12. Vício

45.5K 3.5K 1K
                                        

Olho para meu braço direito - vazio e inocente -, enquanto o ônibus me leva até o centro da cidade. Estou pensando seriamente em cobrir este braço desta vez, ou quem sabe fazer apenas um pequeno desenho como em meu ombro, sei lá.

Uma vez me disseram que quando fazemos nossa primeira tatuagem, logo já queremos encher o resto do corpo. Não sei se isso é verdade, mas é exatamente o que está acontecendo comigo agora. Ainda nem decidi o que eu quero fazer, mas acho que sei o que quero naquele estúdio.

Desço do ônibus e vou caminhando ansiosamente até o estúdio. Abro a porta e levo um pequeno susto ao perceber que é Leandro quem está na recepção hoje.

─ Er... Bom dia. ─ Digo com um sorriso tímido, fechando a porta atrás de mim e indo em sua direção.

─ Rita?! ─ Ele me olha confuso e um tanto surpreso. ─ O que faz aqui essa hora, em plena segunda-feira?

─ O que as pessoas geralmente fazem quando vem aqui, uma tatuagem, oras. ─ Respondo como se fosse a coisa mais óbvia.

Ele me encara por um instante, e logo dá um suspiro seguido de um sorriso.

Ele é lindo!

─ Sei lá, achei que estivesse estudando uma hora dessas, é mais sua cara. ─ Ele responde. ─ E aí, o que vai querer fazer?

─ Bem... eu ainda não sei, tem alguma dica aí? ─ Respondo indecisa.

─ Vou pegar um catálogo. ─ Ele responde, e então começa a vasculhar em uma papelada sobre a mesa atrás do balcão.

─ A propósito, onde está o Victor? ─ Pergunto curiosa.

─ Tirou o dia de folga para estudar para uma prova da faculdade hoje, então estou o cobrindo. ─ Ele responde, enquanto me entrega uma grande pasta preta, que acredito ter visto-a em seu quarto ontem. ─ Alguém deve desculpas pela sapatada no carro, sabe?

─ É, eu sei disso. ─ Respondo revirando os olhos, enquanto pego a pasta de sua mão e começo a folheá-la. São tantos desenhos bonitos e bem feitos que nem sei se posso escolher apenas um. ─ Uau, foram você que fez?

─ Sim, eu mesmo. ─ Ele responde um tanto orgulhoso, do jeito que estou acostumada a vê-lo. ─ Bem, vamos logo com isso. ─ Ele diz apressado, apontando para a entrada da sala do estúdio.

Ah, que maravilha, vamos ficar sozinhos novamente naquela sala, sozinhos de vez agora, já que não há mais ninguém aqui além de nós dois...

Contenha-se, Rita! Você acabou de sair de um relacionamento.

Sigo-o até a pequena sala passando pela cortina preta, como na primeira vez que vim aqui. Sento-me na cadeira e, enquanto ele prepara seus equipamentos, continuo folheando aquela pasta com seus desenhos.

─ Acho que já me decidi. ─ Digo, finalmente, retirando alguns desenhos da pasta.

─ Já? Vai fazer qual então? ─ Ele pergunta vindo até mim, já preparado para começar com seu trabalho.

─ Esses. ─ Entrego-lhe os papeis. ─ Quero cobrir meu braço com todos esses desenhos.

Leandro olha os desenhos um por um e depois me encara espantado.

─ Você tem certeza que quer fazer tudo isso?!

─ Sim, oras. ─ Respondo dando de ombros. Ele suspira seriamente.

─ Rita, isso nunca mais vai sair de você, tem certeza mesmo de que quer cobrir um braço inteiro agora? Pode acabar pegando mal para você que... sabe, é toda certinha. ─ Ele faz aspas com os dedos.

O TatuadorOnde histórias criam vida. Descubra agora