Capítulo 4

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Lua *P.o.V*

Passado algum tempo alguém bate  na porta. Abri e o Dante está parado sem o uniforme e com os cabelos levemente desarrumados.

- O que ele está fazendo aqui?

- Eu achei que fosse bom ter uma nova amizade- Disse piscando- Vou esquentar a comida.

Dei de ombros e voltei a deitar no sofá.

- O que você cozinhou? Miojo?

Revirei os olhos e respondi:

- Fiz lasanha, salmão na grelha e arroz carreteiro.

Ele olhou surpreso e perguntou:

- Você fez ou comprou pronto?

- Você viu algum entregador entrando aqui?

Ele negou e eu deitei virada pro outro lado.

- Você é muito idiota.- Eu disse por fim.

- Desculpa, você se veste como se fosse alguém que não é.

- Desculpa, se uma roupa dita quem você é.

- Ata, como se você fosse à praia com roupas de esqui ou para uma Igreja da biquíni.

- O problema não é com o estilo da roupa, é com a cor. Você é banal, preconceituoso, bizarro.

- Quer parar de me chamar dessas coisas?

- Quer parar de me tratar como se eu fosse uma coisa que não sou?

- É difícil olhar pra você diferente.

- Porque?

- Porque você não é diferente, você é como as outras, metidas, riquinhas e esnobes.

- Descobri porque você não namora.

Ele me olhou furioso e eu o olhei com o mesmo olhar.

- DANTE, VEM POR SEU PRATO.- Drica gritou da cozinha.

- Vamos ver por quanto tempo eu fico sem namorar.

Depois sou eu que sou mimada. O Dante me tira do sério.

...

- Já pensou em ir pra faculdade? Estudar é necessário sabia?- Perguntei ao Dante pra quebrar o silêncio constrangedor que pairava no ar.

- Já, mas não faz o meu tipo. Prefiro trabalhar e aproveitar minha herança.

- Que herança?- Drica perguntou sem tirar os olhos da refeição.

- Vocês não sabem? Quando meu pai morreu, ele deixou pra mim os cinco hotéis e pra minha tia Bruna- a atual sindica- ele deixou a casa.

- Porque ela mora aqui ainda?

- Porque ela gosta daqui, era do meu avô. Por isso é tão antigo, ela cresceu aqui e não quer sair.

- Você só tem ela de tia?

- Não, tem a que me criou quando meus pais morreram, o nome dela é Gisele. Porém ela nunca vem aqui, meu pai não deixou nada pra ela porque ela já é bem estabilizada financeiramente, ao contrário da tia Bruna.

- Entendi, você é órfão. Seu pai te deixou uma rede de hotéis, e uma casa pra sua tia Bruna mas não deixou nada pra sua tia Gisele, que cuidou de você, porque ela já era estabilizada financeiramente.

- Exatamente.

- Que estranho... - Drica disse e deu de ombros-.

- Lavem os pratos quando acabarem.- Disse me levantando e indo pro quarto.

...

Não estava conseguindo dormir com o barulho dos pratos se chocando, levantei e fui até a cozinha...

- É pra lavar e não quebrar... Dante!? Cadê a Drica?

- Foi embora, disse que amanhã tem que levantar cedo pra ir pro emprego e não estava conseguindo entrar em contato com a mãe pra ver se podia dormir aqui, aí ela foi pra não perder o último ônibus.

- E me deixou sozinha com um estranho?

- Nos vemos todos os dias.

- Não quer dizer que nos conhecemos.

- Claro que não, mas você sabe que eu não sou um psicopata.

- Nunca se sabe.

Disse rindo, ajudei ele a guardar tudo e então ele foi embora. Me joguei no sofá e vi o celular dele.

Eu até podia ir atrás dele mas vou deixar ele sentir falta, amanhã talvez eu entregue.

...

Acordei, coloquei um short jeans de cintura alta, uma blusa azul com detalhes rosa, uma jaqueta rosa e um coturno preto. No cabelo eu não fiz nada além de pentear.

Abri a porta sorridente, mas aí um som estranho começou a ecoar dentro do meu apartamento e eu lembrei que estava com o celular do Dante, entrei novamente, desliguei o despertador e guardei o celular na minha bolsa.

...

O outro porteiro estava lá ainda, o que significa que o Dante não vem trabalhar hoje ou ainda não chegou.

Fitei a porta com estranheza esperando que ele viesse abrir mas ele não está aqui. Onde foi que ele se meteu?

O celular começou a tocar novamente e então eu entendi porque ele não está aqui... Ele não acordou obviamente. O despertador dele é o celular! E o celular dele está comigo.

Subi novamente e quando vi já havia batido freneticamente na porta do apartamento dele. Anos morando aqui, eu sei o apartamento da maioria dos moradores.

Ele abriu com uma cara de sono muito bonitinha e me olhou se cima pra baixo.

- O que você quer aqui no meio da madrugada?

- Acredito que não estamos no meio da madrugada. Você esqueceu isso ontem lá em casa.- Disse estendendo o celular pra ele.

Ele me olhou assustado e pediu pra eu e entrar, fiquei um pouco relutante mas entrei. É muito limpo e organizado, nunca pensei que ele fosse tão cuidadoso.

Tinha uns quadros abstratos em cada cômodo (eu só fui em dois até agora) e os tons são bem alegres, isso me surpreendeu muito.

- Tá olhando o que?- Ele apareceu na sala sem camisa e com os cabelos desgrenhados.

- Eu?

- Tem mais alguém aqui?

Não respondi nenhuma das duas perguntas e ele voltou pra onde tinha saído.

Minutos depois ele apareceu já com o uniforme e fez um sinal pra descermos.

- Eu nunca imaginei que seu apartamento fosse tão... tão contagiante.

- Pensou que fosse como?

Ele perguntou distraído.

- Sei lá, só não imaginava tantas cores, quadros... É bem inspirador.

- Então você também julga as pessoas precipitadamente?

- Não é bem isso...

Não continuei porque não sabia o que dizer e ele riu tão naturalmente,  o sorriso é tão fácil no rosto dele. Tão natural, bonito, transparente... Contagiante!

Hipocrisia Cor de RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora