Eu não entendo tudo isso, somente pedaços de imagens, sentenças que parecem meio terminadas, tudo flutuando junto como fitas coloridas ao vento. Isso me lembra, eu noto, da música que me deixou muda há quase um mês atrás na fazenda. Isso tem o mesmo efeito, e me faz alegre e triste ao mesmo tempo. Lauren termina de ler. Quando eu abro meus olhos, ela está me encarando.
- O quê? - Eu pergunto.
A intensidade do seu olhar quase tira o meu fôlego, embora ela esteja olhando direto para mim. Ela não me responde diretamente. Ela pula algumas páginas no livro, mas ela não olha para baixo. Ela continua com seus olhos em mim o tempo todo.
- Você quer ouvir um poema diferente? - Ela não me espera responder antes de começar a recitar. - "Como eu vos amo? Deixe-me contar as maneiras." - Há essa palavra de novo: amor. Meu coração para quando ela diz isso, então gagueja num ritmo frenético. - "Eu vos amo até a profundidade e a largura e a altura que minha alma pode alcançar, quando se sente fora de alcance." - Eu sei que ela só está falando as palavras de outra pessoa, mas elas parecem vir dela de qualquer maneira. Seus olhos estão dançando com a luz; em cada um eu vejo um ponto brilhante da luz de vela refletida. Ela dá um passo para frente e beija a minha testa suavemente. - "Eu vos amo ao nível da mais simples necessidade cotidiana..." É como se o chão estivesse balançando, como se eu estivesse caindo.
- Lauren... - Eu começo a dizer, mas as palavras ficam enroladas na minha garganta. Ela beija o meu maxilar, um beijo delicioso deslizante, mal roçando a minha pele.
- Eu vos amo livremente...
- Lauren. - Eu falo, um pouco mais alto. Meu coração está batendo tão rápido que eu tenho medo que ele exploda contra minhas costelas. Ela se afasta e me dá um sorriso, um sorriso torto.
- Elizabeth Barrett Browning. - Ela diz, então delineia um dedo pelo meu nariz. - Você não gostou? - O modo como ela me pergunta, tão alto e seriamente, ainda olhando nos meus olhos, me faz sentir como se ela estivesse na verdade perguntando outra coisa.
- Não. Eu quero dizer, sim. Digo, eu gosto, mas... - A verdade é, eu não tenho certeza do que eu quero dizer. Eu não posso pensar ou falar claramente.
Uma única palavra está girando dentro de mim — uma tempestade, um furacão — e eu tenho que apertar meus lábios juntos para impedi-la de inchar a minha língua e abrir seu caminho para fora. Amor, amor, amor, amor. Uma palavra que eu nunca pronunciei, para ninguém, uma palavra que eu nunca me permiti pensar.
- Você não precisa explicar. - Lauren dá outro passo para trás.
De novo eu tenho a impressão, confusamente, que nós estamos falando sobre outra coisa. Eu a desapontei de alguma forma. O que quer que tenha passado entre nós — e alguma coisa passou, até mesmo que eu não tenha certeza do que ou como ou porquê — a deixou triste. Eu consigo ver nos seus olhos, mesmo que ela ainda esteja sorrindo, e isso me faz querer pedir desculpas, ou jogar meus braços em volta dela e pedir para ela me beijar. Mas eu ainda tenho medo de abrir minha boca — com medo da palavra que sairá, e aterrorizada com o que vem depois.
- Venha aqui. - Lauren abaixa o livro e me oferece sua mão. - Eu quero te mostrar algo. - Ela me direciona a cama, e novamente uma onda de timidez toma conta de mim. Eu não tenho certeza do que ela espera, e quando ela senta, eu fico para trás me sentindo autoconsciente. - Está tudo bem, Camz. - Ela diz. Como sempre, ouvi-la me chamar de Camz me acalma. Ela vai para trás na cama e se deita de costas e eu faço o mesmo, então nós estamos lado a lado. A cama é estreita. Há somente o bastante para nós duas. - Vê? - Lauren diz, inclinando seu queixo para cima.
Acima de nossas cabeças, as estrelas queimam e brilham e cintilam: milhares e milhares delas, tantas que parecem como flocos de neve rodopiando na escuridão. Eu não posso evitar; eu suspiro. Eu não acho que tenha visto tantas estrelas na minha vida. O céu parece tão próximo – amarrado esticadamente acima das nossas cabeças, além do trailer sem teto — era como se nós estivéssemos caindo dentro dele, como se nós pudéssemos pular para fora da cama e o céu fosse nos pegar, nos segurar, nos jogar como um trampolim.
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My Only Delirium
Teen Fiction"Ouvi muitas vezes que quando eu fosse curada do amor ficaria feliz e em segurança para sempre. Eu acreditava nisso. Antes. Agora tudo mudou, e posso dizer que hoje prefiro sofrer de amor por um único milésimo de segundo à viver cem anos reprimida p...