocorrido, há grupos fazendo vigília com cartazes, flores, ursinhos e outras coisas desejando não só que você melhore, mas também fique na presidência e com o Adam. A Sandra me disse que há pessoas de todas as crenças intercedendo pela sua melhora. Que Deus nos ouça!
Seu estado, porém, me dilacera e preocupa. Tremelica de febre, balbucia o nome do seu pai e o de Adam durante um sono causado pelo sedativo, sua pressão está oscilando tanto que o médico decidiu que você vai ficar aqui sob cuidados por tempo indeterminado. Eles estão me irritando falando sempre baixo e nunca falam comigo, sempre com um dos almofadinhas que trabalham para você. Um disparate! Eu sou sua mãe!
Enquanto você era tratada, acompanhava nosso querido Adam pela televisão que tem aqui no quarto que você está. O pobre também estava sendo crucificado por lá também. Confesso aqui que estávamos nos falando todo dia. Apesar do mundo desabar a sua volta, o homem só queria saber de você e você, como não dar informações suas para este ser que a quer tanto?
Você certamente ficará brava quando souber que ele renunciou, mas foi a coisa mais linda do mundo ver aquele bando de bobocas do Parlamento em silêncio depois do discurso dele. Sabe, metade do gabinete dele também renunciou em apoio a ele e os britânicos estão bem furiosos com a oposição. Ah, minha filha, o homem largou tudo e todos por você! Não brigue com o pobre que me ligou desesperado assim que o desmaio aconteceu e tem me ligado de hora em hora para saber de você. Se os boatos e maldades sobre você me matarem de fato, saberei que você terá alguém para amá-la e cuidar de você.
Adam
Hospital de Base do Distrito Federal, 23 de julho
Ela parecia dormir o tempo todo porque sedaram a mocinha teimosa que não queria ser tratada. Seu sono não era leve e renovador como havia sido nas poucas noites que passamos juntos. Amélia agitava-se muito na cama, gemia de dor e balbuciava muito desde minha chegada no Hospital. Me parecia meio óbvio estar ali. Não poderia fazer coisa diferente a não ser velar a raposa e exigir que ela seja bem cuidada e saísse logo daquele estado.
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A diplomacia do amor
RomanceEsta poderia ser aquelas histórias onde dois estranhos se encontram numa ocasião qualquer, jantam, se conquistam e se apaixonam loucamente, mas não é. Algumas dessas coisas, talvez, aconteçam com Adam e Amélia, mas vocês vão entender que nada é tão...