Sabe quando você tenta acordar de um pesadelo, mas não consegue? Era o que estava acontecendo comigo. Eu não tinha coragem de abrir os olhos, pois eu sabia que quando abrisse, estaria em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas, e talvez até eu mesma estaria irreconhecível.
Nesse tempo em que acordei, ainda de olhos fechados, várias perguntas ficaram rondando os meus pensamentos, perguntas que eu não fazia ideia de como responder, ou de como encontrar uma resposta coerente.
Nada parecia fazer mais sentido. Como eu sairia daqui? O que eu iria fazer quando abrisse meus olhos e não encontrasse Maxon ou qualquer outra pessoa que amo? Mais uma vez, as minhas perguntas ficariam sem respostas.
Eu queria poder gritar, mas nem forças para isso eu tinha, queria poder perguntar todas essas perguntas, e gostaria de saber todas as respostas uma de cada vez. Mas eu não conseguia fazer isso.
Passou-se algum tempo até que me obriguei a criar coragem de abrir os olhos e me levantar. De inicio, foi terrível, pois o pânico tomou conta de mim, mas aos poucos fui me acostumando com aquela escuridão e aquela aparência de morte que o local transmitia. Pude deduzir que estava de dia, pois bem no alto, quase perto do teto, tinha uma janela minúscula que trazia um único raio de sol para dentro da cela. Cela.
Só agora me toquei de que estava presa numa cela. Como um animal. O mal cheiro fazia meu estômago embrulhar, aquele lugar me trazia repugnância.
Comecei a caminhar pela cela que não era tão grande assim, mas fui impedida quando percebi que tinha uma corrente prendendo o meu pé esquerdo. Quase chorei.
Respirei e inspirei diversas vezes tentando me acalmar, entretanto escutei um outro barulho, como de outra corrente mexendo na cela ao lado, mas não era possível ver nada, então fiquei alarmada caso aparecesse alguém.
Esperei um pouco e nada. Já estava movendo meus pensamentos para como iria sair dali, porém outra vez escutei o mesmo barulho, e agora parecia mais próximo.
- Quem está aí? - falei, um pouco alto de mais.
Fui respondida por um longo silêncio.
Após um curto período de tempo, ouvi outra vez o mesmo som. Alguém estava se movendo, o que fazia com que a corrente fizesse barulho.
- Quem está aí? - repeti, temendo que quem quer que estivesse lá notasse a minha voz meio trêmula.
- América? - uma voz disse, e nisso escutei outras vozes murmurarem por todos os cantos daquela cela.
Mas que diabos estava acontecendo aqui? Me assustei ao saber que me conheciam, mas um novo pensamento flosreceu.
- Meninas? São vocês? - indaguei.
Ouvi alguns suspiros aliviados, e algumas risadinhas tristes.
- Somos nós, Majestade. E agora até você está aqui - Natalie surgiu na cela ao lado, bem onde o raio de sol atingia, com a voz triste.
Ela estava acabada, literalmente, e isso fez o meu coração doer. As outras surgiram em frente as suas celas, e em todas essas celas, a luz batia no mesmo lugar que a minha. Olhei por alguns instantes para Natalie, para depois andar até a grade da minha cela e olhar para o corredor vazio, conseguindo localizar cada uma delas. Aquela cena não parecia real, todas aquelas garotas, tristes e com medo. Parecia que até ontem estávamos todas nós numa competição onde o príncipe escolheria uma de nós, e hoje... Parecia que tudo isso tinha passado de um sonho, e estávamos aqui, enfrentando a realidade de um pesadelo.
Lágrimas quentes começaram a descer pelo meu rosto, foi difícil evitar, aquilo estava doendo. Eu preferiria morrer do que ver todas elas nessa situação. O problema era que agora eu também estava nessa situação, e eu iria fazer de tudo para poder ajudá-las. Talvez juntas conseguiríamos alguma coisa.
***
- Acho que não vai ser possível, América... Nós já tentamos de tudo... Não há nada que possamos fazer para sair daqui - Mia, uma delas, falou.
Eu estava jogada no chão de qualquer jeito, minhas roupas estavam um trapo, eu estava suja e fedendo, e meu estômago roncava alto. Mas eu não me preocupava muito com esse último tópico, eu já passei fome diversas vezes, e tenho uma certa resistência com isso. O que agora era bom, já que me disseram que eles sempre vinham somente na hora do almoço para alimentá-las. Era algo tão inumano.
- Nós vamos dar um jeito, acreditem. Sei que vamos - falei confiante, mesmo não tendo certeza sobre minhas palavras.
Após dizer isso, ouvi um som estrondoso, o que me fez levar um grande susto. Um clarão invadiu o corredor, e rapidamente todas nós nos calamos. Eles , pensei.
Eu achei que sentiria medo quando visse eles, mas a única coisa que senti foi raiva. Um sentimento de injustiça.
- Hora do almoço, senhoritas! - um homem anunciou, rindo.
Eles começaram a deixar um prato com comida e um copo com água dentro da cela de cada uma delas, ao se aproximar da minha, vi que um garoto - que não deveria ter mais de quinze anos - estava deixando a comida nas celas, enquanto um homem segurava uma bandeja.
O garoto olhou para mim, e seu olhar parecia um tanto triste. Parecia que ele não queria fazer aquilo, eu já estava vendo a hora de ele sair correndo para fora dali. Mas respirou fundo e evitou olhar para mim.
- Ora, ora, parece que conseguimos, não é mesmo, Majestade? Acho que agora aquele maldito rei fará tudo que quisermos para tê-la de volta! - e mais uma vez, aquele homem riu.
Me segurei para não retrucar. Mas eu não poderia negar o que ele dissera. Não sabia como Maxon estava nesse momento, mas eu esperava que ele não fizesse nenhuma besteira dando algo para esses rebeldes lunáticos.
Uma onda de pânico invadiu meu coração, enquanto o homem e o garoto saíram deixando a escuridão voltar a nos rondar. Não estava confiante de que sairiamos daqui logo, daqui alguns dias chegariam os guardas franceses... Mas seria uma caminhada longa até nos encontrarem. Por isso, eu ficaria pensando em algum jeito. Algum jeito de ser mais fácil, porém, eu daria um jeito de sairmos dessa prisão.
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O Refúgio
RandomDepois de um mês que se casaram, Maxon e América vivem o seu belíssimo e apaixonante episódio amoroso, tentando deixar os cacos dos terríveis acontecimentos para trás. Mas nem tudo são flores, não é mesmo? Nessa história, os dois presenciam coisas...