Nunca tinha pensado o que se passava na cozinha. Sempre pensei apenas nas deliciosas coisas que lá eram preparadas, mas como Maxon uma vez disse, existem dezenas de pessoas que preparam toda aquela comida.
Entrei no lugar, passando pelas portas dobradiças com vidro redondo.
Ouve um momento de silêncio. Todos os empregados pararam. Arregalei meus olhos, era proibido a entrada de pessoas, sem antes pedir autorização?
De repente, os olhos assustados dos empregados começaram a carregar uma expressão diferente: carregavam admiração. Um a um se curvou. Alguns apenas imitaram os outros, relutantes, sem saber se isso era a coisa certa a se fazer.
Paralisei. Não sabia o que fazer. Foi uma reação inesperada.De repente uma risada divertida adentrou na cozinha. Eu conhecia aquela felicidade de longe: Adele.
Ela estava mancando, e usava um vestido sujo de sangue. Mas continuava bonita, como se nada estivesse acontecido. Sempre admirei pessoas assim: que nunca abalam sua alegria, ou deixam estragar sua beleza natural por algo.
— Agradeça — ela sussurrou. Foi então que percebi que fiquei olhando para ela, enquanto todos esperavam uma reação minha.
— Obrigada... - disse e também fiz uma reverencia à eles. Ouvi cochichos de algumas cozinheiras, algo como "eu não acredito que ela fez isso" e "eu disse que era pra você torcer por ela". Eu ri.— É... acho que você conseguiu... — ela disse sorrindo.
— Por que todos dizem que já tem uma escolhida? Kriss ter ido embora não quer dizer nada... por exemplo, vai saber se ela não foi lá para se despedir dos conhecidos? E eu fiquei aqui só por causa da regra... E por talvez... — tentei reclamar. Eu estava sendo ridícula reclamando das pessoas torcerem por mim. Mas era impossível de guardarmos um segredo eu e ele, por no minimo, uns 15 minutos?
— Ninguém é cego America, muito menos eu. Olha o anel no seu dedo! Ele foi parar ai voando? — disse me interrompendo. Seu rosto estava iluminado. Ela havia perdido sua irmã, mas ainda estava a me apoiar.
— Ta, ta bom. Acho que é meio difícil guardar segredo por aqui... — eu admiti. Ela riu. Os criados e cozinheiros corriam de um lado para o outro, trazendo e levando pratos.
Em cima da mesa avistei uma cesta de frutas. Me aproximei e peguei uns poucos morangos. Estavam vermelhinhos e doces, absolutamente perfeitos.
— Olha que você esta por aqui a apenas alguns meses... — disse Adele.— Amberly vivia dizendo que eu era a sortuda. — falou triste.
— Meus sentimentos. É uma perda sem tamanho para todos, mas tenho certeza que para a senhora é maior. Não perdeu sua Rainha. Perdeu sua irmã.
— Eu sabia que isso poderia acontecer. Pensei que viriam atrás de mim, de algum dos meus filhos. Mas eles queriam mesmo era mata-los. Não atingi-los e ameaça-los a fazer o que os rebeldes queriam, como eu pensava. Como fiz Amberly pensar.
Ela parecia culpada, por não ter feito a irmã acreditar na brutalidade daqueles que a assassinaram. Sem dúvidas não fez errado.
De repente um monte de crianças invadiram a cozinha. Ouve uma expressão de pavor no rosto de uma cozinheira, ela largou alguns pratos em um balcão e pegou no colo uma das crianças.
— Senhorita Adele, por favor, não queira que se repita o evento de sua última visita...
— Ah claro. Obrigada, Cimmy! — ela disse pegando seu menino no colo olhando com cara feia para ele — Desculpe America, mas sabe como são as crianças né? — despediu-se.
— Claro... — falei, compreensiva.
Não consegui lhe tranquilizar quanto a Rainha. Não havia nada mais a ser feito que tivesse dado chances de salva-lá.
Fiquei olhando ela pegar cada criança pela mão, e todos em ordem, saíram. Sempre tive vontade de ter filhos. Já até sabia dos nomes dos meus filhos com Aspen.Mas agora, era realidade. Este desejo não era apenas fruto de uma paixão adolescente. Só conseguia me imaginar construindo uma família, cheia de crianças com cabelos ruivos, e outras de cabelos claros, como Maxon.
Mas para termos filhos, iriamos ter de dormir juntos. Pensar nisso, lembrou-me nossa ultima noite. Ou primeira noite, na verdade.
Foi maravilhosa, mas não totalmente certa.
Decidi por fim, que apesar da imensa vontade, só seria dele após o casamento. Era o correto, não é? Pois que esperássemos.
Essa nova America já não desejava quebrar todas as regras.
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A Escolhida - Continuação de A Escolha
Romance#RaposaDeOuro #ConcursoTheBest ***Capítulo NOVO aos sábados, as 18hrs*** Após um período agitado no jovem pais Illéa, e na vida da Selecionada da Casta Cinco, América Singer, os dias de paz chegam... América que, após perder seu pai, ser...