De cara com a morte

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Acordei em desespero com mais um de meus pesadelos. Agarrei os lençóis da cama com toda a força. O travesseiro caiu para o lado num piso de madeira. Olhei em volta tentando concentrar minha respiração e me acalmar. Onde estou? E por que havia acordado em um quarto estranho? 

Puxei os lençóis brancos que me envolviam. Observei meu corpo nu. Algumas manchas roxas me assustaram. O movimento brusco fez meu ombro doer. Um gemido de dor involuntário saiu de minha boca. Minha cabeça pesava como se estivesse dormindo por dias. Observei meu ombro, e fiquei surpresa ao ver a queimadura quase curada. Por quantos dias tinha ficado inconsciente?

Suspirei. Passei a mão em meu rosto puxando os cachos grossos nas pontas de meu cabelo. O suor colava os fios em meu pescoço, o que incomodava um pouco. Precisava sair daquele quarto escuro, quente e pequeno. O sono ainda tentava me levar de volta, então com um pouco de dificuldade me sentei na cama, apoiando as costas no travesseiro fofo. 

Os pesadelos que me acordaram não são como os outros que me atormentavam desde da morte de meus pais. Esses são piores, muito piores. Envolviam especificamente um dragão enorme, onde sua cauda derrubava as árvores cheias de gelo de Niflheim, enquanto ele cuspia bolas incandescentes de fogo. Eu corria para proteger minha vida dentro de um estúpido vestido de cetim. O gelo e o fogo tentavam me matar incessantemente. 

E aí, quando finalmente encontrava um abrigo no meio de tantas árvores caídas e destruídas. Quando achava que o pesadelo deixaria de me torturar, Loki aparecia com sua armadura dourada e o elmo cobrindo o rosto, mas não os olhos cheios de ódio. Sua espada empunhada para mim, que sempre me encontrava totalmente desarmada. E assim ele desferias golpes, enquanto eu tentava me esquivar, sem sucesso algum, por dentro da floresta.

Só acordava quando, infelizmente, Loki me alcançava já esgotada e lavada em meu próprio sangue. Seus olhos sem misericórdia me fitavam como se nem me conhecessem. O dragão a suas costas em seu tamanho imensurável me fitando da mesma maneira. Loki dizia algumas palavras em sua língua nórdica, e cravava sua espada em meu abdômen. Claro que eu queria reagir, mas não conseguia me mexer no pesadelo, apenas deixava ele fazer o trabalho como um cordeiro mudo prestes a ser abatido.

A ardência do ferimento ilusório me trazia a tona com um grito de desespero, e dor. Porém nas outras vezes que havia acordado me encontrava num vazio escuro, vozes e mais vozes faziam uma oração estranha. A dor me carregava de volta para o sono, e respectivamente ao pesadelo que não conseguia me livrar até agora. 

Observei o quarto novamente. Minha respiração sendo o único som presente. Levantei da cama soltando um silvo de dor em minha panturrilha. A porta de mogno encostada deixava uma pequena fresta de luz do que havia lá fora. Me aproximei tentando ouvir a canção baixa do lado de fora. Adoraria ter uma roupa para poder sair e finalmente saber onde estou.

O barulho de passos me fez pular de susto, a canção baixinha cessou. Me apressei para chegar a cama e me enrolei no lençol para que pudesse cobrir meu corpo nu. Escondi o rosto entre o lençol e o travesseiro, porém ainda tinha visão de quem entrava pela porta de mogno. 

Loki colocou a cabeça para dentro do quarto me observando. Um vinco em sua testa. Um toque de preocupação em seus olhos enquanto me observava enrolada no lençol da cama. Apesar de lá no fundo, saber que ele não me faria mal, o medo ainda continua aprisionado em meu coração. O medo de que ele possa me trair, me enganar, e me machucar é mais forte neste momento do que meu sentimento por ele.

Ao perceber que ''ainda dormia'', Loki saiu do quarto me deixando sozinha novamente. Soltei a respiração, que na verdade nem sabia que estava segurando. Fechei os olhos tentando dormir e tirar o peso de minhas costas. Minha garganta com uma ardência esquisita. A incessante vontade de chorar.

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