Mom?

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Ex rememdium, salus. "Da cura, salvação."

Por algum milagre, eu devo ter passado uma impressão boa o bastante a Brian e a Sra. Scharff para satisfazer Clara, embora eu mal tenha falado durante o restante da visita (isso porque eu mal conseguia falar). Já é o meio da tarde quando eles se vão e Clara insiste para que eu a ajude em mais algumas tarefas e me faz ficar para o jantar — cada minuto que eu não posso correr para Lauren é uma agonia, sessenta segundos de pura tortura — ela me promete que eu posso sair para uma caminhada quando eu terminar de comer, antes do toque de recolher. Eu aspiro meu feijão cozido e filé de peixe congelado tão rápido que quase vomito, e praticamente sento pulando na minha cadeira até que ela me deixa ir. Ela até me livra da função de lavar louça, mas eu estou muito brava com ela por me prender em primeiro lugar, para me sentir agradecida.

Eu vou para a Rua Brooks 37 primeiro. Eu realmente não acho que ela estará esperando por mim, mas estou esperando por isso de qualquer forma. Mas os quartos estão vazios, o jardim também. Eu devo estar meio delirante nesse ponto porque eu confiro atrás das árvores e arbustos, como se ela pudesse de repente aparecer, como ela costumava fazer a algumas semanas, quando ela, Dinah e eu iríamos jogar nossos jogos épicos de esconde-esconde. Só pensar sobre isso trás uma dor aguda no meu peito. Menos de um mês atrás todo Agosto se estendia ante nós — longo, dourado e tranquilizador, como um período sem fim de um sono delicioso.

Bem, agora eu acordei. Eu ando pela casa. Ver todas nossas coisas dispersas na sala de estar — cobertores, algumas revistas e livros, uma caixa de biscoitos e algumas latas de refrigerante, jogos antigos de tabuleiro, incluindo um jogo meio-completo de Scrabble, abandonado quando Dinah começou a fazer palavras como quozz e yregg — me faz sentir esmagadoramente triste, e lembra-me aquela única casa que sobreviveu a blitz, e a rua destruída e bombardeada: um lugar onde todos fizeram coisas estupidamente cotidianas, até o momento do desastre, e mais tarde todos disseram, "Como eles poderiam não saber que estava vindo?"

Estúpido, estúpido — ser tão descuidada com o nosso tempo, acreditar que nós tínhamos tanto do que foi deixado. Eu ando pelas ruas, frenética e desesperada agora, mas incerta do que fazer a seguir. Ela mencionou para mim uma vez que ela vivia na Forsyth — uma longa fileira de edifícios cinzentos, propriedade da universidade — então eu segui aquele caminho. Mas todos os prédios parecem os mesmos. Deve haver dúzias deles, centenas de apartamentos individuais. Eu estou tentada a ir a cada um deles até que o ache, mas aquilo seria suicídio. Depois de um casal de estudantes me dar um olhar suspeito — eu tenho certeza que pareço um desastre, face vermelha e olhos selvagens, quase histérica — eu mergulho numa rua secundária. Para me acalmar eu começo a recitar orações elementares:

- "H é para hidrogênio, o peso de um; quando a divisão da fissura, tão brilhante, tão quente quanto qualquer sol..."

Eu estou tão distraída voltando para casa que eu me perco num emaranhado de ruas se distanciando do campus da UP. Eu acabo numa rua estreita de mão-única que eu nunca vi antes e eu tenho que voltar para a Monument Square. O Governador está parado lá como sempre, sua palma vazia estendida, parecendo triste e desamparado na luz desbotada da tarde, como se ele fosse um mendigo, para sempre condenado a pedir esmolas. Mas vê-lo me dá uma ideia. Eu procuro no fundo da minha bolsa um pequeno pedaço de papel, e escrevo "Deixe-me explicar, por favor. Meia noite na casa 8/17".Em seguida, depois de verificar para ter certeza de que ninguém me observava de uma das poucas janelas iluminadas restantes que negligenciavam a rua, eu saltei para a base da estátua e coloquei o bilhete na pequena cavidade no punho do governador. A chance de Lauren verificar ali é de uma em um milhão. Mas mesmo assim, há uma chance.

Naquela noite, eu estou saindo do quarto, eu ouço um ruído atrás de mim. Quando me viro, Marielle está sentada na cama novamente, piscando para mim, seus olhos tão reflexivos quanto os de um animal. Eu coloco meu dedo nos meus lábios. Ela faz a mesma coisa, uma mímica inconsciente, e eu deslizo pela porta. Quando eu estou na rua, olho para a janela uma vez. Por um segundo eu acho que vejo Marielle olhando para mim, seu rosto tão pálido quanto a lua. Mas talvez seja só um truque das sombras patinando silenciosamente sobre o lado da casa. Quando eu olho novamente, ela se foi.

My Only DeliriumOnde histórias criam vida. Descubra agora