Ironia - 06

297 34 6
                                    

Passei um mês muito cabisbaixa. Foi algo tão inesperado e triste, que eu não consegui me recuperar antes. Comia pouco, ia pra faculdade e assim que chegava, dormia e acordava só no dia seguinte.

O Sr. Andrei e o Jou ficaram muito preocupados comigo, me forçaram comer mais, porém eu não conseguia. Parecia que havia um impedimento para que algo descesse pela minha garganta e me alimentasse. Nada estava me fazendo bem. Até que parei no pronto socorro quando tive uma queda de pressão assim que levantei da cama, sorte à minha que no dia anterior o Jou pediu para dormir no meu quarto, para me fazer companhia. Fiquei em observação por dois dias e fui consultada por uma psicóloga, que ironia, uma estudante de psicologia precisando da ajuda de uma Dr. da mesma profissão que eu quero exercer.

Após de tudo isso, fiquei mais em alerta e mudei. Ergui a cabeça, voltei à ir pra igreja com eles e entendi que se aquilo aconteceu, foi porque tinha que acontecer. Eu estou bem melhor, ainda sinto a falta dela, mas já me recompus e aceitei o fato ocorrido.

Desço as escadas com pressa, passo na cozinha, dou um beijo na bochecha do Sr. Andrei e quando estava prestes a sair de casa, ele me chama:

- Por que você está correndo?

- Estou atrasada pra faculdade, ainda tenho que ir ao metrô e esperar um bom tempo. - respondi.

- Ué, mas o Jou disse que iria te levar hoje...

- Ele disse? - perguntei confusa.

- Aham, ele está aí fora, fazendo não sei o quê no carro. - concordei, acenei e abri a porta.

Passei pelo portãozinho e Jou estava mesmo ali fora me esperando. O capô do carro estava aberto e ele um pouco inclinado para olhar, acho, que o motor.

Encosto-me na porta e aguardo ele sentir minha presença ali. Após alguns minutos, ele abaixa, limpa o suor de olhos fechados e assim que os abre, sorri ao me ver.

- Estava te esperando. - disse ele.

- Não lembro de você ter me dito que iria me levar na faculdade.

- Deve ser porque você dormiu no meio do filme e depois de eu já ter te avisado, vi que "você não estava mais ali."

- Vish, foi mesmo... - bati levemente na testa, lembrando de ontem.

Ele riu.

- Mas não tem problema, ainda conseguimos chegar à tempo... Vamos?

- Uhum.

Dei a volta e sentei no banco do carona. Jou entrou, acelerou e ligou o som. Fiquei cantarolando a música que tocara, até que ele abaixa um pouco o volume e chama minha atenção, tocando meu queixo para que eu o olhasse.

- Oi!? - disse.

- Já teve uma resposta do nosso propósito?

- Desde quando vi sua preocupação comigo, nos dias em que eu ainda estava de luto, já obtive a resposta.

Ele sorriu sem acreditar no que ouviu. É, até que eu consigo ser romântica de vez em quando.

- Eu também já obtive a minha.

- Que bom, então. - sorri.

UNCOVER: A cada uma escolha, uma descoberta.Onde histórias criam vida. Descubra agora