11. Escolha

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Um feixe de luz solar passa por uma pequena fresta na janela, atingindo meu rosto e me acordando. Minha cabeça ainda lateja muito, como se fosse explodir, então apenas puxo o cobertor até o pescoço e viro-me de lado, ajeitando minha cabeça sobre o travesseiro, que por sinal está com um perfume delicioso e familiar... Bastou eu abrir os olhos por poucos segundos para notar que não estou em meu quarto.

Espera aí, onde diabos estou?!

Levanto a cabeça do travesseiro assustada e olho ao redor, o movimento brusco faz com que eu sinta algumas pontadas horríveis em minha cabeça, mas tento ignorar.

Este não é meu quarto, esta não é minha cama e... Que roupas são essas que estou vestindo agora? Espera aí, eu conheço o cheiro deste travesseiro...

Ouço algumas vozes conversando por trás de uma porta logo a minha frente, então, quando ouço o som de alguém a abrindo, deito-me novamente, e mais uma vez o movimento brusco faz minha cabeça quase explodir.

─ Parece que a Bela Adormecida acordou. ─ A luz é acesa e vejo um Leandro entrando no quarto.

─ O que faz aqui...? ─ Tento dizer, mas minha voz falha.

─ Ainda pergunta? Aqui é meu quarto, sua ingrata. ─ Ele se senta na cama ao meu lado e coloca a mão gelada em minha testa.

─ Ai, estou com frio! ─ Protesto.

─ Cala a boca. ─ Ele diz. ─ É, você não está doente, é só frescura mesmo.

De repente uma mulher baixinha de uns quarenta anos de idade entra no quarto, com um prato cheio de comida na mão, seguida de uma garota franzina de uns quinze anos de idade e um garoto menor. Este eu conheço, é o tal do Jeremias que tentou me roubar outro dia.

─ E aí, Lelê. ─ A mulher o chama. ─ A sua mina tá melhor?

─ Não é minha "mina", dona Cida. ─ Ele responde, corrigindo-a. ─ Sim, já está mais do que melhor. ─ Ele me encara.

─ Que mané melhor, tu não ta vendo a coitadinha morrendo de frio? ─ Dona Cida senta-se ao meu lado e puxa o cobertor até meus ombros. ─ Não liga pra ele não, fia. Olha, te trouxe o almoço, coma que ainda ta quentinho. ─ Ela diz carinhosamente para mim, colocando o prato de comida sobre um criado-mudo ao lado.

─ Ah, sim. Obrigada... ─ Respondo sem jeito, com um sorriso.

─ Ei, guria. ─ A menina mais velha vem até mim, apressada. ─ As roupas que te emprestei ficaram boas?

Agora sim descobri de onde vieram essas roupas diferentes que estou vestindo.

─ Ah, serviram sim, está ótimo. Obrigada. ─ Respondo.

─ Er... Então. ─ Começa Leandro. ─ Acho que ainda não se apresentaram. Essa é Cida, a dona da casa da frente, que cuidou de mim quando vim morar aqui, e esses são seus filhos, Kellen e Jeremias. ─ Ele diz a mim. ─ Creio que já deva conhecer o Jeremias. ─ Ele olha de volta para os três. ─ Essa é Rita, minha... Amiga.

─ Er... Olá. ─ Jeremias diz envergonhado se escondendo atrás da mãe.

─ Eu já fiquei sabendo o que esse peste fez. ─ Dona Cida diz a mim, puxando-o de trás dela. ─ Pode deixar, já dei tanto sopapo que ele prometeu nunca mais fazer o mesmo, né, moleque?

─ Sim, mãe... ─ Ele diz timidamente.

─ A mãe disse que se ele fizer isso de novo, vai levar sopapo até virar do avesso. ─ Kellen, a filha mais velha, diz entre risos.

─ Não se preocupem, não foi nada. ─ Digo, sem evitar os risos. ─ Mas ainda bem que aprendeu, não é, Jeremias? ─ Tento ser simpática, e fico feliz quando o pequeno me devolve um sorriso.

O TatuadorOnde histórias criam vida. Descubra agora