UNCOVER: A cada uma escolha, uma descoberta.

No silêncio - 20

         Viro minha cabeça e olho para o Logan. Seu braço direito estava para cima e o esquerdo, apioado em seu peito, que estava à mostra. Levantei tentando não fazer barulho algum. Consegui. Andei até a janela e a levantei, onde contemplei aquele lindo céu estrelado.

- Por que eu fiz tudo isso, Senhor? - pergunto, baixinho. - Somente porquê minha vida estava virando do avesso? Mas eu Te tinha do meu lado... Decidi confiar no homem, mas não em Ti... Eu sou burra.

Abaixo minha cabeça e deixo as lágrimas falarem por mim. Instantaneamente, lembro do IPod que minha mãe me deu no aeroporto, para que quando eu me sentisse triste ou até mesmo feliz, ouvisse algumas daquelas músicas e tentasse me sentir um pouco compreendida pela letra.

         Fui até o lado onde meu namorado dormia e abri levemente a primeira e única gaveta da escrivaninha. Aqui. Encontrei o IPod. Quanto tempo não o uso, penso.

         Voltei até a janela e o desbloqueei. Músicas. Últimas faixas escolhidas. Livre pra viver, Micael Borges. Apertei na música seguinte e começou uma suave, que logo senti meu coração acalmar. Pus os dois fones e continuei à admirar aquele céu, desejando que toda a confusão dentro de mim se esvaziasse e que, pelo menos naquele tempinho, eu conseguisse voltar à sentir a presença daquele Deus Lindo.

         Lembrei do que Hahahel me disse. Eu preciso me perdoar para que Ele também me perdoe. Eu preciso esquecer de tudo o que fiz e me render aos pés dEle. É difícil. Sinto-me envergonhada, suja. A pior pessoa desse mundo.

"Como é incrível, não consigo explicar como você consegue no meio do silêncio ao meu coração falar. Eu não preciso de palavras, nem de grandes demonstrações. Apenas o Teu olhar, eu consigo ouvir que Você me ama."

         Abaixei minha cabeça e vi minha tatuagem. Freedom. Me sentia realmente livre naquelas férias. Eu podia fazer o que eu quisesse, beber o que eu sentia vontade. Foi nas férias que eu virei uma mulher. Sim, me sentia livre. Mas do que adianta um pássaro acordar pela manhã, voar sem rumo por aí e na metade de seu percurso, ele simplesmente sentir saudade do seu habitat natural e da sua família que ainda estava com ele? Do que adianta no meio do percurso ele se deparar com uma águia e sentir medo? Sentir-se pequeno para enfrentar aquele "monstro"? Ele tinha que estar preparado e com coragem antes de pensar em querer voar, sentir a liberdade soprar em seu rosto. Eu sou esse pássaro. Hoje sinto-me assim. Com medo.

"E quando estamos à sós minha cabeça no Teu peito faz silenciar todos os medos dentro de mim. É no silêncio que o Teu coração fala ao meu. Acalma a tempestade no meu interior, minh'alma agitada que quer sempre atenção e as ondas de dúvidas que vem como um turbilhão..."

           Parei de refletir e só ouvi a música. Aquela letra era tudo o que eu sentia. Como mamãe sabia que todas essas músicas fariam sentido pra mim, enquanto eu estivesse aqui? Seria Deus? Não há outra explicação... Fechei meus olhos e orei:

- Senhor, eu não sei o que dizer. Faço dessa música, a minha oração. A única coisa que consigo te dizer agora é: me perdoe.

Mais lágrimas desceram dos meus olhos. Lágrimas quentes. Desejei que com todas elas, também saísse toda culpa, aflição, sujeira e vergonha. Eu queria voltar à ter minha vida normal, quero minha intimidade com Deus de novo, mas me sinto constrangida. O Amor dEle me faz ficar assim, sem palavras até mesmo quando o que mais quero é me abrir e dizer que me arrependo de tudo o que fiz, mas uma vez ouvi dizer que mesmo quando isso acontece, o Espírito Santo nos entende e leva tudo isso ao coração de Deus. Ele intercede por nós e assim, o Senhor compreende e nos ajuda.