Manhattan, NY – 14 de abril – 23:35 PM
Sai do meu carro as pressas. Travei as portas e fui em direção ao porta malas tirando de lá uma bolsa, fechei rapidamente e me aproximei do familiar prédio abandonado. Eu já conhecia aquele lugar a mais de 2 anos. Empurrei com força a porta de vidro, que vivia emperrada, e entrei no saguão do prédio ligando minha lanterna. Ao lado tinha uma barra que eu usava para impossibilitar que alguém de fora abrisse a porta.
Subi cinco lances de escadas e empurrei uma porta de metal que se abriu rangendo, revelando meu adorado terraço, encostei-me a uma parede e respirei fundo tentando retomar o fôlego e normalizar as batidas de meu coração. Quando isso foi possível abri minha bolsa e de lá tirei meu familiar cobertor de florzinhas e o estiquei no chão. Remexi mais dentro da bolsa e peguei minha garrafa de vinho e também uma taça deixando-as em cima do cobertor. Me levantei e fui atrás do meu telescópio que se encontrava escondido em uma parte coberta do terraço.
Hoje aconteceria um fenômeno incrível e que demorava em média 20 anos para acontecer novamente. Os planetas se alinhariam à meia noite. Estava realmente maravilhada e ansiosa porque tudo isso aconteceria em 15 de abril, meu aniversário. Não existe presente melhor que esse.
Desde pequena eu tinha uma espécie de adoração pelas constelações e os outros planetas, quando me tornei adolescente meus pais me deixaram pintar galáxias em meu quarto e o sistema solar na porta. Aquele lugar ficou completamente mágico e depois de olhar para tudo aquilo que eu e meus pais me ajudaram a fazer, tive a confirmação que meu futuro seria ''cabeça nas estrelas'' como meu velho costumava dizer. Não posso estar mais do que realizada trabalhando como professora de Astronomia na faculdade, claro que é algo meio rotineiro e que é uma das coisas que eu mais odeio, porém o salário é maravilhoso e sustenta meus caprichos em Manhattan.
Observo meu relógio de pulso que marca 23h50. Ainda faltavam dez lentos minutos para que o meu grande presente de aniversário, dado pelo maravilhoso Universo, aconteça. Decido então abrir o vinho, e começo a observar o local em que estou. Esse arranha-céu me traz lembranças boas, porém as ruins são as que mais marcam o meu tão amado ''refúgio''.
Você deve estar se perguntando, afinal, pessoas normais passam seus aniversários com a família e amigos, bom isso não se encaixa em minha vida.
Meus pais morreram faz um bom tempo, e eu vou sempre sentir a falta deles, mas como dizem: a ferida se cura e o que resta é a cicatriz que ela deixa para que possamos nos lembrar de como aquilo aconteceu. E a saudade de meus pais é essa cicatriz.
Amigos? Já faz um tempo em que não sei o que é isso. Depois que meus pais morreram saí do Texas e vim diretamente para Manhattan, pois não suportava ficar naquela casa onde as lembranças quase me sufocavam e me empurravam para baixo. Deixei minha melhor amiga e outras pessoas das quais eu me importava. E eu sei que fui uma covarde por fugir da dor e mascará-la socando minha cara nos livros e aprendendo mais sobre que eu amo, mas o que posso fazer? Cada um tem sua escapatória e essa foi a minha.
00h00
Meu relógio de pulso começa a apitar e meu coração bate forte ansiando para que o fenômeno aconteça. Pego minha garrafa de vinho já aberta e coloco um pouco na taça. Tomo rapidamente sentindo o fogo do álcool e o gosto doce se alastrarem pela minha garganta, e então puxo rapidamente meu telescópio enquanto observo Marte, Sol e a Terra se alinhando deixando a lua avermelhada.
O que vejo e o que sinto me deixam completamente extasiada e emocionada, as lágrimas molham meu rosto e meu sorriso aumenta enquanto a lua fica cada vez mais avermelhada. Nada se compara a ver esses fenômenos, até simplesmente uma chuva de meteoros me deixa estonteante.
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Redenção
FanfictionDiana O'connor é uma astrofísica que vive em Manhattan aprisionada pela rotina, sua única paixão é direcionada ao universo, planetas e constelações. Na madrugada de seu aniversário ocorre um alinhamento do Sol, Marte e a Lua o fenômeno que chamamos...