Os primeiros raios solares da manhã invadem a sala através da janela entre as cortinas.
Fui acordando aos poucos, e quando fui me esticar percebi que estava aninhada no colo de Leandro sobre o sofá. Lembro-me de que passamos a noite aqui na sala e acabamos caindo no sono por aqui mesmo.
Observo-o enquanto acaricio seu rosto. Sorrio automaticamente ao lembrar do dia divertido que tivemos ontem, apesar do que aconteceu de manhã e de ele ter me contado que sofre de depressão, foi um dia perfeito. Fico preocupada por ele sofrer de ataques de pânico e de ter que tomar todos aqueles remédios. Eu não quero deixar mais nada machucá-lo, vou fazer de tudo para protege-lo.
Dou um beijo em seu rosto, me levanto cuidadosamente para não o acordar e pego meu celular sobre a mesa de centro. Não cheguei nem perto dele desde que chegamos aqui, então acabo me deparando com um turbilhão de mensagens ─ que acabam até travando o coitadinho ─ todas de minhas amigas, de Rafael e apenas uma de minha irmã, a única que decido ler.
"Usem camisinha" ─ diz sua mensagem.
Começo a rir sozinha, então bloqueio a tela e o deixo novamente no lugar onde peguei, não estou aqui para mexer no celular, afinal.
Vou ao banheiro fazer minhas higienes e logo em seguida vou até os fundos da casa. Caminho sobre a areia em direção ao mar enquanto o vento bate delicadamente sobre meu rosto. Levanto a barra do vestido e pulo sobre as ondas, molhando meus pés. Estou me sentindo como uma criança, mas estou feliz, estou em paz. E espero do fundo do coração que ninguém esteja vendo essa cena.
Volto para a areia e me sento de frente para o mar, enquanto observo o nascer do sol e o vai e vem das ondas. Acho que em toda minha vida nunca parei para reparar o quanto tudo isso é bonito. Nunca tive um momento de paz tão simples como esse.
Isso fez eu começar a pensar em tudo que perdi por conta de querer agradar aos outros, tudo que deixei de fazer por mim para fazer por alguém, e cheguei à conclusão de que nunca vivi nada por mim mesma.
Sempre fui moldada por meus pais e por Felipe para ser do jeito que eles queriam, e eu, idiota, sempre fazendo de tudo para atender as suas expectativas. Nunca parei por um segundo para pensar em mim, no que eu gosto e nos meus sonhos, e a única vez que tentei me rebelar e mostrar meu verdadeiro eu, acabei me dando mal.
Passo os dedos delicadamente sobre a tatuagem em meu braço e lembro do dia em que a fiz, o quanto isso ajudou a trazer a verdadeira eu de volta e me inspirou a correr atrás do que realmente importa para mim.
─ Caramba, garota. Como você acorda cedo! ─ Olho para trás e me deparo com um Leandro encostado em uma das estacas de madeira que sustentam a cobertura da varanda, me encarando com uma cara de quem acabou de acordar e com o cabelo todo bagunçado caído desigualmente para o lado. ─ Veio aproveitar aqui sozinha, é?
─ Você estava muito bonitinho dormindo, fiquei com dó de te acordar. ─ Respondi com um sorriso.
─ Certo... ─ Ele me encara com um olhar engraçado. ─ E o que estava fazendo aí?
─ Nada demais, só pensando na vida um pouco. ─ Dei de ombros e respondi, o que não era mentira.
─ Que tipo de pessoa acorda tão cedo para pensar na vida? Você é esquisita. ─ Ele debocha e eu começo a rir.
─ Deixe eu e minhas esquisitices em paz.
─ Está bem, divirtam-se aí. ─ Ele faz cara de pouco caso, dá as costas e volta para dentro da casa.
─ Ei, para onde você vai? ─ Levanto-me apressadamente, limpando a areia do meu vestido, e corro em sua direção, tentando alcança-lo.
─ Dormir. ─ Ele responde sem olhar para trás, entrando no quarto de casal.
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O Tatuador
Teen FictionRita Becker é uma típica garota nerd - estudiosa, dedicada e extremamente certinha. Essa personalidade se deve a seus pais exigentes, sua irmã bem sucedida e seu namoro conturbado. Por ser a representante de classe e a dona das maiores notas da turm...