Minha certeza

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Mary traga o seu guarda-chuva. O sol brilha nesse lindo, lindo dia. Mas as cinzas caindo eternamente. Vão deixar o seu cabelo cinza. Mary mantenha os seus remos estáveis. Navegando nessa crescente enxurrada. Mantenha as suas velas prontas. Marés vermelhas não podem ser diferenciadas de sangue. — Senhorita Mary (uma cantiga comum de crianças, dos tempos da blitz), de Adoleta e Além: Uma História da Brincadeira.

As luzes da guarita são aspiradas para longe todas de uma vez como se tivessem sido fechadas atrás de um grande cofre. Árvores se fecham sobre nós, folhas e arbustos me pressionam de todos os lados, roçando no meu rosto, queixo e ombros como milhares de mãos obscuras, e ao meu redor uma cacofonia estranha começa, de coisas vibrando, corujas piando e animais lutando na vegetação rasteira. O ar cheira densamente a flores e vida que parece ter textura, como uma cortina que você pudesse afastar. É negro como azeviche. Eu não consigo nem ver Lauren na minha frente agora, só consigo sentir a sua mão na minha, puxando. Eu acho que estou até mais aterrorizada agora do que eu estava quando fazia a travessia e puxo a mão de Lauren, querendo que ela me entenda e pare.

- Um pouco mais longe. - Vem a sua voz, da escuridão na minha frente.

Ela me puxa para frente. Nós vamos lentamente, embora eu ouça galhos estalando e o sussurro dos galhos de uma árvore, eu sei que Lauren está sentindo o seu caminho, tentando abrir um caminho para nós. Parece que nós nos movemos por algumas polegadas, mas é incrível com o quão rápido nós perdemos o sinal da fronteira e de tudo no outro lado dela, como se eles nunca tivessem existido. Atrás de mim há escuridão. É como estar enterrada.

- Lauren... - Eu começo a dizer. Minha voz sai estranha e soa estrangulada.

- Pare. - Ela diz. - Espere. - Ela solta a minha mão, e eu solto um pequeno guincho sem querer. Então as suas mãos estão hesitantes nos meus braços, e a sua boca colide com meu nariz quando ela me beija. - Está tudo bem. - Ela diz. Ela está falando quase no volume normal agora, então eu imagino que nós estamos a salvo. - Eu não vou a lugar nenhum. Eu só tenho que achar essa maldita lanterna, tudo bem?

- É, tudo bem. - Eu luto para respirar normalmente, me sentindo estúpida. Eu me pergunto se Lauren se arrepende de me trazer aqui. Eu não tenho sido exatamente a Senhorita Corajosa. Como se ela pudesse ler a minha mente, Lauren me dá um beijinho, dessa vez perto da curva dos meus lábios. Eu acho que seus olhos também não se ajustaram a escuridão também.

- Você está indo muito bem. - Ela diz. E então eu a ouço colidindo com os galhos a nossa volta, murmurando pequenas maldições sob seu fôlego, um monólogo que eu não entendo muito bem. Um minuto depois ela solta um ganido animado, e um segundo depois disso um amplo feixe de luz surge, iluminando a densa vegetação ao nosso redor. - Achei! - Lauren diz, sorrindo, mostrando a lanterna para mim. Ela direciona a luz para uma caixa de ferramentas enferrujada meio-enterrada no chão. - Nós deixamos isso aí, para os que atravessam. - Ela explica. - Pronta? - Eu assinto.

Eu me sinto muito melhor agora que nós conseguimos ver o que acontece a nossa volta. Os galhos acima de nós formam um dossel que me lembra o teto abobadado da Catedral de São Paulo onde eu costumava me sentar na catequese para ouvir as leituras sobre átomos, probabilidades e a ordem divina. As folhas sussurram e balançam ao nosso redor, um padrão em constante mudança de verde e negro, dançam enquanto incontáveis coisas invisíveis correm e pulam de galho em galho. De vez em quando a lanterna de Lauren reflete por um breve segundo num par de olhos brilhantes, os quais nos assistem solenemente de dentro da massa de folhagem antes de desaparecer mais uma vez na escuridão. É incrível. Eu nunca vi nada como isso — toda essa vida em todos os lugares, crescendo, como se expandisse a cada segundo, e eu realmente não posso explicar, mas me faz sentir pequena e meio boba, como se eu estivesse invadindo a propriedade de alguém muito mais velho e mais importante que eu. Lauren anda mais seguramente agora, ocasionalmente tirando um galho fora do caminho para que eu possa passar por baixo dele, ou esmagando os galhos bloqueando nosso caminho; mas nós não estamos seguindo nenhum caminho que eu possa ver, e depois de quinze minutos eu começo a temer que estejamos somente virando em círculos, ou indo cada vez mais e mais fundo dentro do bosque sem um destino certo. Eu estou a ponto de perguntar a ela como ela sabe onde nós estamos indo quando noto que de vez em quando ela hesita e passa a sua lanterna por cima dos três troncos que nos rodeiam como altas silhuetas fantasmagóricas. Algumas delas, eu vejo, são marcadas com uma faixa de tinta azul.

My Only DeliriumOnde histórias criam vida. Descubra agora