14. Um encontro?

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Fecho os olhos e faço um leve biquinho com a boca. Eu sei que está muito cedo para isso acontecer, mas não me importo, isso talvez seja tudo que eu esteja precisando agora...

Alguns segundos se passam e a única coisa que sinto é um vento gelado passando sobre meu rosto, abro um dos olhos e vejo Leandro do lado de dentro da cafeteria.

Argh, eu não acredito que esse idiota fez isso comigo! Espero que ninguém tenha visto essa cena ridícula.

Passo por aquela porta e vou batendo os pés de raiva até uma mesa ao lado de uma janela com visão para a rua e me sento. Leandro pega duas xícaras de café em um balcão, vem até a mesa se senta ao meu lado.

─ Por que ficou enrolando lá fora? Olha só, o café já está pronto. ─ Ele diz a mim, colocando uma das xicaras em minha frente. É, ele não viu aquela cena ridícula.

─ Nada não... ─ Disfarço, e dou um gole em meu café, que por sinal está muito gostoso.

Tudo bem, aqui realmente é um lugar tranquilo, vazio e legal, mas não me parece um lugar muito apropriado para estudar.

─ Er... posso fazer uma pergunta? ─ Digo timidamente.

─ Já fez. ─ Ele responde enquanto lê o cardápio e dá um gole em seu café.

─ Outra então. ─ Reviro os olhos. ─ Por que você me trouxe aqui?

─ E por que não traria? ─ Ele responde.

─ Sei lá, aqui é legal e tal, mas não me parece tão bom para estudar... ─ Digo, olhando ao redor. Ele põe o cardápio sobre a mesa e olha para mim.

─ Olha, sei que não parece, mas não sou tão burro assim, eu manjo para caramba de física, tá? ─ Ele diz entre risos baixos. ─ E bem, acho que se eu desse outra desculpa você não viria comigo.

─ Como assim? ─ Pergunto confusa. Será que foi isso mesmo que eu entendi? Não, eu só posso estar sonhando. ─ Mas afinal, por que me trouxe?

─ Porque eu gosto muito de café, talvez. ─ Ele diz como se fosse algo óbvio, apesar de ser uma resposta estranha. Não que tenha algo de normal nesse garoto. ─ Porque gosto do café daqui e também porque não queria vir sozinho.

─ Acho que entendi. ─ Respondo, olhando timidamente para a espuma sobre o café em minha frente.

Deixe-me ver se realmente entendi. Ele usou a prova de amanhã como desculpa para me chamar para vir até aqui com ele por alguma razão. Seria tipo um encontro na qual não tive escolha de decidir se eu viria? Se bem que de qualquer maneira eu nunca recusaria de vir até aqui com ele...

Minha nossa, estou mesmo em um encontro?! Eu não acredito, nem ao menos tive tempo de me arrumar, devo estar com umas olheiras horrorosas.

E agora? O que eu faço? Estou com tanta vergonha...

─ Eu também gosto muito de café. ─ Digo, com um sorriso que acredito que saiu meio forçado.

Ok, muito forçado.

─ Que bom, eu acho. ─ Ele responde, me olhando de um jeito estranho.

Legal, acabo de descobrir que sou a pior pessoa do mundo para puxar assuntos.

─ Er... sobre o que pretende dizer na redação que passaram hoje? ─ Ótimo, agora quero minha medalha de ouro de pior puxadora de assuntos de todos os tempos.

E como se não bastasse, ainda tenho que falar sobre escola. Se Duda estivesse aqui já teria me dado um soco, com certeza.

─ Sobre futuro, né? ─ Leandro responde, olhando para cima como se estivesse pensando em algo. ─ Eu não sei, acredito que não quero mais nada além de seguir com minha carreira de tatuador mesmo.

O TatuadorOnde histórias criam vida. Descubra agora