Capítulo 21 - O último sequestro

408 29 35
                                    

Eu conseguia ouvir os pássaros assobiando, sentir a brisa leve que movimentava a copa das árvores mais à frente, que soprava a minha pele, fazendo-me arrepiar, e aquele cheiro floral e agradável do jardim.

- Respondendo a sua pergunta, Majestade - começou, Louis - Eu morava numa casa simples com a minha mulher e as minhas filhas, trabalhava como carpinteiro para um homem que possuía uma condição melhor. Eu gostava do que fazia, e conseguia sustentar a minha família, mesmo que já tenha tido muitas dificuldades. No mês passado, em um dia como outro, eu sempre fazia o mesmo percurso, de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Entretanto, mal sabia eu que minha família estava correndo perigo. Eu lembro que eles invadiram a minha casa, e colocaram uma faca na garganta da minha mulher... - ele deu uma pausa antes de continuar - Dizendo que se eu não fizesse o que eles mandassem, ele iria matar toda a minha família e a mim também. Eu obedeci, comecei a fazer serviços para eles. Cortar lenha, construir ferramentas... Tudo que eu podia fazer com madeiras. Mas eu não fazia ideia para quê eles queriam isso, e nem questionei, não contei para ninguém, já que estava com medo de que fizessem algo.

Eu ouvia atentamente a história de Louis, que conversava comigo no jardim.

- E... Eu resolvi que iria descobrir o que eles estavam tramando. E descobri as garotas. Corri para o palácio, para contar-lhes, pois sabia o quanto estavam preocupados. Mas de alguma forma, eles descobriram, e certamente fugiram antes que chegássemos.

Balancei a cabeça afirmativamente, confirmando suas últimas palavras. Eles de fato sabiam que iríamos, e que iríamos procurá-los.

Há quase uma hora que estou conversando com Louis, e as pessoas realmente estavam certas ao seu respeito. É um homem bom, que também foi vítima das crueldades desses rebeldes.

- ... Eu só... Queria viver a minha vida em paz junto com a minha família - disse ele, por fim.

- Eu o entendo. Muitas pessoas estão pagando por nada, Louis, e você é uma delas. Para você vê onde o ser humano chegou. Tudo isso por... Poder - falei, não tendo certeza.

Mas o único motivo concreto e com uma alta chance de ser verdadeiro era esse. Eu pensei bastante sobre isso nos últimos dias, e a única conclusão deduzida que cheguei foi a essa. Poder.

- Eu também acho que seja por isso, digo, por poder, senhora...

- Pode me chamar de América, por favor - interrompi-o, antes que ele acabasse de falar.

- Tudo bem - ele sorriu - E aliás, pelo que estou vendo, os boatos que correm da senhora são verdadeiros. Uma rainha bondosa. Simplesmente uma rainha que Illéa precisava. E junto com o rei Maxon, formam uma bela dupla. Eu tenho orgulho de ter vossas Majestades no comando.

Eu também sorri, retribuindo. Louis sabia deixar alguém feliz com belas palavras.

Alguém apareceu no portão que dava até o jardim. Mas parou quando viu que eu estava olhando. Era a filha de Louis.

Ela ficou incerta se continuava seu percurso, ou não. Acenei com a mão, chamando-a. Louis também se virou para olhá-la. Ela sorriu tímida, enquanto se aproximava, como no café de mais cedo.

- Olá - abri um dos meus melhores sorrisos para ela.

Ela fez uma reverência sutil.

- Oi.

Ela se aproximou do pai, que a pegou no colo e beijou a testa da menina. Aquela cena me fez pensar em Maxon. Como seria quando tivéssemos um filho? Ou uma filha? Ele mimaria? Muito provável.

Não pude deixar aquele sorriso se desfazer.

- Qual o seu nome?

- Jasmim.

- Oh, jasmins são maravilhosamente belas. Seus pais escolheram bem. Um belo nome para uma bela pessoa.

- Obrigada - ela me olhou nos olhos, os mesmos que estavam brilhando e sorrindo - Posso dizer uma coisa?

- Claro - respondi, tirando uma mecha de cabelo que caira na meu rosto.

- A comida daqui é simplesmente a melhor comida que já provei.

Ri um pouco. Me lembrei da Seleção.
" estou aqui por causa da comida."

- Depois deveria experimentar a torta de morango - falei, com um sorriso no rosto, nostalgiando.

E ficamos aquele resto de tarde, conversando sobre comida e torta de morango.

**

Já estava indo para dentro quando escutei um barulho estranho. Que som era aquele?
O sol já estava se pondo, me aproximei um pouco mais para frente do grande portão, tentando escutar o que quer que fosse. Parecia... Vozes?

Sussurros, para ser mais exata. Mas eu não conseguia ouvir o que era. Logo em seguida, escutei um baque, como se um corpo tivesse caído no chão. Outro. O que estava acontecendo ali?

Meu coração disparou dentro do peito. Chamei dois guardas que estavam ali perto, para conferir se estava tudo certo fora dos portões. Quando abriram o grande portão da entrada, olharam para fora, e iluminaram com a lanterna.

Vi um deles balançando a cabeça em negação. O outro confirmou. Pelo visto não encontraram nada. Será que estou ficando louca?

Mas não, eu não estava louca. No momento que eles se viraram, e estavam fechando o portão, um dos guardas caiu no chão. O outro ficou paralisado, deixando o portão entreaberto.

Meu subconsciente gritava corre, corre, corre. Mas minhas pernas não estavam funcionando, não seguiam o comando do meu cérebro.

Instantaneamente, quando o segundo guarda abriu a boca para gritar, surgiu dois homens, um deles colocou a mão sobre a boca dele, obrigando-o a fechá-la. O outro enfiou uma faca no seu abdômen. O guarda caiu no chão, segurando no ferimento e agonizando no chão.
CORRE! CORRE!

O homem que atacou o guarda com uma faca, olhou para mim. Eu estava perto demais. Meu coração saltitava tão alto, que acho que eles podiam escutá-lo.

CORRE, AMÉRICA! VAMOS CORRE!

E então eu corri. Gritei. Por que diabos eu tive que ficar aqui até esse horário? Merda!
Eu sabia que eles estavam atrás de mim.

Anda, falta pouco!

Outros guardas apareceram, e eu quase soltei um suspiro de alívio. Mas não pude, já que estava correndo. Tropecei em algo, e caí no chão. Parece que torci o tornozelo. AAAAARGH!

- SOCOR...!

Mas não pude terminar aquela fala. Senti braços agarrando-me e me puxando para longe. Os guardas correram desesperadamente em minha direção, mas eu estava sendo levada para longe. Tentei me soltar, mordi o braço do homem, que gritou, mas mesmo assim continuou me segurando com tamanha força.

Quando percebi, já estava fora dos portões, eu já estava tonta. O outro homem, que não me segurava, fechou o portão pelo lado de fora, e colocou algum tipo de ferro para que fosse difícil abri-lo. Observei mais uns seis ou sete homens, que deveriam ter ficado esperando do lado de fora. Senti as lágrimas quentes em meus olhos, enquanto eu me debatia. Mas foi em vão. Me jogaram em um caminhão que fedia a xixi de cachorro, e pressionaram algo forte sobre o meu nariz.

- AJUDEM, RÁPIDO! VAMOS! A RAINHA ESTÁ SENDO SEQUESTRADA!

A última coisa que ouvi foi gritos, tiros, o barulho ensurdecedor do portão sendo aberto e os guardas desesperados. Mas era tarde demais... O caminhão já estava andando em alta velocidade... E minha consciência estava sendo levada para a escuridão...




**

O RefúgioOnde histórias criam vida. Descubra agora