Stories

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Infelicidade é servidão; enquanto, felicidade é liberdade. O caminho para encontrar a felicidade é através da cura. Portanto, é apenas através da cura que você encontra a liberdade. — De, Vai Doer? Perguntas Comuns e Respostas sobre o Procedimento, 9ª edição, Associação de Cientistas Americanos, Panfleto da Agência Governamental Oficial do EUA

Depois disso, encontro um jeito de ver Lauren quase todos os dias, mesmo nos dias em que tenho de trabalhar na loja. Algumas vezes, Dinah vem passar um tempo conosco. Nós passamos bastante tempo em Back Cove, na maioria das vezes durante a noite, depois que todos já saíram. Desde que Lauren está na lista dos curados, não é tecnicamente ilegal para nós passarmos um tempo juntos, mas se alguém souber quanto tempo nós passamos juntos — ou nos ver rindo e bebendo, e tendo lutas aquáticas ou corridas descendo o pântano — eles definitivamente suspeitarão. Então, quando andamos pela cidade, temos o cuidado de ficarmos separados, Dinah e eu em uma calçada, Lauren na outra. Além do mais, nós procuramos pelas ruas vazias, os parques de corrida, as casas abandonadas — lugares onde nós não seremos vistos.

Nós voltamos para as casas em Deering Highlands. Finalmente entendo como Lauren sabia como achar o galpão durante o ataque noturno, e como ela andava pelos corredores tão facilmente na escuridão. Por anos ela passou algumas noites por mês usurpando as casas abandonadas; ela gosta de tirar uma folga do barulho e da agitação de Portland. Ela não diz, mas eu sei que fazer isso deve lembrá-la das Terras Selvagens. Uma casa em particular se torna a nossa favorita: número 37 na rua Brook, uma velha casa colonial que costumava ser o lar de uma família de simpatizantes. Como muitas outras casas em Deering Highlands, a propriedade foi fechada e cercada desde a grande descoberta que esvaziou a área, mas Lauren nos mostra um caminho para entrar através de uma tábua frouxa em uma das janelas do primeiro andar. É estranho: embora o lugar tenha sido saqueado, algumas grandes mobílias e alguns livros ainda estão aqui, e se não fosse pela fumaça crepitada nas paredes e no teto, você poderia esperar que os donos viessem para casa a qualquer momento. Na primeira vez que vamos lá, Dinah anda à nossa frente gritando: "Olá! Olá!" nos quartos sombrios. Tenho calafrios na repentina escuridão e frieza. Depois do ofuscante pôr do sol do lado de fora, isso vem como um choque. Lauren me aproxima dela. Estou finalmente me acostumando a deixá-la me tocar, e não recuo nem sinto chicotadas no ombro cada vez que ela se aproxima para um beijo.

- Quer dançar? - Ela pergunta.

- Até parece. - Dou um tapa para ela se afastar. É estranho falar alto em um lugar tão quieto. A voz de Dinah volta para nós, soando distante, e me pergunto quão grande a casa é, quantos quartos há, todos cobertos pela mesma camada espessa de poeira, todos mergulhados na escuridão.

- Estou falando sério. - Ela diz e ergue os braços. - É o lugar perfeito para isso.

Nós estamos paradas no meio do que deve ter sido uma bela sala de visitas. É enorme — maior que todo o piso térreo do apartamento de Clara e William. O teto se estende na escuridão e um lustre gigantesco está preso bem acima de nós, piscando estupidamente nos limitados feixes de luz que entram através de frestas nas janelas. Se você escutar bem, pode ouvir um rato se movendo quietamente nas paredes. Mas de
algum modo isso não é nojento nem assustador. De algum modo é bom, e me faz pensar em bosques e intermináveis ciclos de crescimento, morte e renascimento — como se o que nós realmente estamos ouvindo fosse a casa se dobrando embaixo de nós, centímetro por centímetro.

- Não tem música. - Eu digo.

Ela dá de ombros, pisca e segura as minhas mãos.

- Música é superestimada. - Ela diz.

A deixo me puxar para perto dela, então juntamos nossos peitos. Lauren tem a mesma altura que eu, mas por ela estar usando um salto gigante minha cabeça mal alcança seu ombro, e posso sentir seu coração batendo através do peito, e isso nos dá todo o ritmo que precisamos. A melhor parte da rua Brook, 37, é o jardim na parte de trás. Um enorme gramado crescido passa por árvores antigas, tão densas, retorcidas e cheias de nós que seus braços se enlaçam sobre nossas cabeças e formam um dossel. A luz do sol infiltra-se através das fendas entre as árvores e forma manchas pálidas sobre a grama. Todo o jardim parece tão frio e quieto quanto a biblioteca da escola. Lauren traz um cobertor e o deixa dentro da casa.

My Only DeliriumOnde histórias criam vida. Descubra agora