─ Não vou falar de novo! ─ ele grita, apontando a arma para mim. ─ Passa logo!
─ Não... ─ começo a gritar aos prantos. Não quero ser assaltada e levar um tiro!
Passo meu celular com as mãos trêmulas para o garoto. Quando vou tirar a carteira do bolso, ouço uma voz desconhecida atrás de mim.
─ Jeremias, o que você está fazendo? Você é louco? - Olho para trás, um rapaz grita com o garoto. - Me dá isso aqui! - ele aponta para a arma.
─ Ô tio, cê ta doido, não vacila. - o tal do Jeremias diz.
─ Me dá isso aqui! - O rapaz grita, arrancando a arma da mão do garoto. - Devolve o celular para ela! Agora!
─ Pô tio... - ele começa.
─ Devolve agora! - Ele grita, e assim o garoto faz. - Agora pede desculpas!
─ Desculpa tia, foi mal. - ele diz para mim. Apenas observo tudo boquiaberta.
─ Seu pai sabe o que você anda fazendo por ai, garoto? - Ele diz, como se o conhecesse. - Vai para casa que eu vou ter uma conversinha com seus pais, rapaz!
─ Pô, cê é mó vacilão...
─ Vacilão é você, que sai por ai assaltando garotinhas com armas de brinquedo! Vai para casa, agora! - Ele grita, então o garoto sai com um ar derrotado, desaparecendo por uma viela.
─ Você o conhece? - pergunto.
─ É um dos filhos de um amigo do meu pai. - Ele responde, então mostra a arma para mim. Era feita de sucata e seu cano era feito com um cabo de vassoura.
─ Não acredito que você caiu nessa. ─ ele diz, entre altas gargalhadas.
─ Poxa, eu estava assustada! Como ia reparar? ─ digo defendendo-me.
─ Da próxima vez veja se o cano da arma não é feito de madeira. ─ ele responde. ─ Agora vá. Isso nunca aconteceu.
─ O-obrigada. ─ digo timidamente, então me viro e corro até o final daquela rua, chegando até o ponto de ônibus, que, para a minha sorte, não demorou a chegar.
-x-
─ Minha nossa! E o que ele fez depois disso? ─ pergunta Duda curiosa e assustada ao mesmo tempo.
─ Ai, garota, você está inteira, né? ─ diz Fany em seguida, preocupada.
─ Sim, estou bem. ─ respondo, depois de contar toda a história do dia anterior para minhas amigas. ─ Pelo menos o moleque não levou nada no final...
─ Mas esse Felipe é mesmo um traste! ─ diz Fany.
─ Que tipo de garoto recusa dar carona para a namorada?! ─ completa Duda.
─ É, mas eu fui muito tonta de não ter percebido que a arma era falsa...
─ Se eu ver esse Felipe, juro que dou um tapa nele! Isso é coisa que se faça com uma garota? ─ diz Duda indignada, me cortando.
─ Exatamente! Pode me chamar que eu ajudo! Garoto ingrato! ─ continua Fany.
─ Meninas! ─ grito. ─ Eu poderia ter levado um tiro!
─ Ah sim, e sobre o cara que te salvou? ─ finalmente pergunta Fany.
─ Isso mesmo, como ele era? ─ prossegue Duda curiosa.
─ Bem, não consegui vê-lo direito porque estava muito escuro e minha visão estava embaçada, mas pude notar que tinha o cabelo bem escuro... e era mais alto que eu.
─ Minha filha, qualquer um é mais alto que você. ─ Duda diz debochando.
─ Vai se ferrar! ─ respondo, e todas caímos no riso.
De repente somos surpreendidas pelo grupo das patricinhas entrando na sala - Sofia e sua trupe de escravas, que estavam bem animadinhas para meu gosto.
─ O que aconteceu? Jogaram milho no galinheiro? ─ Pergunta Duda, curiosa.
─ Acho que é por causa do aluno novo, fiquei sabendo que chega hoje. ─ responde Fany.
─ Bem que notei um nome a mais na lista... ─ digo, abrindo o diário de classe e notando que abaixo de todos os nomes dos alunos havia um a mais. ─ Leandro Brandão... ─ leio em voz alta.
─ Então esse é o nome do condenado? ─ pergunta Duda em desdém.
─ É, parece que sim. ─ respondo.
─ Meus pêsames para ele. ─ diz Fany dando de ombros. ─ Além de ter que estudar nessa escola horrorosa, vai ter que aguentar o cardume de piranhas dando em cima dele.
Logo depois a professora entra na sala de aula e, enquanto ajeita seu material na mesa e começa a escrever na lousa, o grupo dos garotos bagunceiros do "fundão" entra na sala, como sempre, fazendo baderna. Olho indiferente, não vou com a cara de nenhum deles, só sabem atrapalhar as aulas e encher o saco.
Olho cada um daqueles rostos delinquentes - um mais feio que o outro, até que, para minha surpresa, havia um rosto novo no meio. Um rapaz moreno, de cabelos cacheados e... Parece que já o vi em algum lugar... Não me diga que... NÃO!
─ Duda! ─ sussurro em seu ouvido na minha frente, cutucando-a. Ela se vira para mim.
─ Que foi, vadia? To copiando o negócio da... ─ Ela começa.
─ Duda, disfarça! ─ interrompo-a sussurrando. ─ Está vendo aquele cara ali? Junto com o grupinho do fundão? Disfarça...
E em um movimento ao estilo da menina do Exorcista, Duda vira a cabeça para trás.
─ Aquele ali? ─ ela pergunta em voz alta.
─ Sim... ─ respondo cobrindo meu rosto em indignação. Tão discreta quanto um elefante!
─ Ah! Então esse é o aluno novo! ─ Diz Duda surpresa.
─ Sim! ─ digo puxando-a para perto. ─ Dá para ser mais discreta, ok? Ok! ─ grito nervosa. ─ Enfim, foi ele que me ajudou ontem naquela rua.
─ Ritinha do céu! Por que não disse que ele era tão gato assim?!
─ Não sei, talvez por que eu não consegui vê-lo direito? ─ respondo irônica.
Olho para trás e observo-o melhor, até que sua aparência é aceitável em relação ao resto dos garotos do grupo. Seu cabelo é cacheado e bem tratado - preto na altura do pescoço, com uma barba rala no rosto. Devo admitir, é bonitinho...
Pena que foi se enturmar justo com um dos piores grupos da sala, não duvido nada que daqui a pouco estará criando confusão junto com os novos amiguinhos.
De repente, sou surpreendida com a professora anunciando a devolução das provas de biologia.
─ Ah droga! ─ diz Duda preocupada. ─ Não quero nem ver minha nota!
─ Eu quero. ─ digo ansiosa. ─ Acho que fui bem, fiquei uma semana inteira estudando para esta prova!
─ Você só sabe estudar, garota!
A professora então começa a chamar os alunos em ordem alfabética para buscar a prova, deixando-nos cada vez mais ansiosas.
Mas que droga! Por que diabos tiveram que me dar um nome com a inicial "R"?!
─ Rita Becker. ─ finalmente, depois de uns vinte nomes, a professora me chama.
Busco minha prova toda saltitante e volto ao meu lugar.
─ Que saco, tirei 4! ─ Duda diz, desanimada. ─ Ainda bem que ainda não é prova oficial. E você, quanto tirou?
─ Não sei, vamos ver... ─ respondo, estendendo minha prova sobre a mesa.
O quê?!
...
O QUÊ?!
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O Tatuador
Teen FictionRita Becker é uma típica garota nerd - estudiosa, dedicada e extremamente certinha. Essa personalidade se deve a seus pais exigentes, sua irmã bem sucedida e seu namoro conturbado. Por ser a representante de classe e a dona das maiores notas da turm...