28. Passado

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Abro os olhos lentamente, despertando aos poucos. Meus músculos estão relaxados e ainda estou sem roupa, enrolada no edredom. Lembrei-me da noite de ontem e sorri, tudo tinha sido tão maravilhoso, e eu estou feliz em ver que tudo está fluindo perfeitamente entre nós dois. O cheiro de Leandro permanece em meu corpo, então me viro e... ué, estou sozinha na cama?

A tela de meu celular marca seis horas da manhã, e eu suspiro ao ver Leandro na mesa ao lado, com uma das mãos apoiando a cabeça e a outra desenhando alguma coisa, e suas caixas de remédio ao redor. Ele parece vidrado no que está fazendo, e seus olhos me dizem que não está nada bem. Eu imagino o motivo.

─ Por que levantou tão cedo? ─ Perguntei com a voz falha, embargada de sono, enquanto me levanto preguiçosamente da cama.

Ele me olha e dá um sorriso de lado.

─ Não consegui dormir direito.

Vesti minha calcinha e uma de suas camisas que estava jogada sobre a cama ─ grande o suficiente para servir de pijama para mim. Fui até ele e me sentei em seu colo, passando o braço ao redor de seus ombros.

─ Você passou mal essa noite, né? ─ Falei preocupada, ele disfarçou o olhar, desconfortável, de volta ao anjo que está desenhando. Já sabia o que eu estava querendo dizer.

─ Não queria te acordar, você estava tão linda dormindo. ─ Voltou os olhos para mim e deu um leve sorriso. ─ Desenhar ajuda a me distrair quando acontece essas coisas, está tudo bem agora. ─ assegurou.

─ Já te disse para me chamar quando você tiver seus ataques.

─ Eu sei, só não gosto de te deixar preocupada comigo.

Suspirei irritada e me levantei, eu sabia que nada estava bem ali e que ele precisa esclarecer as coisas para mim de uma vez por todas.

Se eu não tirar essa dúvida eu acho que vou explodir!

─ O que sua ex fez com você? ─ Cruzei os braços esperando respostas, ele apenas me olhou com cara de quem não estava entendendo nada e levantou uma sobrancelha.

─ Hã?!

─ Toda vez que alguém te toca ou a gente começa a fazer coisas... você sabe o que eu estou querendo dizer... ─ busquei as palavras certas para falar ─ você tem seus ataques. O que sua ex maluca fez com você para você ser desse jeito?

─ Ex maluca...? Do que você está falando, Rita?!

Bufei nervosa e puxei aquele postal de dentro da minha bolsa ─ um pouco úmido e amassado por causa da chuva de ontem ─, e estendi em sua direção.

"Espero que possa me perdoar um dia. Sinto sua falta. "

Ler isso é como uma facada no coração, mesmo que já esteja no passado, mas preciso esclarecer isso logo. E que droga de promessa é essa que ninguém me conta? Depois a culpa vai ser minha se alguém sair sem vida daqui!

Leandro pegou o postal da minha mão e começou a rir depois que o leu. Isso me deixou mais irritada ainda de uma certa forma.

─ Então isso aqui estava com você? ─ Disse entre gargalhadas.

─ O que foi? Qual é a graça? ─ Gritei irritada e confusa, ele se levantou jogou o postal sobre a mesa.

─ Rita, foi meu pai que escreveu isso para mim.

Neste momento uma onda súbita de alívio percorreu meu corpo. Eu realmente fui pega de surpresa por isso agora, e até me permiti soltar alguns risos de quanto fui feita de trouxa por meus próprios pensamentos.

O TatuadorOnde histórias criam vida. Descubra agora